Luciano Mattana: profissional que joga em todas as posições

Músico e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da UFSM é um obcecado por aprendizado

O carisma de Luciano Mattana, o professor Luli, entrega que histórias boas virão por parte dele. Talvez seja por conta da família que traz, nas raízes, diversos relatos engraçados, que passam a impressão de que a casa está sempre cheia. Além disso, o profissional gosta de ser um entusiasta em diversos assuntos. Quando gosta de um tema novo, é quando se dedica intensamente para aprender.

Se a apresentadora e entrevistadora Marília Gabriela fosse falar sobre ele, com certeza, ela diria: "Luciano Mattana é professor, músico, coordenador de curso, dançarino, palestrante e faixa roxa em Karatê". E sim, ele faz isso tudo e mais um pouco. O fato é que Luciano ama o diferente, aquilo que é novo, um obcecado pelo conhecimento. Se for puxar para o lado do esporte, é o verdadeiro atleta que joga em todas as posições.

Nascido e criado na cidade de Caxias do Sul, o profissional viveu, por volta do fim dos anos 1980, uma infância de muitos aprendizados e influenciado, sobretudo, pelos avós, imigrantes italianos que chegaram na serra gaúcha ainda criança, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Da mãe professora e do pai vendedor, o hoje coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) teve, no começo de vida, uma rotina simples, porém, de carinho, afeto e muitas recordações. 

A Rua Venâncio Aires, local que fica ao lado da rodoviária da cidade, carrega lembranças das travessuras feitas por Luciano e pelo irmão, três anos mais velho que ele. A dupla e os amigos da redondeza costumavam inventar diversas brincadeiras. Uma das memórias que tem é de quando descia a ladeira da avenida, com o chamado 'carrinho de lomba'. "Não sei como a gente não morreu", comenta, aos risos. A molecagem era tanta que a turma se desafiava a andar cada vez mais rápido para aumentar a adrenalina. Após, vinha o rotineiro grito de choro, pois alguém havia se machucado durante a descida.

A casa dos avós era o ponto principal dos encontros em família nos finais de semana. Enquanto os adultos preparavam as refeições principais, as crianças subiam nos pés de frutas para pegá-las. Algumas das mais disputadas eram a goiaba e o figo, uma vez que, depois do recolhimento delas, a atividade seria ajudar os "nonos" a fazer os doces. "Dava briga para saber quem passaria o dedo na 'rapa do tacho', da panela."

Carreira em Santa Maria

Em 1995, aos 14 anos de idade, Luciano se viu obrigado a escolher uma profissão. Em Caxias, trabalhou em diversos lugares a fim de encontrar a real identificação. Conforme o professor, ele ainda não sabe o porquê de escolher a Comunicação para a vida. Entretanto, considera que foi uma das melhores decisões que já tomou. O início da jornada está muito ligado à mudança que precisou fazer para a cidade de Santa Maria.

O irmão foi o primeiro da família a migrar para o município, com objetivo de encontrar oportunidades de estudo e trabalho. Aos 18 anos, ele decidiu que queria ser publicitário, entretanto, não havia esse curso na universidade pública de Caxias do Sul. Com isso, prestou vestibular de Publicidade e Propaganda na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, por isso, mudou-se da Serra para cumprir a trajetória acadêmica.

Na profissão, já muito cedo, iniciou no segmento universitário. Isso só foi possível devido a um trabalho que teve de assistente de Audiovisual, onde aprendeu dicas para se tornar um profissional da área. Em 2005, logo após essa experiência, surgiu uma vaga para ser professor da mesma área no Centro Universitário Franciscano (Unifra). Candidatou-se a ela e passou a lecionar na instituição de ensino. "Sempre apareceram muitos desafios na minha vida, onde eu não sabia se teria porte para sustentar. Mesmo assim, segui em frente."

Hoje, Luciano é doutor em Comunicação Social na linha de Estratégias de Comunicação. Já foi, ainda, coordenador do Núcleo de Produção Audiovisual, na Unifra. Além disso, possui experiência na área de Comunicação de Marketing para Micro e Pequenas Empresas, bem como em Comunicação Estratégica, Empreendedorismo, Linguagem Audiovisual, Sonora, Marketing Digital, Merchandising, Modelos de Negócios, Planejamento de Comunicação, Produção Audiovisual e Sonora. 

Música nas veias

Luciano é um homem versátil e de "diversas utilidades", como o próprio se denomina. Para ele, a carreira profissional está ligada a tudo que já realizou no começo da vida, pois os aprendizados foram importantes para trilhar um caminho correto. Durante a trajetória, praticamente tudo está interligado. E, com a música, isso não foi diferente, e se pode dizer que essa é uma das principais paixões. Ainda em Caxias, encantou-se por saxofone, um instrumento de sopro. Chegou a fazer um esforço para juntar dinheiro e comprá-lo, contudo, era caro demais para adquirir. 

Foi então que surgiu a gaita de boca, mais barata e acessível para quem estava iniciando e, quando criança, começou aulas particulares do instrumento. "O professor era bem ruim, mas foi o suficiente para eu aprender as primeiras notas", recorda. A afinidade foi tanta que se tornou para toda a vida e, até hoje, aprecia manter uma coleção.

Aproximando-se cada vez mais desta arte, Luciano passou a frequentar locais onde músicos faziam apresentações. Ali, percebeu que gostaria de seguir como profissão para a vida inteira. Já em Santa Maria, em uma roda de amigos, conheceu um rapaz que tocava violão e cantava para o pessoal. Naquele momento, eles se juntariam para se tornar uma dupla e realizar apresentações pela cidade. "Ele era um cara bonito e eu tocava muito bem, então começou a nossa trajetória", disse, aos risos.  

