Luiz Carlos Monteiro Guimarães: Livre como um pássaro

Jornalista há quase 30 anos Guima, como é conhecido pelos amigos, não abre mão da liberdade. Atualmente é secretário de Redação do Jornal do Comércio e gosta de relembrar o gostinho de ter dado um "furo" nacional.

Foi por pouco que o jornalista Luiz Carlos Monteiro Guimarães não foi geógrafo. A mudança de planos aconteceu depois da reprovação no primeiro vestibular que prestou, na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). "Eu gostava muito de mapa mundi, de atlas. Aos 14 anos tinha claramente na minha mente os continentes e sabia todas as capitais. Apesar de não gostar muito de fazer turismo, adorava viajar pelo papel", conta ele. Um ano depois, voltou a fazer vestibular, só que desta vez para o curso de Jornalismo. "Comecei a perceber que gostava muito de escrever", revela. E foi nesta área que ele se formou, há quase 30 anos pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).  


Guima, como é conhecido entre amigos e colegas, veio de uma família de classe média baixa. Sempre morou na Zona Norte, cresceu no bairro Cristo Redentor e hoje mora no Passo d" Areia. "Tive uma infância ótima, morava numa rua sem calçamento, jogava muito bolita e brincava de teatro com meus amigos. Também tinha paixão por reunir a gurizada e brincar de professor, ensinava a escrever e fazia ditado", conta ele, que só saiu de casa aos 26 anos para casar com a economista Irene. O casamento durou 14 anos e dele nasceu Júlia, hoje com 21. A jovem é estudante de Arquitetura e modelo fotográfico. "Nos encontramos todos os fins de semana, vamos almoçar e depois ao teatro ou cinema, temos uma ótima relação", conta o pai coruja.


Diploma na mão, mãos à obra


O primeiro emprego veio praticamente junto com o diploma, em 1978. Foi no Jornal Caxiense, em Caxias do Sul. "Eu tinha um amigo que era de Caxias e me falou sobre duas vagas no jornal, uma para diagramador, que ficou com ele, e a outra para repórter, que foi minha. Foi uma oportunidade maravilhosa porque sair da faculdade sem nenhuma experiência e trabalhar no interior, onde se aprende a fazer um pouco de tudo, foi muito bom", diz. Enquanto trabalhava no jornal em Caxias, Guimarães fez um trabalho free lancer para a sucursal do Correio do Povo. As matérias agradaram e, depois de um ano em Caxias, o repórter foi convidado para ser redator especial na Central do Interior, em Porto Alegre. A função atendia a todos os veículos da Caldas Júnior na época - Folha da Manhã, Folha da Tarde, Correio do Povo e Rádio Guaíba. "Foi ali que comecei a aprimorar meu texto, já que os repórteres mandavam pedaços de matérias feitas nas sucursais do interior e eu tinha que finalizar em uma matéria só", explica.


Com a falência da Caldas Júnior, Guimarães resolveu tentar a sorte em São Paulo. Durante seis meses trabalhou para algumas revistas especializadas e, em setembro de 1984, voltou a Porto Alegre para ser chefe da central de texto do então reativado Correio do Povo. Por lá ficou 10 anos. Atuou também como chefe da Central do Interior e Chefe de Reportagem. Durante um ano conciliou o trabalho no jornal experimentando, na vida real, com o que gostava de fantasiar na infância, ser professor. "Dei aula de redação para o curso de jornalismo da Ulbra durante dois semestres, foi muito bom", conta.  


Mas numa dessas surpresas da vida, o jornalista recebeu um convite para ser repórter da sucursal da Gazeta Mercantil, em Porto Alegre. Era uma época em que, segundo ele, o jornal estava se firmando como um dos maiores da América Latina, com sucursal em Buenos Aires e Gazetas Regionais em todos os estados do Brasil. "Tive muito medo porque estava há anos atuando em funções burocráticas. Por sorte tinha feito uma pós em marketing, o que me deu noção de alguns conceitos de economia e do mercado", avalia.


Fato Relevante          


Foi na Gazeta Mercantil que Guimarães conseguiu o que seria a "glória" para qualquer jornalista: um furo nacional. A  Gazeta Mercantil de 8 de dezembro de 1998 trazia na capa a manchete "J.C.Penney compra a Renner e estréia no Brasil". Uma revelação que só seria feita um dia depois, em coletiva de imprensa. "Recebi o convite para a coletiva que dizia que a Renner iria anunciar investimentos. Liguei para um diretor para saber se ele poderia me adiantar alguma coisa. Foi quando ele deixou escapar que seria um comunicado de fato relevante - comunicado feito ao mercado de ações. "Eu pensei: bem, se é fato relevante não pode ser investimento", explica o jornalista. "Não vou contar como, mas tive acesso ao documento que dizia que a Renner tinha sido vendida. Só assim consegui convencer os editores de São Paulo e no dia seguinte fui à coletiva com o jornal embaixo do braço", conta emocionado. "Pra mim foi realmente um fato relevante". 


