Karine Battisti: A filha da Julia
Aos 35 anos, mais do que mostrar sua capacidade, a publicitária quer honrar o legado de força da mãe
Uma das perguntas comuns em entrevistas para Perfil é "quem é sua maior referência?". Normalmente, o questionamento fica mais para o final da conversa. Com ela, nem foi preciso fazê-la. Desde os primeiros minutos, com um largo sorriso do outro lado da câmera, falou inúmeras vezes da mulher que não apenas a trouxe a este mundo como também transformou a sua vida. Aos 35 anos, a publicitária Karine Battisti é gerente de Negócios do Grupo RBS e vice-presidente de Marketing da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil no Rio Grande do Sul (ADVB/RS). Os cargos são fortes e revelam uma marcante característica: trabalhadora. Nenhum deles, porém, compara-se ao de ser reconhecida como a filha da Julia.
"Minha mãe era uma mulher extremamente forte, foi a única da família dela que estudou. Sempre quis trabalhar, ter uma carreira. Eu carrego muito essa força comigo, esse é o legado dela", ressalta, orgulhosa. No ano passado, Karine conquistou uma estrela do 'Salão ARP 2023' como Profissional de Atendimento ou Representante de Veículo por sua atuação no Grupo RBS. Em suas próprias palavras, era um reconhecimento que não sabia que queria tanto, até ganhar. Apoio dos colegas não faltou. Ninguém, no entanto, importou-se quando não ouviu seu nome citado no discurso. O agradecimento não podia ser outro. "Foi o fechamento de um ano incrível. Fiz questão de agradecer unicamente à minha mãe. Apesar de ela já ter partido deste plano, sinto-a comigo sempre. Temos uma relação maior que a vida, sempre fomos muito amigas, confidentes", conta ela a respeito de Julia, que faleceu em 2021.
Nascida e criada em Porto Alegre, Karine tem suas origens no Vale do Taquari, de colonização italiana e alemã. Há cerca de 45 anos, já casados, os comerciantes Julia e Edemar resolveram tentar uma vida melhor na Capital. As oportunidades para estudar não foram muitas, mas o valor do trabalho sempre esteve enraizado e, após a chegada dos filhos - Felipe, 45 anos, Anderson, 42 e a caçula, Karine - buscaram passar os mesmos princípios. Por muitos anos, a segunda casa de Edemar era uma banca no Mercado Público de Porto Alegre, que depois se transformou em mercado na Zona Sul.
E foi com esse afinco que, ao lado da esposa, proporcionou uma realidade diferente para seus herdeiros. "Eles têm uma história inspiradora. Os três filhos puderam estudar em escola particular, fazer intercâmbio fora do País. A importância de trabalhar, batalhar, veio deles. A formação cidadã, de caráter, de vestir a camisa e fazer o melhor é algo que recebi deles e mantenho até hoje", pondera.
Liderança
A proximidade com vendas pelo exemplo em casa e o estímulo à criatividade foram traçando, naturalmente, o caminho profissional de Karine. Extremamente dedicada aos estudos, sempre foi uma aluna exemplar. A única vez que os pais foram chamados pela direção da escola, relembra, foi quando resolveu levar copos personalizados do Ayrton Senna que os pais comercializavam no mercado para vender aos colegas.
A escolha pela área do Marketing, todavia, não foi a primeira opção na hora de decidir o curso superior. Acreditem ou não, houve uma época em que Karine pensou em ser dentista. Pensando agora, percebe que esse não era realmente seu futuro. "Fiz um teste vocacional no Ensino Médio que mostrou que meu perfil tinha mais afinidade com Comunicação ou Turismo. A segunda sugestão nem cogitei, mas a provocação da Comunicação me deu um estalo", diz, seguindo: "Jornalismo? Publicidade? Relações Públicas? Pesquisando, entendi que a PP fazia mais sentido pra mim, pois além de criar sempre gostei da parte de negócios".
