Iraguassú Farias: Sem medo de mudar

Bom humor, capacidade de adaptação e determinação fazem parte da personalidade de Iraguassu Farias

Farias - Divulgação

Mudar de rumo, encontrar novos caminhos para seguir nunca foram um problema para Iraguassú Farias. Contador e administrador formado pela PUC, diz não ter medo de fracassar ou recomeçar. Foi essa característica que o levou a deixar a carreira construída em uma instituição bancária para vivenciar diversas áreas, antes de chegar à Comunicação. Hoje, gerente Comercial da gráfica Nova Imagem, esclarece que nunca soube conviver com mais do mesmo. "Preciso ter desafios. Não os estabeleço, não predetermino, mas não vivo sem eles. Me adapto bem e posso dizer que nunca fui malsucedido por ser um desbravador de novas oportunidades", argumenta.

A trajetória profissional começou aos 17 anos, no Banco Meridional, onde atuou nas áreas de recursos humanos, crédito e econômica, antes de chegar ao posto de chefe do departamento de Marketing, sua primeira experiência na Comunicação. Da instituição financeira, saiu após 11 anos para integrar a Editora Plural, responsável pela revista Amanhã, entre outras publicações. Mas antes de fincar raízes na Comunicação ainda encarou incursões nas áreas de curtume, saúde, turismo - que considera um dos segmentos mais agradáveis para trabalhar e ao qual pretende voltar algum dia - e no setor calçadista.

Retornou à Comunicação em 2004, com a missão de desenvolver a área comercial da Box Multiresultados e a proposta de ser sócio no negócio. Depois de 10 anos, a parceria foi rompida, o que, segundo Farias, ocorreu a partir de desgaste na relação. Há cerca de oito meses, associou-se à Nova Imagem e agora alimenta o projeto de tornar a empresa uma das maiores do mercado. "Optei por permanecer nesse segmento, onde acumulei conhecimento e, especialmente, aquilo que reputo como o maior patrimônio para o profissional da área, o relacionamento", diz.

Farias acostumou-se a dizer que, "sem querer parecer presunçoso", foi presenteado com mais atributos intelectuais do que físicos. Em diferentes caminhos percorridos, teve reconhecida essa característica e em alguns momentos da carreira aliou a ela um toque de ousadia. Lembra que, certa vez, quando trabalhava na Curtume Vacchi, em Sapucaia do Sul, com poucos dias de empresa, precisou reunir-se com um investidor de origem belga com o objetivo de vender uma máquina avaliada em cerca de U$S 200 mil. Farias não falava inglês, o belga pouco arranhava o espanhol, ainda assim, o negócio foi fechado. "Esse insight, capacidade de me adaptar, achar caminhos é uma marca que posso dizer que carrego comigo."

Aprendizado ao lado

De origem simples, é o primogênito do radialista Paraguassu Farias e da dona de casa Maria Regina Bitencourt Farias, em uma família composta por mais três irmãos. Nascido em Novo Hamburgo, viveu ali até os 10 anos, antes de chegar à Capital. Entre as memórias da infância estão os tempos de estudante, as amizades de vizinhança e as tardes passadas no estúdio de rádio, acompanhando o pai no trabalho, entre estantes lotadas por LPs. "Meu pai me levava para o trabalho todos os dias. Algo que não é comum hoje. Não sei se deixavam ou se era algo que ele havia criado. É uma lembrança que guardo com bastante carinho."

Farias admite que a relação entre os dois nunca foi fácil e que, somente após a morte do pai, há cerca de um ano, passou a compreender melhor a contribuição dele em sua formação. Hoje, reconhece que não tinha dimensão da influência da figura paterna em sua vida, ao transmitir exemplos de honestidade, trabalho e força. "Quando caio, estou triste, incomodado, me deprimo, penso que não tenho esse direito - com tantos privilégios que recebi -, porque ele nunca teve tempo para se queixar da vida. Se sou fruto dele, com condições melhores, tenho que fazer tanto ou mais do que ele fez", reflete.

Também traz como fonte de inspiração nas atitudes do cotidiano Luis Octavio Vieira, ex-presidente do banco Meridional e da Fiergs, médico que virou economista e, depois, advogado. "É minha referência de inteligência sagaz, tirocínio rápido, visão de mundo. Esse é meu ídolo e, talvez, ele nem saiba o quanto", conta. Outro nome citado é Paulo Mendonça de Souza, personalidade que marcou o início de sua carreira no Meridional. Paulo era seu superior e tinha por costume rasgar o material que Farias datilografava, sempre que encontrava alguma rasura. Do episódio, repetido inúmeras vezes, veio a lição: "Não pode ter um erro, tem que sair perfeito ao final. Se não deu, comece de novo. Não faça pela metade, não entregue errado e não espere que aceitem algo que não esteja realmente bom".