A dupla tocava Música Popular Brasileira (MPB) e, com isso, eram sempre chamados para se apresentar em locais da cidade, praticamente todos os dias. Esse detalhe fez total diferença para ele, pois morava em uma 'república', nos tempos de faculdade. O dinheiro provindo das apresentações servia para custear a estadia durante os estudos. Mais para frente, em 2005, o dueto se desfez, pois o parceiro se mudou para o Rio de Janeiro, a fim de realizar outros estudos.

Entretanto, surgiu um novo amigo na vida de Luciano, o Marcos. A dupla 'Luli e Marquinho' ficou conhecida em Santa Maria e passou a realizar praticamente 20 shows por mês. "Ali sim ganhei dinheiro e pude me sustentar bem nessa profissão." Hoje, o dueto não faz tantas apresentações, uma vez que cada um deles realiza diversas tarefas no dia. Marcos, por exemplo, é professor do curso de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Escotismo

Esta é mais uma das diversas atribuições do Luciano. Foi no grupo de escoteiros de Caxias do Sul onde aprendeu "o que é caráter e disciplina." Naquele tempo, as crianças participavam de maneira mais ativa dos afazeres do lar, já que os pais passavam a maior parte do dia no trabalho. Antes de saírem para brincar, ele e o irmão cumpriam as atividades escolares e, posteriormente, ajudavam a lavar a louça, tirar o pó e varrer a casa.

Estes costumes foram fundamentais para o crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional, pois, conforme ele, aprendeu os reais valores da vida. Isso se deve pelo fato de ter esse tipo de ensinamento em casa e, também, no escotismo. Aos seis anos de idade, Luciano e o irmão ingressaram nessa modalidade. Quando chegaram no local, perceberam que todos os amigos também faziam parte do grupo, o que, para eles, era uma alegria.

As lembranças desse momento: "são várias", comenta Luciano, mas o que fica de lição são os ensinamentos e as amizades que duram até os dias atuais. Uma vez por ano, a equipe se reúne para fazer um acampamento e desfrutar de tudo que aprenderam quando crianças. "As experiências que tivemos foram fantásticas." Um dos acontecimentos que leva de recordações são os trabalhos sociais. Como o grupo tinha treinamento de salvamento, eles participavam da entrega de marmitas, bem como outras ações ligadas à população carente.

Os amores de sua vida

Ainda jovem, Luciano ganhou um filho, fruto do antigo casamento da esposa. O relacionamento com o rapaz - que prefere preservar o nome. No início, foi um pouco conturbado. Por ser uma pessoa que teve uma criação bastante regrada, Luciano confessa que tentou, por vezes, impor o mesmo pensamento ao enteado. Porém, conforme o tempo passava, observou que o momento era diferente do dele e, a partir de então, uma nova comunicação foi adotada. "Ele é meu filho: amo, dou bronca, conselhos, choramos juntos e é tudo para mim."

Há 23 anos casado com a Greice, o relacionamento começou no início da faculdade. Isso porque o irmão da pretendente era colega de Luciano. Uma vez, ao vê-lo tocando em uma apresentação, ela perguntou: "Quem é aquele rapaz loirinho tocando gaita?". A partir disso, iniciaram-se os encontros em festas de amigos em comum.

Apesar disso, Luciano era uma pessoa tímida e, por isso, demoraram para começar a dialogar. "A Greice percebeu isso e começou a zombar de mim", recorda. Durante uma apresentação, a fim de chamar atenção dele, ela roubou duas gaitas dele e as escondeu.

Em um outro momento, ela combinou com uma amiga de convidá-lo para que ele trocasse a lâmpada do apartamento das amigas. Isso se tornou rotina, pois as duas faziam o mesmo convite, só para que Greice chegasse mais perto de Luciano. "E eu não me dava por conta que ela estava a fim de mim", relatou, aos risos. Depois desse momento, aproximaram-se ainda mais e o namoro, enfim, começou. 

Rotina agitada

Por estar à frente de um curso, Luciano tem uma rotina bastante agitada. A parte da manhã é normalmente o momento, por vezes, que está livre, mas nem sempre. Para preservar a saúde mental, adota algumas medidas para não ficar o tempo inteiro focado no trabalho, pois sempre há tempo de encaixar um horário na agenda movimentada.

Um dos hobbies é dançar. Toda a semana, ele e a esposa frequentam aulas de Dança de Salão, um momento para o casal e de aproximação. Além disso, Luciano é praticante de Karatê, onde conquistou a faixa roxa - considerado um nível intermediário no esporte. "As pessoas acham um pouco estranho eu participar de diversas atividades", conta.

Apesar de estar envolvido em muitas ações, considera-se uma pessoa que gosta de fazer coisas bem específicas e calmas, como, por exemplo, ficar em casa e ler livros, e também assistir séries. No momento, estuda justamente pessoas que têm o mesmo comportamento do que o seu e que gostam de realizar diversas atividades e ser "entendedoras de tudo".

O fato de fazer muitas atividades o torna uma pessoa "um pouco implicante no que diz respeito à organização". Ele acredita que isso seja um defeito, pois, com frequência, precisa pensar várias vezes antes de falar, para não parecer grosseiro. E isso foi algo que aprendeu ao longo dos anos, pois era difícil entender que havia pessoas diferentes.  

"Realizado", é assim que se define nos dias atuais. Para ele, a profissão de professor é muito mais do que gratificante, pois possibilita enxergar as sementes florescer no futuro. Com a carreira estabilizada, ele pensa que um dos objetivos para o futuro é, antes de se aposentar, retomar o contato com a natureza e respirar o ar verde de lugares onde se encontram vegetações. No futuro, daqui a 10 anos, Luciano Mattana pretende estar a fazer o que mais ama na vida: "Dar aula e praticar a música".

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