José Nunes: Talento para liderar

Na presidência do Sindicato dos Jornalistas, José Nunes fala da entrega total à profissão e do amor que tem por ela

José Nunes - Reprodução

Por Márcia Farias

É na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e se deliciando com um chimarrão que o presidente da entidade, José Maria Rodrigues Nunes, recorda dos caminhos traçados antes de chegar ao cargo. Ele tem convicção em tudo o que faz e, mesmo enfrentando obstáculos, inclusive físicos, como a baixa estatura, e um certo ar de timidez, sabe o que quer e aonde deseja chegar. A característica de líder o acompanha desde os tempos escolares, quando integrava o Grêmio Estudantil da escola José Fernandes de Oliveira. Foi a partir dessa atuação que decidiu com o que queria trabalhar. "Tínhamos um jornal na escola e eu adorava ir atrás das informações." Nascia o jornalista.

Casado com a psicóloga Valquíria e pai de um casal - Érica, de 13 anos, e Gabriel, de 8 -, Nunes tem duas paixões na vida, além da família, claro: o Jornalismo e o Tradicionalismo. Integrante do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Tio Lautério, ele foi recentemente eleito patrão do grupo, cargo máximo. Tudo que for relacionado a este segmento tem sua atenção e a companhia da família. "Vamos inclusive para acampamento e devidamente pilchados", conta. Curte rock, MPB e outros gêneros, mas, como era de se esperar, músicas gauchescas ganham mais os seus ouvidos. "É minha válvula de escape. Mesmo que esses eventos exijam muita correria e envolvimento, é algo que me faz feliz", explica.

Natural de Vacaria e sem opções de curso de Jornalismo nos arredores, Nunes foi para São Leopoldo cursar a faculdade na Unisinos. De mochila e colchão nas costas, mesmo contrariando um pacto com um amigo, cuja premissa era morarem juntos na cidade, ele chegou sozinho e desde o começo precisou lutar pelo sonho. De origem simples, seria o primeiro da família a ter ensino superior e precisava batalhar por um emprego e um lugar para morar. Tendo amigos em Porto Alegre, passou um tempo entre São Leopoldo e a capital gaúcha. Acabou indo morar em casa de estudantes. Passados dois anos, a primeira vitória foi conquistada, a de morar sozinho.

Fazer a diferença

A atividade sindical está na vida de Nunes há 12 anos. Quando atuava no Jornal VS, do Grupo Sinos, o jornalista viu na entidade a oportunidade de fazer a diferença. "Acho que sempre tive um viés de liderança. A vontade que eu tinha de mudar o mundo foi o que me motivou a entrar para o sindicalismo", reflete, ao defender que todos precisam brigar pelo que acreditam. Desde 2000, passou por todas as posições na entidade, de delegado de redação a diretor, depois vice-presidente, até chegar ao cargo máximo. Na presidência desde 2007, Nunes não pode concorrer novamente, mas quer continuar no sindicato por mais uma gestão, independentemente do cargo que ocupar. "Acho que tivemos vários acertos nesses últimos anos", diz, destacando o fato de ser o primeiro presidente com atuação profissional fora de Porto Alegre. Mesmo tendo afinidade com a política de esquerda, Nunes diz que seu partido é o Jornalismo e que, até hoje, defende todos os profissionais que estão no mercado.

Em São Leopoldo, acredita ter tido a oportunidade de exercer o Jornalismo de forma plena. "Gosto da política do Grupo Sinos, de ter impressos locais. Acho importante valorizar as cidades", comenta, para em seguida detalhar as editorias pelas quais passou. Foram 11 anos no veículo (de 1996 a 2007) e, após iniciar a carreira lá, cobrindo Geral e passando por Polícia, estava no Esportes antes de afastar-se. E por falar em Esportes, Nunes conta que o Glória de Vacaria é seu time do coração, mas que também admira um clube da Capital. "Acho que agora já posso dizer, até porque muitas pessoas sabem? Sou colorado", admite, um pouco tímido. Mesmo com a preferência, garante que, como profissional, mantinha a imparcialidade. Foi dele a ideia de criar um caderno de Esportes para o VS. Sozinho, conseguia preencher duas páginas da editoria, pois as outras duas eram iguais em todos os jornais do Grupo Sinos. "Era difícil, mas eu dava conta do recado", orgulha-se.

