Indaiá Dillenburg: Superlativa

Jornalista reconhecida pela atuação com Comunicação política relembra os bastidores de trajetória, alicerçada em ousadia e iniciativa

Indaiá Dillenburg - César Lopes

A intensidade da menina que fugia para tomar banho de chuva escondida dos pais no antigo Beco do Carvalho, em Porto Alegre, ainda pode ser vista no sorriso, nos gestos e na empolgação em cada frase dita por Indaiá Soares Dillenburg. Provavelmente, as mesmas características foram vistas pelo prefeito da Capital, Sebastião Melo, e pela primeira-dama, Valéria Leopoldino, que lhe confiaram a Comunicação da Secretaria Municipal de Governança, e por tantos outros gestores que apostaram na filha do seu Bartholomeu e da dona Maria Theresa, para apresentar ao mundo seus trabalhos e produtos.

O interesse pelo Jornalismo surgiu no antigo Segundo Grau e, logo no início da faculdade na Famecos (PUCRS), veio o primeiro estágio. Conquistar seu espaço no mercado de trabalho não foi o mais difícil na jornada. Afinal, ser a sétima entre 14 irmãos já havia sido uma lição e tanto de convivência e da própria personalidade, cheia de ousadia. A "moleca" na infância já explorava a criatividade e relembra com carinho do tempo compartilhado com os irmãos. "Tinha o quarto dos meninos e o das meninas. Era aquela loucura!", diverte-se com as memórias.

As verdadeiras dificuldades enfrentadas ao longo do crescimento e da carreira foram a dúvida da própria capacidade e a busca pelo que realmente traria satisfação. No trajeto, alguns percalços. Entre eles, recorda de uma entrevista com um secretário feita pela então jovem repórter da Band. Indaiá foi interrompida por um jornalista de outra emissora, que se posicionou de forma a aparecer no vídeo, atrapalhando o trabalho da colega. Da situação, na época resolvida pelo cinegrafista que a acompanhava, afirma guardar o aprendizado de não deixar mais de ser ousada: "Hoje, me imponho para tudo", destaca.

E Indaiá fala sério. Desde o início do relacionamento com o marido até sua vivência na Comunicação política foram desenhados por iniciativa e dedicação. Além, é claro, de muita organização. Na rotina, ela conta que é daquelas que acorda cedo e se programa para pegar sempre o mesmo ônibus. Morando no município vizinho à Capital, Viamão, a profissional não gosta de se atrasar e prefere até chegar adiantada nos compromissos. Até a alimentação é previamente pensada e o almoço é por conta do marido, que faz as marmitas do dia a dia.

São 30 anos de carreira - movidos a café, hábito já folclórico dos jornalistas. Cafeína e personalidade impulsionaram sua trajetória. A profissional criou o setor de rádio-escuta na Procuradoria Geral do Estado (PGE), durante o governo de Alceu Collares (1991-1995); escreveu livros; produziu shows e projetos musicais; assessorou a presidência estadual do PPS; e, entre outras atividades, comandou toda a Comunicação do Orçamento Participativo (OP), nos governos municipais de José Fogaça (2005-2010) e de José Fortunati (2010-2016).

"A arte salva"

Consideradas as três intensas décadas assessorando em política, a passagem de Indaiá pela produção musical pode ser chamada de meteórica. Foi durante um hiato da atuação na Comunicação Pública, após o governo de Fortunati, que as raízes artísticas se fizeram ouvidas e a jornalista se dedicou a desenvolver e divulgar projetos envolvendo o samba, visto que boa parte da família tem dotes musicais.

Uma das "estrelas" dos Oliveira Soares é a irmã Guaíra, que está entre os parceiros com quem Indaía atuou em iniciativas artísticas. Foi em projetos musicais com familiares e amigos que relembrou a infância e o amor pela música, revivendo o canto sempre afinado de dona Maria Teresa e os momentos em que seu Bartholomeu trazia para casa um novo vinil de MPB, compartilhando cultura com os filhos. "Lembro do pai dizendo assim, com um LP debaixo do braço: 'Vou apresentar para vocês o Alcides Gonçalves, o parceiro injustiçado do Lupicínio Rodrigues'".

"A arte salva", defende a jornalista. E é também a arte que entretém. Quando não está trabalhando, Indaiá consome trabalhos artísticos de diversos ramos, seja nas séries em família ou sozinha no cinema para desfrutar bem da própria interpretação que terá de cada filme. A música, obviamente, faz parte do lazer, desde o momento de organizar a casa, quando curte um som do 'Clube da Esquina', um samba ou uma nova canção que os próprios amigos mandem pelo WhatsApp, até shows de ídolos como Erasmo Carlos e o já falecido Belchior.

