Hélio Nascimento: À moda antiga
Fascinado por cinema, aderiu rápido à tecnologia do DVD. Já o computador Hélio dispensa. Prefere a boa e velha máquina de escrever.
À exceção de uma experiência em banco - "como todo brasileiro, quando se é guri" -, o jornalista Hélio Nascimento sempre atuou
N
Hélio gostava de cinema. "Isso começa muito cedo, quando parentes nos levam para ver um filme, um desenho animado ou seriados, que tinham naquele tempo. Aí, começa o interesse pela imagem em movimento e pela vida também, porque no cinema a vida aparece", divaga. O cinema, portanto, virou assunto recorrente entre ele e seus amigos. "Não só trocávamos idéias, como discutíamos sobre os filmes", lembra. Em 1960, exercia suas funções administrativas no Jornal do Comércio e, de vez em quando, escrevia uma crítica para alguma publicação. Foi quando o publicitário Moraes de Oliveira precisou deixar a redação do JC e convidou o jovem para substituí-lo na coluna de crítica cinematográfica.
Seu primeiro texto oficial como crítico do Jornal do Comércio foi publicado em 1961. Depois disso, não parou mais de escrever, sempre na área de cultura. Hélio chegou a ser editor do caderno cultural do veículo e criou o nome que o encarte leva até hoje: Panorama. Após se aposentar no JC, o jornalista atuou por cerca de dois anos
À máquina
Está no JC até hoje, escrevendo semanalmente sobre os filmes que entram em cartaz na Capital. "Procuro ir só nos filmes que realmente me interessam, mas vendo um filme por semana, dá para acompanhar muita coisa. Sempre há algo interessante, mesmo que não seja bom, porque até filme ruim reflete alguma coisa", pondera. Hélio vive com a mulher, Ilce, ex-professora de balé com quem é casado há 20 anos, na Avenida Independência, e prefere ir às salas do Moinhos Shopping e da Casa de Cultura Mario Quintana, pela proximidade, e do Unibanco Artplex, que "é longe, mas pego uma lotação aqui na frente e ela me deixa praticamente lá dentro".
Já que locomoção não é um problema para o colunista, ele sempre leva, pessoalmente, seus textos à redação. Não apenas pelo passeio, mas porque Hélio não usa computador e não aderiu ao correio eletrônico: "Eu escrevo na máquina, entrego lá e eles digitam. Ainda tô na fase de namoro com a internet", confessa. "Outro dia, uma das minhas máquinas estragou e levei para consertar. O sujeito me falou que sempre haverá as máquinas e quem as conserte, porque as firmas precisam para datilografar documentos. Claro que não como antes, mas para certas necessidades básicas é bom ter uma máquina. Pelo menos, bem escondida", brinca.
Esgotando os DVDs
Nas horas de lazer, gosta de música e leitura: "Cinema eu não sei se é lazer ou trabalho", reflete. Também costuma viajar a São Paulo para visitar a filha Letícia, 34 anos, jornalista que deu um tempo na profissão para se dedicar à maternidade, e a neta, Rosa, de apenas um ano e quatro meses. Letícia está grávida e aguarda outra menina. No esporte, gostava de acompanhar o turfe, quando era no Parcão, e também assiste ao futebol, mas no Pay-Per-View. "Nos jogos não dá para ir, é complicado, eu não dirijo? Dirigi por uns três ou quatro dias e desisti", revela. Ainda pela TV por assinatura, vê os filmes antigos, "mas eles vão se esgotando". Ainda restam os DVDs: "Me concentrei nos DVDs agora. O vídeo que era uma porcaria, nunca gostei. Claro que o DVD também não tem a amplidão do cinema, mas tem qualidade de imagem e som", compara. "Eu comprava um DVD por semana e, de repente, não tinha mais o que comprar", observa. Sua coleção deve estar por volta dos 150 títulos.
Hélio é também um atento crítico do Jornalismo e do esvaziamento da cultura nos ensinos básico e superior. Critica releases mal-escritos e com informações que não foram bem checadas. Sem falar na prática - muito comum - de enviar fotos de cantoras líricas completamente desatualizadas para as redações. Mas nessa questão, prefere não se aprofundar: "Seria falar mal de colegas", acredita. Limita-se a falar da sua atuação e de seus planos para o futuro: "Continuar escrevendo já é um plano", diz. "Enquanto tiver saúde e não estiver dizendo loucuras, sigo trabalhando. Essa história de velhice é só um fator biológico, depende muito do cérebro da pessoa, de como encaramos a vida. Não pretendo parar, a não ser que não me queiram mais", avisa.
