Laura Glüer: Motorista da própria vida

A jornalista e professora fala da trajetória que percorreu até chegar à vida acadêmica


Por conta das diversas vezes que substituiu profissionais, Laura se intitula "a substituta efetivada". Recém-formada, encontrou o ex-professor Euclides Torres e recebeu a proposta de cobrir as férias de um repórter da Revista Amanhã. Mesmo com o retorno dele, ela foi efetivada. Menos de um ano depois, foi remanejada para a Plural Comunicação e Marketing, empresa do grupo da revista.

O interesse pelo Jornalismo Empresarial surgiu nessa época, quando se dedicou ao cliente Copesul. Foram três anos conhecendo todo o funcionamento de um setor de Assessoria de Comunicação. "Foi um período de muito trabalho. Em dia de Transparência (newsletter da empresa) eu percorria toda a fábrica fazendo a distribuição, ia almoçar por volta de 14h. Apesar de cansativo, era um trabalho muito dinâmico, eu era muito feliz lá."

Outro momento importante de sua carreira também partiu de uma substituição. Uma amiga era secretária administrativa na Revista Veja e lhe indicou para cobrir suas férias. Esta foi a porta para ela se colocar à disposição de João Paulo Caminhoto, seu superior na época, para realizar algumas pautas. "No início não me davam muito trabalho, afinal eu ainda era uma foca (apelido dado aos jornalistas recém-formados), mas foi um bom começo."

Até mesmo o começo da vida acadêmica aconteceu por meio de substituição. Na época, Laura soube que havia uma vaga para professora substituta no curso de Nutrição para ministrar a disciplina de Comunicação e Marketing. Terminando o seu período, os alunos fizeram um abaixo-assinado pela permanência dela.
Os anjos

A mãe da Sophia, de sete anos, enche os olhos azuis, que não conseguem passar despercebidos atrás dos óculos, ao falar da pequena como um anjo em sua vida. Ela já estava com 30 anos quando decidiu pela gravidez. "Essas coisas do relógio biológico da mulher começaram a pesar", explica detalhando que o companheiro da época topou a decisão de ter um filho. Laura confessa que, apesar do relacionamento não ter dado certo, Sophia não poderia ter um pai melhor.

Há três anos, a professora namora o advogado Alexandre e afirma que, após algumas tentativas afetivas, finalmente encontrou a pessoa para sua vida. "Mesmo namorando à distância (Alexandre mora em Jaguarão), temos um relacionamento muito bacana, ele é uma pessoa maravilhosa", se derrete Laura. "Um anjo que apareceu de repente", completa.

Caçula das "três Marias" (Aida Maria, Maria da Graça e Laura Maria), ela vê na mais velha, Aida, uma mãezona e atribui o laço à diferença de 13 anos entre elas. Segundo conta Aida, que também é sua madrinha, é outro anjo, que esteve presente em diversos momentos difíceis e que até hoje é sua conselheira.

Foi na época da Plural, também, que conheceu mais uma pessoa, que considera outro anjo da sua vida: a jornalista Elaine Lerner, que hoje é sua parceira em alguns trabalhos de assessoria de imprensa. Ainda no campo profissional, Laura lembra de Euclides Torres como um de seus mestres e canal de entrada em alguns empregos. "Essas pessoas talvez nem saibam o papel que tiveram na minha vida", exalta.
O trem em movimento

A frase mais usada pela jornalista ao falar da sua vida profissional é "quando o trem passa, temos que subir nele". Laura explica que pensa nisso sempre que lembra das oportunidades que apareceram em sua trajetória. "Acho que além de dedicação e trabalho, a sorte me ajudou muito e eu consegui aproveitar as chances, consegui sempre subir no vagão." Por este pensamento a professora sempre diz aos que estão começando que não deixem de enxergar as oportunidades. Segundo ela, o sonho não vem pronto e às vezes as chances chegam com outra roupa.

A recordação que vem à sua cabeça ao deixar este recado é da mãe lavando louça e dizendo: "A profissão é o primeiro marido." Essa frase a marcou e Laura sempre pensou nisso quando surgiam novos desafios. "O estudante tem que dedicar-se, ler muito, manter-se atualizado, e não deve deixar as chances passarem batidas." Ela admite que nem sempre aproveitou as oportunidades, mas que se hoje é bem-sucedida, e assim se considera, é por conta deste feeling.