Foram seis anos na Gazeta Mercantil e uma grande revelação: "Me descobri um bom repórter, me apaixonei pela reportagem e por economia", diz Guima. "É muito melhor ser repórter, uma pena que os jornais coloquem na base da política salarial os repórteres; muitos acabam se tornando editores só para ganhar mais", lamenta. Mas assim como a Caldas Júnior, a Gazeta Mercantil também passou por problemas financeiros. Com salários atrasados, o jornalista resolveu investir em assessoria de imprensa para empresas, entre elas a Massey Ferguson. "Fiz assessoria porque as dificuldades do mercado me obrigaram, mas nunca me conformei, ainda mais depois que me descobri repórter", avalia.  


Foram dois anos - entre 2001 e 2003 - trabalhando como assessor de imprensa até que recebeu o convite para ser editor executivo da Revista Amanhã. Seis meses depois veio uma nova proposta para o cargo de Secretário de Redação do Jornal do Comércio. "Foi muito bom trabalhar na revista, mas gosto mais do pique de uma redação de jornal diário", argumenta. Há um ano no Jornal do Comércio, Guimarães acumula também a função de editor de economia e em breve pretende voltar a fazer o que mais gosta, reportagem." Acho que dá para conciliar. Por enquanto estou com uma equipe nova, mas assim que der quero fazer algumas reportagens", diz entre risos.  


A conquista da independência  


Poder fazer o que quer na hora que quer não tem preço para Guimarães. Ele mora sozinho desde que se separou, há 10 anos. "Não gosto de dar satisfações a ninguém. Sou muito independente, chego em casa à hora que quero, como à hora que quero, tomo meu chimarrão à hora que quero", relata. Para ele, a independência é uma conquista e a liberdade, sua filosofia de vida. Essa liberdade, ele procura também em suas viagens. Sempre que pode, foge para o mar. "Sou apaixonado por praia, gosto do sol, da liberdade do mar". Entre os roteiros prefeitos estão Santa Catarina e Nordeste.


Quando está em casa se define como um "notório preguiçoso". Aproveita a folga para dormir, ir ao cinema, ler e escrever.  Nas preferências gastronômicas não é nada exigente: gosta de arroz, feijão e carne, e como todo bom gaúcho o churrasco de domingo, na casa dos pais, não pode faltar. Mas no prato do jornalista não entra rúcula nem salada de cebola. "Não gosto da cebola crua", argumenta.


Música popular brasileira é o que ele mais gosta de ouvir. "Sempre fui apaixonado por Elis Regina e hoje sou apaixonado pela filha de Elis, Maria Rita". Também destaca o trabalho de Chico Buarque, que considera o maior poeta vivo do Brasil. "Qualquer coisa que ele faça é o que tem de mais delicioso de ouvir", elogia.      


Nas telas do cinema Guimarães gosta de assistir a dramas, além de estar sempre em dia com produções nacionais. "Muitas pessoas não assistem por preconceito, acho que tem que se assistir nem que seja para falar mal. Para mim, Central do Brasil e Cidade de Deus, por exemplo, foram duas grandes produções brasileiras".


Já nas páginas dos livros, não gosta apenas de ficção científica, e procura valorizar sempre os autores gaúchos, destacando o escritor Assis Brasil.


Se considera um amigo leal, o que destaca como a principal qualidade. E lamenta ser tão exigente consigo mesmo, o que diz ser o maior defeito. Para esse profissional que tem no currículo três Prêmios ARI de Jornalismo, dois na categoria crônica, conquistados em 89 e 90 e um na categoria economia, conquistado em 2002, um bom jornalista deve ter boas fontes. "O repórter que não tem fontes vai estar sempre correndo atrás do prejuízo", avalia. "Um repórter deve construir boas fontes e, sobretudo, conquistar a confiança dessas fontes para que a matéria chegue até ele", conclui.


Em breve, Guimarães pretende concluir um importante projeto, a publicação de um livro que está em fase de revisão. O assunto ele prefere não revelar, mas dá uma dica: "É um livro baseado em um fato real com toques de ficção", conta.


Ele tem ainda mais de 300 crônicas escritas. "Um dia pretendo me debruçar sobre elas e compilar os textos para a publicação de um livro de crônicas e contos", revela. Então tá, vamos esperar para ler: Levando em consideração que já tem duas crônicas premiadas pela ARI, só pode ser coisa boa.

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