E foi com este cantor, inclusive, que a fã viveu também um dos primeiros momentos de inovação e ousadia na carreira. Ainda estagiária de produção no 'Papos e Pratos', atração de culinária e entrevistas da produtora Imagem Livre, 'à La Mais Você', conseguiu levar o primeiro artista nacional no programa: o compositor e intérprete da icônica 'Apenas um Rapaz Latino-Americano'. "Lembro até hoje que ele fez uma sopa de tofu, bem vegetariano. Foi incrível", rememora.

"Na vida, tudo converge"

A mesma ousadia que fez Indaiá conquistar grandes feitos na carreira foi o estopim para uma relação de mais de 30 anos. Após conhecer um colega de quartel do irmão Itamarati na formatura da Brigada Militar e o jovem esquecer um macacão na casa dela, agiu: "Fiz um bilhete: 'gostei de te conhecer. Não pudemos falar, mas, quem sabe a gente se encontra pra tomar um refri', porque eu não bebo", diverte-se. Uma noite inesquecível na 'Ovo de Colombo', tradicional danceteria da Capital entre as décadas de 1980 e 1990, fez Elton Dillenburg virar o "bofe" por quem ela ainda é apaixonada.

O encontro entre o casal, no entanto, não foi obra do acaso, acredita Indaiá: "Na vida, tudo converge". Foi Elton quem a apresentou para aquela que viria a ser sua primeira filha. Após o sonho da gravidez ser frustrado pela endometriose, passou a cogitar adoção. Porém, desde que conheceu a sobrinha do marido, de apenas quatro anos, sentiu-se conectada à menina. Ela se tornou a tia que levava no McDonald's, a que deu o primeiro sutiã... Até que, seis anos depois de problemas familiares fizeram com que abandonasse o posto de tia e assumisse o que mais desejava: o de mãe da Joice.

Indaiá gostou tanto da maternidade que adotou também Isadora, ainda bebê. Aos 17 anos, a caçula vive junto dos pais, enquanto Joice, com 36, construiu a própria família e os presenteou com o neto Benício, de 5 anos. Muito unidos, quando a jornalista não está trabalhando, jantam na casa da primogênita. Mas o quesito comida é quase um Gre-Nal: Elton e Isadora gostam de trabalhar nas panelas, ao passo que Indaiá e Joice preferem distância. A polarização, entretanto, fica na cozinha, pois, quando o assunto é futebol, os quatro são colorados.

"Me provocou, eu fui"

Segundo o dicionário, o termo superlativo é um adjetivo que exprime uma qualidade em um grau muito elevado. Ele traz intensidade ao discurso. E como ser intensa é com ela mesma, Indaiá não só se considera superlativa, como nomeou assim um site pessoal, criado para compartilhar vivências e escritas. Mal sabia a menina que sonhava em trabalhar com jornalismo impresso e acabou enveredando para outros caminhos, escrevendo apenas em seu blog, que o texto faria parte de sua história por meio da Literatura.

Foi por intermédio de um ex-colega de faculdade que chegou o convite para integrar a equipe de autoras da obra de crônicas 'DEZmioladas'. "Me provocou, eu fui", conta. A jornalista participou de duas edições do livro, compartilhando vivências, como o episódio em que foi recebida com macarrão instantâneo, bife de hambúrguer e café solúvel em visita a uma colega. Na hora, não conseguiu deixar de fazer graça da situação para a amiga. Agora, diverte-se ao garantir que, sempre que retorna, tem um cafezinho passado na hora.

Outras experiências e lições de vida também são compartilhadas por sua versão autora em 'Negras Palavras Gaúchas' e em 'Dueto', escrito em conjunto com o colega de profissão, chefe e amigo Flávio Dutra. No entanto, ela não pretende encerrar por aí e afirma que novas obras virão. Histórias para serem contadas não faltam para a assessora que já foi de Belo Horizonte até o Peru em momentos que recorda como de muita satisfação, compartilhando e absorvendo aprendizados sobre o Orçamento Participativo.

"A juventude me persegue. Sou uma guria", afirma a mulher cheia de energia que, aos 56 anos, ainda quer viajar mais, produzir mais, viver muito mais. Na próxima década, pretende se aposentar e passear descobrindo outros cantos do Brasil e do mundo. Ela planeja continuar aprendendo e exercitando a curiosidade, mas em vez de profissionalmente, irá fazer isso aproveitando a vida. Em suas próprias palavras e aos olhos e ouvidos de quem a conhece, Indaiá é aquela que leva como "marca registrada a felicidade, o sorriso e a gratidão pela vida". 

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