Pensar no futuro? Sempre. Mas Laura não pretende nada grandioso. Quer manter o que faz hoje, pois considera-se muito feliz com suas atividades. Como todo mundo, ela tem planos. Um deles é expandir sua consultoria para a área de Gestão de Crise e o outro é publicar um livro com sua tese de Doutorado, que antes era apenas um capítulo do Mestrado. Apesar disso, garante que os sonhos são simples. Atualmente, está focada em terminar a pesquisa, morar em um lugar maior e voltar a viajar por lazer.

A prática de viagens ainda é muito presente na vida dela, normalmente a trabalho. Em 2009, por exemplo, foi diversas vezes ao Rio de Janeiro, mas sempre em "bate-volta". A Cidade Maravilhosa é um lugar especial, onde não descarta virar lugar de moradia. Porém, seu destino mais esperado é Paris, viagem que fará ao lado de Alexandre. Nessa, a Sophia não vai, mas já recebeu a promessa de ir à Disney.
Rumo à sala de aula

Antes de se dedicar totalmente à docência, Laura ainda teve passagem pelo Palácio Piratini, na gestão de Antonio Britto, entre os anos de 1995 e 1998. Ao contar isso é enfática: "Coordenei a Central de Textos e, na verdade, não era um trabalho que me dava emoção. Não exigia muita criatividade. Por outro lado foi o melhor momento para criar meu network." Além de desvendar os bastidores da política, a jornalista pôde conhecer muita gente.

Sobre experiências profissionais, a doutoranda ainda lembra que se aventurou em outra cidade. A assessoria de imprensa já fazia parte da sua vida quando resolveu abrir a própria empresa. Em Lajeado, atendeu a clientes como Univats, Hospital Bruno Born, Fruki, Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e Excelsior. Alguns deles fizeram questão de continuar sendo atendidas por Laura, quando ela resolveu retornar à capital gaúcha.

Ainda como professora substituta no IPA, a jornalista recebeu o convite de montar uma assessoria de comunicação para a faculdade. E, mais uma vez, ela fala: "O trem passou na minha frente e eu subi de novo." Naquele período, Laura teve diversos desafios, especialmente por conta da crise que as instituições de ensino particular estavam vivendo. Ela se diverte quando diz que a Sophia nasceu prematura porque vivia tensa e sob pressão. O trabalho foi tão intenso que, até hoje, oito anos depois de deixar o cargo de assessora, ela recebe ligações de veículos querendo informações do Centro Universitário.

Daí para as aulas de Jornalismo foi um pulo. Laura participou da criação do curso desde o seu projeto, idealizado para que fosse diferente dos demais, focado em novas oportunidades que o mercado oferecia, a Gestão. "Fui uma das primeiras professoras a entrar em sala de aula. Lembro muito da emoção que foi. Me realizo numa sala de aula. É uma das melhores coisas da vida pra mim."
Crescimento de qualidade

A jornalista sempre quis dar aulas, a partir de sua facilidade para ensinar e pela experiência com as aulas de inglês. Hoje, apesar de muito trabalho, afirma que está numa fase muito feliz da sua vida, em que pode acompanhar de perto o crescimento de Sophia e, ainda, investir nela mesma. Programar aulas, acompanhar a pequena em suas atividades, atender aos clientes e namorar (quando sobra tempo) são parte da rotina de Laura, que garante não querer mudar muito do que tem hoje.

Ela não sonha com coisas espetaculares, nem com o carro do ano, afinal, é uma pedestre convicta. Não sabe dirigir, nem pretende aprender. "Me viro muito bem de lotação e de táxi, pois são momentos que não preciso me preocupar com nada. Aproveito para organizar minha agenda e apreciar as paisagens", conta ela, entre sorrisos. Com essas escolhas, a professora garante que nos últimos três anos teve um aumento de qualidade de vida.

Dividindo-se entre as muitas turmas em que leciona, a orientação de monografias e os trabalhos administrativos que desenvolve, Laura se diz com um cansaço mental. Apesar do ritmo das atividades não deixaria de fazer nada disso, pois, segundo ela, a gratificação está ao final do semestre em ver os alunos concluindo seus trabalhos e se colocando bem no mercado. "Às vezes a gente abre mão do glamour da profissão para dar espaço e valor para outras coisas da vida."

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