Luiz Jacintho Pilla: A vida por um evento

O luxo e os prazeres simples dividem espaço no cotidiano do relações-públicas Luiz Jacintho Pilla

Quase três décadas de trabalho dedicadas à organização de festas e eventos fizeram de Luiz Jacintho Pilla personalidade conhecida no mercado e, especialmente, as classes A e B. O reconhecimento pode ser constatado pela quantidade de ligações e cumprimentos recebidos durante a entrevista, realizada em um shopping da Capital. Durante muito tempo, teve o nome associado a algumas das casas noturnas que marcaram época em Porto Alegre e chegou a manter mailings com mais de 10 mil contatos. Aos 57 anos, crê ter sido um dos precursores no setor, ao lado de Eduardo Bins Ely. Confessa que o ritmo das badalações diminuiu, mas segue levando a profissão de relações-públicas junto ao nome como se fosse um título.
Atualmente, é editor da revista We, voltada à cultura da classe A e que circula trimestralmente desde novembro de 2011, além de apresentador do programa Agenda, na Store TV. Sobre a publicação, não tem do que reclamar. "Tenho boas relações e um bom nome, tudo isso favorece", garante. Foi a facilidade nos relacionamentos que o levou para a área, e o envolvimento com eventos teve início nos tempos de estudante. No ensino médio, já organizava os bailes da escola e foi ainda nessa época que passou a atuar em uma agência de eventos dirigida por colegas. Mais tarde, aos 26 anos, ingressou na Ribalta Promoções, dos irmãos Paulo e João Satt, onde teve a oportunidade de contribuir para o lançamento de diversas marcas.
De lá, foi para o Le Club, casa noturna referência nos anos 1980 e que acredita ter sido sua principal vitrine. "Ali, fui crescendo de tal forma, que a maioria dos eventos que aconteciam em Porto Alegre tinha meu nome", recorda. Ainda atuou no Ópera Rock, Dado Bier e, por 13 anos, foi o RP da boate Ibiza, em Atlântida. Inaugurou diversos restaurantes, realizou desfiles de moda e lançamentos de coleções, do Cais do Porto, da capital gaúcha, a Punta del Este, no Uruguai, e Los Angeles e Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Já no mercado editorial, antes da We, foi sócio das revistas South Star e Nome e Sobrenome. Também assessorou a Fundação de Proteção Especial do Estado, durante os governos de Germano Rigotto e Yeda Crusius. "Foi um período muito bom, mas que também acabou me afastando da minha área, que era badalações sociais. Tive que me resguardar um pouco", explica.
Um incompreendido
Natural de Porto Alegre, foi o único entre os cinco filhos da dona de casa Eva e do funcionário público Jacinto (falecido) que não seguiu o caminho do Direito. "O único que ficou na gandaia", como diz, ao contar que, por muito tempo, foi profissionalmente incompreendido pelos familiares. "Minha área trocava o dia pela noite e meus pais não entendiam. Achavam que não era trabalho, era festa", conta. Mais tarde, já ciente de sua atividade, o pai se enchia de orgulho e até se emociona quando, ao revelar o nome em lojas, era confrontado com a pergunta: "O senhor é pai do Jacintho, o RP?".
Toda a infância foi vivida no bairro Teresópolis, o mesmo onde reside hoje. Dos tempos de criança, lembra das brincadeiras na região de casas sem grades,  onde a segurança da época e a curta distância lhe permitiam ir à escola sozinho ainda aos 7 anos. "Na volta, trazia meus colegas e íamos comer pipoca. Foi uma infância muito bonita", recorda.
Formado em Relações Públicas pela PUC, ingressou na faculdade nos anos 1980. Conta que, na época, já estabelecido no mercado, era convidado por professores da universidade a ministrar palestras em outras turmas. Ficou a cargo dele, juntamente com Andreia Taffarel, a apresentação do primeiro SET Universitário, que neste ano entra em sua 26ª edição. "Quando o evento fez 10 anos, me chamaram e fiquei surpreso ao ver que já não era mais realizado no auditório da Famecos e sim em um salão grande, junto à reitoria. Eu me emocionei quando vi aquele lugar lotado, foi muito bonito", descreve.