A razão de tudo

Casado com a psicóloga Rosangela, diz que vive hoje uma rotina de adaptação. Isso porque os filhos Marcelo, de 30 anos, biólogo que trabalha como arte-finalista, e Márcia, 29, jornalista, com quem compartilharam o dia a dia desde os primeiros anos do casamento, saíram de casa para formar família. Juntos há 32 anos, Farias e Rosangela se encontraram pela primeira vez na década de 1970, quando participavam de uma atividade que reuniu grupos de jovens da Igreja católica. "Eu a conheci e decidi que iria casar com ela. Ela não concordou muito, não aceitou", brinca, acrescentando que foi preciso insistência para conquistá-la. "Sempre digo que essa foi minha maior conquista, tamanha é a admiração que tenho por ela."

Os filhos são o grande orgulho de Farias. É só ouvir um elogio à dupla para se sentir realizado. Em momentos assim, Farias tem certeza de que cumpriu o dever de pai e que construiu um bom legado. O mesmo vale para o relacionamento de três décadas com a esposa, já que muitas vezes são referência para amigos. "O elogio em relação à criação que demos aos nossos filhos é sempre especial. A realização de um pai é poder ver um pouco de si em cada um dos filhos", afirma.

O sentimento é recíproco, já que a filha, Márcia, também faz questão de expressar o orgulho do pai. "Há quem diga que somos muito parecidos, outros que somos exatamente iguais. Eu costumo dizer que somos um a extensão do outro", ela diz. E conta que o pai transmitiu valores como caráter, solidariedade e franqueza, muitas vezes sem ter dito palavra alguma, apenas com atitudes. "Sabe aquele papo de pai herói? Então, ele nunca vai ter fim. Somos companheiros, amigos, parceiros, mas somos, acima de qualquer laço, pai e filha, e isso ninguém vai nos tirar", define Márcia.

Também é a família que motiva muitas das ações de Farias. Com a esposa e os filhos, ele busca dividir experiências que considera especiais. Recorda que, a trabalho, pôde viajar a lugares e países ainda desconhecidos. Na capital francesa, por exemplo, o encanto foi tão grande que prometeu a si mesmo que um dia voltaria para percorrer a cidade-luz ao lado da família. "Tem coisa mais sem sentido que ir à Disney sem teus filhos? Pois eu fui, a trabalho, fui conhecer e meus filhos não puderam ir. Queria dividir isso com eles, queria que mais pessoas pudessem partilhar desse sonho." A promessa foi cumprida e agora está entre as memórias mais marcantes.

Ler, ouvir, torcer 

Acompanhar o noticiário, seja no rádio ou na televisão, é tarefa considerada obrigatória no dia a dia de Farias. Para espairecer, assistir a filmes ou a algum programa de TV também é algo que aprecia. Mas o lazer mesmo acontece nos fins de semana, quando costuma jogar futebol ou reunir amigos para um churrasco. Ele conta que há algum tempo, por meio das redes sociais, localizou e retomou a convivência com amigos que não via havia cerca de 30 anos. "Eu diria que, dentro desse grupo de oito pessoas, nunca falta opção. Os fins de semana nunca são vazios, entediantes", garante.

O estilo musical é bastante eclético, mas, entre as músicas favoritas, estão as dos anos 1970. As canções de contestação, que refletiam um período conturbado de ditadura militar em países da América do Sul, chamam sua atenção ainda hoje, pela riqueza de conteúdo em suas letras. Entre amigos, não é raro pegar o violão e recordar as músicas dessa época. Quando o assunto é literatura, se diz o "rei dos livros não terminados" e revela a preferência por obras de fundo histórico. Entre os lidos recentemente estão 'O Silêncio Das Montanhas', de Khaled Hosseini, e '1889', de Laurentino Gomes.

O bom humor e a ansiedade são características marcantes. A última, aliás, trabalha para controlar, por isso, procura não manter pendências, pois entende que ajudam a aumentar o nervosismo, que se traduz no consumo de cigarro, hábito que pretende abandonar. Colorado, diz que já foi um torcedor "chato", mas, hoje, assegura que já não sofre como antes. "Acho que todo mundo tem uma fase de muitas paixões, mas, mais do que ter, as alimenta", considera.

Para ser feliz

Como a própria carreira repleta de mudanças de rumo indica, Farias não é de fazer muitos planos a longo prazo, ainda assim espera daqui a 10 anos estar bem de saúde e, quem sabe, voltar à universidade para cursar História e um dia lecionar, ou experimentar a vida de avô. "Tenho a expectativa de que um dia venha a terceira geração e que eu possa cumprir esse tempo com muita sabedoria."

Conquistas financeiras definitivamente não são seus alvos. Farias crê que dinheiro só tem valor quando tem função social e não deve servir apenas para "acumular coisas". Compreende que foi criado pelos pais para ser feliz no que fazia, sustentar a si e aos seus, trabalhando com honestidade, seriedade e comprometimento. "As metas que tinha, familiares ou patrimoniais, já conquistei. Não preciso de muito para ser feliz, não", enfatiza.

A forma encontrada para explicar seu objetivo principal remete a um episódio da trajetória profissional, quando, ao pedir demissão, recebeu um pedido para que repensasse a decisão. Do presidente da empresa, ouviu que poucas pessoas eram capazes de reunir qualidades como inteligência, honestidade e trabalho. "Esse é meu propósito de vida. Se conseguir manter essas virtudes intactas, não me importa quantas casas vou ter", conclui.

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