Pé na estrada

Antes de conhecer o mundo jornalístico, para se virar, precisou trabalhar com outras atividades. Foi como segurança de um supermercado que começou a ganhar a vida. "Ouvia muitas brincadeiras, como, por exemplo, que eu devia ser segurança do Mini Mundo", conta, referindo-se à sua baixa estatura. Nunes escolheu São Leopoldo como a sua cidade, mas entre idas e vindas, peregrinou por outras localidades do Rio Grande do Sul. A primeira foi Sapiranga, em 1995, quando foi atuar no jornal local, o JS. Mesmo com a consciência de que receberia um salário bem menor do que tinha, não perdeu a chance de entrar para sua área. "Lá, eu fazia de tudo. Reportagem, foto, edição e tudo mais", recorda, destacando que a experiência de passar por todas as funções é sempre muito válida.

De Vacaria para São Leopoldo, depois para Sapiranga... Acabou? Não. Ainda veio Pelotas, com uma proposta do Grupo RBS de ser correspondente na cidade. É de lá que Nunes guarda matérias importantes na carreira. Uma delas foi sobre um festival de dança local. O jornalista descobriu que um dos bailarinos era tenente do exército e, após muita insistência, convenceu a fonte que faria uma reportagem diferente. Para surpresa de todos da corporação, o tenente elogiou o trabalho, que foi capa do Segundo Caderno. "O título era algo como 'Entre sapatilhas e coturnos' e eu me preocupei em mostrar como aquilo era interessante, mesmo com tanto machismo", detalha.

Em meados da década de 1990, ainda retorna para Vacaria, mas dessa vez como jornalista. A volta para a cidade natal, porém, não foi tão boa como gostaria que fosse. Com a característica de buscar sempre praticar o Jornalismo na sua essência, mesmo que esta não agradasse a todos, Nunes foi tolido por pessoas que detinham o poder da cidade. A censura não agradou e ele desligou-se da RBS.

'Ser filho é mais fácil'

O menino do interior guarda de forma muito viva as lembranças da infância. E desse tempo traz o gosto pelas coisas simples e a forma leve de ver a vida. O filho do foguista (atividade de quem era responsável por fazer as máquinas das madeireiras funcionarem) João de Oliveira e da dona de casa Maria da Glória é o caçula entre os cinco irmãos (um deles falecido em abril deste ano). "Lembro de nadar em lagoa, caçar passarinho e pescar no riacho. Prazeres típicos do interior", conta. Os pais, que ainda moram em Vacaria, são visitados com frequência e as viagens de finais de semana são uma das preferências da família.

Casado há 15 anos, Nunes diz que a esposa, Valquíria, é uma pessoa tranquila e centrada. "Uma parceira de vida", resume. Ele lembra que, eleito presidente, antes de assumir o cargo pediu desculpas a ela pelas ausências que viriam logo mais. "Ela sempre deu conta de tudo", elogia. Ser pai de uma criança e uma adolescente, ele diz não ser tarefa fácil. "Sempre brinco que ser filho é muito mais fácil, né." Destacando que os herdeiros sempre querem e precisam de algo, o jornalista garante que procura estar presente em todos os momentos importantes, inclusive nas reuniões escolares. Houve um tempo em que fazia parte até mesmo do Círculo de Pais e Mestres na escola da dupla. "Lembro que há alguns anos criamos a banda dos pais e o Gabriel me cobrou por não integrá-la. Acabei indo para a banda tocar bumbo, para satisfazer meu filho", conta, para em seguida concluir: "Ser pai é uma lição de vida todos os dias."

Mudar o mundo

Ser jornalista faz de Nunes um profissional completamente entregue ao que faz. Tanto, que seus livros de cabeceira são todos referentes à área e a indicação que faz para os mais jovens também: 'Bar Bodega - Um crime de imprensa', de Carlos Dorneles. Ele explica: "Acho que mostra um pouco da apuração necessária que o jornalista precisa fazer, não se satisfazer apenas com uma versão". No cinema, ele consegue esquecer-se um pouco do que ama tanto e revela outra paixão: seus cachorros. O filme marcante é 'Sempre ao seu lado', de Lasse Hallström. O motivo? Nunes cria três cães da raça Akita, a mesma mostrada na trama. São três gerações: Ilque, a matriarca, Quicha, a filha, e Thor, o neto.

Quando pensa em futuro próximo, mostra que já está traçado: até 2013, no máximo, dará início ao Mestrado. Após, o destino desejado também está definido, quer a área acadêmica. "Acho que a experiência que adquiri no mercado poderia ser uma contribuição muito boa. Tenho condições de dar uma instigada na meninada das universidades." Ele também acredita que ter bagagem sindical pode ser importante para os jovens, especialmente para incentivar a educação. É nessa hora que aproveita para fazer um desabafo: "Queria muito que a minha categoria participasse mais das nossas lutas. Se eu não consegui mudar o mundo, pelo menos tentei fazer algo por ele", afirma, emocionado. Para se definir, Nunes não pensa em outra marca senão o fato de ser jornalista acima de tudo. "Sou um apaixonado pela minha profissão. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria."

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