Longe dos holofotes
"Na minha profissão, vive-se muito para os outros", afirma, ao relatar que, por muito tempo, as viagens e o tempo longe de casa devido ao trabalho o impediram até mesmo de ter animais. Hoje, com a rotina mais tranquila, divide o apartamento com um cachorro e dois gatos. "Sou meio Palmira Gobbi. Sou uma pessoa muito dos animais. Sempre ajudo entidades e quando encontro um bichinho mal, levo para casa, dou banho, cuido e depois doo", narra.
Os momentos de folga são aproveitados no aconchego do lar. Gosta mesmo é de desligar o telefone e curtir a paz. Assistir a um bom filme e destinar algumas horas à leitura são outras das atividades às quais se dedica. "Adoro informação. Estou sempre conectado na internet ou lendo revistas e jornais", destaca, ao revelar que costuma acompanhar o noticiário com frequência pela Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Terra e Veja. Conteúdos sobre política e livros espíritas, religião que segue, também estão entre os que aprecia.
Para assistir, os seriados da BBC e os filmes das décadas de 1950 e 1960 são os preferidos. "Valorizo muito esse tempo, época das músicas românticas, pessoas alinhadas", relaciona. Praticamente um colecionador, costuma adquirir filmes pela internet e estima ter em torno de 800 títulos. O estilo musical passa pelos clássicos, pelo jazz, líricos e óperas. "Acho que cheguei a um ponto em que tenho todos os CDs do que gosto. Aparecem cantores novos, mas poucos me interessam. Nisso, sou meio conservador".
Agora mais centrado em almoços e jantares do que às grandes festas, quando se trata de gastronomia, revela preferência pelo trivial. "Não sou do tipo " ah, isso eu não como" e também não gosto de pratos muito complexos. Sou simplista. Gosto de coisas simples e saudáveis", conta, destacando que não é de fazer restrições.
Um pouco de inspiração
A organização de eventos continua presente na vida de Jacintho, ainda que em ritmo menor. Houve épocas em que trabalhava em cinco grandes eventos ao mês. Hoje, o número caiu para dois. "Tudo mudou. As pessoas que frequentavam minhas festas nos anos 1980, hoje estão casadas e com filhos?", explica.
Das inúmeras realizações em quase 30 anos de profissão, destaca a inauguração do Teatro do Sesi, em 1997, em um trabalho conjunto com Eduardo Bins Ely, quando tiveram a tarefa de preparar em detalhes a abertura da casa. Mais do que um desafio, a missão, que envolveu 1.800 convidados, é hoje para ele "um case de sucesso". Lembra também do evento que apresentou ao público o Sheraton Porto Alegre, para o qual forneceu seu mailing, em 2001. "Foi uma festa poderosa", define.
A escritora e jornalista Danuza Leão e o falecido colunista social Ibrahim Sued estão entre as personalidades que inspiraram Jacintho em sua trajetória. Diz que sempre teve em mente o desejo de um dia trabalhar com eventos e ser reconhecido por isso. Aos 16 anos, teve a oportunidade de conhecer Danuza e, claro, viu nela uma referência. "Ela era hostess, na (boate) Hippopotamus e nos recebia super bem. E, mais que isso, ela era um símbolo, um status para a casa. E o Ibrahim, acho que nunca houve ninguém igual", conta.
Pelo futuro
Na visão de Jacintho, o relações-públicas é no fundo um administrador. "Uma coisa é tu fazeres uma festinha, comprar um bolinho, uma Coca-Cola e chamar amigos. Uma festa em nível profissional, tu idealiza e executa. É algo complexo, tem todo um cronograma, nada pode dar errado. E tem ainda a gestão de imagem." A tarefa é ainda mais desafiante quando se trata de alguém com alto grau de exigência como ele, um perfeccionista convicto: "Sou "Cricri", não no termo que todo mundo usa, mas porque procuro fazer o máximo, corresponder às expectativas", avalia.
Viver um dia de cada vez é o lema que norteia sua vida e atitudes. Garante que não pensa em grandes planos para o futuro, pois acredita que o sucesso é resultado de um trabalho honesto e correto. "O importante é dar sempre o melhor de si. Tenho como lema ser hiperprofissional, porque o futuro nada mais é do que o reflexo do teu trabalho hoje". Para os tempos que virão, quer apenas se empenhar ao máximo para que a revista We se estabeleça "como um grande sucesso".
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