Foi na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), no Bairro Santo Antônio, que não somente concluiu sua graduação como realizou o sonho de estudar na faculdade que visitou durante o colégio e pela qual havia se apaixonado. A primeira chance no mercado de trabalho também surgiu lá. O professor e coordenador, até hoje, do curso de Comunicação e Publicidade da instituição, Alessandro Souza, chamou-a para conversar um dia após a aula. "Tem uma oportunidade na RBS?". A frase nem pôde ser completa. Ela prontamente respondeu: "Eu quero".
Após uma entrevista com Simone Gonçalves, primeira e inesquecível gestora, o almejado que parecia inalcançável se tornou, além de seu primeiro emprego, o único. Claro, as tarefas, responsabilidades e os cargos mudaram com o tempo, mas há 13 anos é no prédio da esquina da Avenida Ipiranga com a Erico Verissimo que Karine bateu o ponto para colocar em prática tudo que aprendeu e segue aprendendo. O desafio inicial foi como analista de planejamento da Rádio Gaúcha. Sua paixão pelo formato e competência nas entregas que lhe eram designadas renderam, aos 24 anos, a chance de se tornar líder. Envolvida também com as rádios de entretenimento da empresa, passou pela coordenação e ascendeu ao posto de gerente de Produto.
Alinhar as culturas de cada pessoa - ela já chegou a ter um time de 35 profissionais -, encarar o preconceito de quem acha que gestão não é para mulher, muito menos jovem, e dominar segmentos até então desconhecidos, foram alguns degraus que Karine precisou subir. Focada, abraçou cada possibilidade como no famoso ditado 'se der medo, vai com medo mesmo'. Colaborou com a criação da plataforma de esportes do Grupo RBS, envolveu-se em grandes projetos como Copa do Mundo, Olimpíadas, Fronteiras do Pensamento e Planeta Atlântida. Há dois anos, sentiu que era hora de dar mais um passo.
"Eu já tinha recebido alguns convites antes, mas tinha que entender que estava pronta para a área Comercial, que considero o coração de uma empresa", afirma. "Fui muito feliz no Marketing, mas precisava desse gás. Sou a frente que conversa com as marcas no primeiro contato. É adrenalina, emoção, brilho no olho de ver a estratégia de um cliente dar certo e nada é mais valioso pra mim que isso. A parte financeira é ótima, confesso, mas é consequência", assegura.
Aproximação com o mercado
Apesar do notável crescimento na maior empresa de Comunicação do Estado, Karine não se considera uma profissional muito conhecida. Apresentar-se ao mercado por meio de seu trabalho, com a indicação ao 'Salão ARP 2023', fez-lhe compreender a relevância de se relacionar mais com outros profissionais e com o segmento em que tanto acredita. Pós-graduada em Branding pela PUCRS e especialista em Gestão de Projetos com Ênfase em Negócios pela ESPM, a publicitária também atribui seu sucesso ao fato de rodear-se de mulheres fortes.
"Com a minha idade e trajetória, sinto-me com responsabilidade duplicada ao ocupar posições de gerente e vice-presidente de entidades com muita credibilidade. Fico contente de fazer parte da gestão com maior número de mulheres em cargos de vice-presidência da ADVB", enfatiza. Duas colegas, que também se tornaram amigas, estão entre as inspirações de Karine. A confiança para projetar o depois, inclusive, passa por elas. "A Patrícia Fraga, diretora-executiva de Mercado do Grupo RBS, foi minha líder e sempre respaldou minha carreira. Costumo dizer que pra onde ela for eu vou. Outra é a Claudia Praetzel, uma colega admirável, um canhão, uma referência não só como profissional, mas como mãe, mulher", elogia.
Esta última, aliás, fez 'campanha' para que Karine fosse a escolhida para a estrela da ARP. Nas redes sociais, Cláudia, que também é Gerente de Negócios na RBS, chegou a gravar um vídeo elencando algumas qualidades que faziam da colega merecedora do prêmio. "Quem trabalha no comercial precisa ter uma série de atributos que a Karine tem desde que nasceu. Entusiasmo, energia, persistência, vontade de fazer acontecer, do novo", diz ela, em um trecho da gravação.
Num momento de desenho da próxima etapa de sua história, Karine também adiciona o atual líder, Matheus Carvalho, à lista de impulsionadores de seus talentos. "Para 2025, devo ter novidades. A RBS é uma empresa muito aberta a ouvir as pessoas e estamos construindo juntos o que posso fazer para seguir evoluindo e contribuindo com essa empresa onde amo trabalhar", garante. Ouvir, por sinal, é aspecto que preza pelo cultivo desde seu dia um como líder. A capacidade de agregar é o que julga ser sua principal qualidade.
A vida depois das 18h
Que ela adora e é realizada com o trabalho ninguém duvida, mas não pense que a 'vida depois das 18h' não é importante. Pelo contrário, cada vez mais Karine tem valorizado o cuidado consigo mesma e com os seus. Há alguns anos, trocou a casa dos pais na Zona Sul por seu próprio apartamento na Zona Norte, mas a manutenção das relações familiares sempre foi um de seus programas preferidos. Além do pai e dos irmãos, o 'namorido' Filipe Gamba, jornalista e criador de conteúdo digital, e o enteado Lucas são as pessoas com quem mais gosta de dividir os dias de sol e chuva da vida.
"Eu estava muito bem profissionalmente e pessoalmente, mas a vida não tá nem aí pro nosso planejamento né?", brinca, complementando: "Eu e o Filipe fomos colegas mas tivemos que estar em ambientes diferentes, afastados, para nos 'reconhecermos' e tem sido linda a jornada que estamos trilhando juntos". A maternidade é uma constante nos planos de Karine, mas a concretização levará mais um tempo. Ciente de tamanha responsabilidade e com uma régua alta, por ter um pai exemplar, como ela mesma caracteriza, tinha certo receio até acompanhar de perto a paternidade do companheiro.
Quando está sozinha, uma das ações de autocuidado, além da terapia, da qual não abre mão, é a leitura. Devora páginas de dois, três livros ao mesmo tempo. Não tem um favorito, revela, pois acredita que cada mensagem faz parte de um momento da vida. O mais recente em andamento, 'O jeito Disney de encantar os clientes', da Disney Institute, tem tudo a ver com o que pulsa na profissional, como na passagem em que cita: "Você pode sonhar, criar, projetar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo [...] mas são necessárias pessoas para fazer do sonho uma realidade".
É de literatura técnica a romances como 'O avesso da pele', de Jeferson Tenório, e 'Tudo é rio', da autora Carla Madeira, a gerente de Negócios se esquadrinha como uma pessoa eclética. Quando se trata de fé, foi batizada na Igreja Católica, mas recentemente foi atraída pela doutrina Espírita. Na música, tem a cantora britânica Amy Winehouse no topo da lista, mas também curte rock e MPB. Quando quer 'desopilar', diverte-se assistindo a séries de vendas e decoração de apartamentos luxuosos.
"Equilíbrio é a palavra que me define hoje. Empenho meu melhor em tudo que faço, mas descobri o inestimável valor de estar em paz, de não me cobrar tanto", pontua. A academia, entrega, é por obrigação. Nessa perspectiva de olhar mais para si, tem cogitado voltar a dançar, prática que fazia durante a infância e adolescência. Gremista, gosta de futebol, não dispensa um sushi, sua comida predileta, e guarda com enorme carinho na memória a última viagem que fez com a mãe, para a Europa, em 2019. E é assim, agarrando as oportunidades com positividade e vivendo plenamente sua melhor versão, que Karine deseja seguir. "Aprendi, com o tempo, a dar o tamanho e o peso que cada coisa merece", reflete.