Marcelo Gonzatto: Verdade e precisão como valores inegociáveis

Jornalista há quase trinta anos do Grupo RBS, o profissional preza pela ética ao elaborar produções que flertam com seu genuíno gosto pela escrita

Crédito: André Ávila

Marcelo Gonzatto tem 50 anos de idade e mais da metade deles já foram dedicados ao Jornalismo. São quase três décadas na profissão que o escolheu e que ele adotou como um caminho inevitável e definitivo. Essa trajetória foi permeada pelo testemunho de muitos atos e contação de histórias de cenários, pessoas e elementos que compuseram as linhas escritas por seus relatos.

Ingressante no Grupo RBS em 1996, no jornal Zero Hora, Marcelo há 29 anos circula pelos corredores e pelas possibilidades que a profissão lhe permitiu viver como experiências não somente profissionais, mas que flertavam com o estilo Marcelo de ser. Em meio ao turbilhão e à adrenalina - no sentido mais genuíno e satisfatório possível - que somente o Jornalismo proporciona, ele já viveu intensas e perspicazes experiências. E, nelas, continuará e continuará.

Primeiros anos e início na profissão

Ele é um legítimo porto-alegrense, cuja parte do coração é dedicada à Região Metropolitana: aos três meses de idade, a família se mudou para Canoas, onde passou toda a infância e adolescência. Até os sete anos, residiu na Vila São José, e a partir daí, viveria no Centro da segunda maior cidade da área. Estudante do colégio Maria Auxiliadora, ele demonstrava apreço pela leitura e por disciplinas das áreas de humanidades e de linguagens, antecipando a linha fina com seu projeto de vida.

A facilidade com a escrita o colocou em uma trajetória de afinidade natural com o Jornalismo, passando longe de possibilidades como uma carreira na área da saúde - a ideia de conviver com sangue não o agrada até hoje. A área de Ciências Exatas não era convidativa, pois o chamado com a facilidade em Literatura era mais forte. Assim, a Comunicação o encontrava, aliada à vontade de saber e conhecer histórias, e transmiti-las de maneira precisa e eficaz.

1992 foi o ano de suas primeiras andanças na Ufrgs oficialmente como aluno. Aprovado para o curso da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), Marcelo iniciava, dessa forma, os estudos na área que seria sua carreira. Ali, surgia a chance do primeiro estágio, realizado no Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa - RS), que despontaria como o primeiro portal para uma trajetória de sucesso e seriedade na área.

Na ocasião da formatura, em 1996, sua organização já era outra, integrando o time de estagiários que auxiliavam na produção do Jornal da Federasul. Não demoraria e, uma vez mais, o profissional seria levado para outros caminhos, mas desta vez, para o local que o acolheria como morada profissional e que fomentaria sua trajetória de crescimento perante suas próprias memórias e talentos: o Grupo RBS.

Um genuíno filho da Rede Brasil Sul

De certa forma, a história de Marcelo funde-se com a da empresa, onde participou da estruturação de diferentes projetos e plataformas. Particularmente, ele se orgulha da postura que oferece diante de seus pares: "Sempre fui um bom colega, tentei ajudar ao máximo, principalmente colegas mais jovens", diz. Esse coleguismo iniciou ainda como repórter freelancer no então caderno Vestibular, publicado por Zero Hora. Seis meses depois, seria efetivado e alçado ao posto de repórter da editoria de Geral.

De setor em setor, Marcelo sempre buscou a qualificação no seu trabalho e a excelência, com ênfase na defesa da verdade e da precisão, valores que o orientam de forma incondicional. Lembra-se com apreço de um curso de Jornalismo Aplicado oferecido, na época, pela corporação, que lhe rendeu conhecimentos úteis até os dias de hoje.

Da editoria de Geral, migrou para o Segundo Caderno, ampliando a produção na área e permitindo vivências diferenciadas que o destacariam para outros postos dentro da própria redação. Hoje, integra o time de jornalistas dedicados à fidelização dos leitores de Zero Hora e GZH, produzindo conteúdo mais aprofundado e especializado para quem há anos já acompanha o que a empresa publica. Uma tarefa, para ele, com um doce sabor e com a experiência de quem já teve diferentes vivências à frente de coberturas, para dizer um mínimo, diferenciadas.

Calma, tranquilidade e resiliência. Essas sensações transmitidas por Marcelo em uma simples conversa com ele dialogam com seu fazer profissional e os preceitos que adquiriu na arte do Jornalismo, que encara com absoluta seriedade. Coberturas de acontecimentos emocionais impactantes para o grande público o tornaram um profissional que reflete essa sobriedade, a exemplo do acidente com o avião da TAM, ocorrido em 2007, e do incêndio na Boate Kiss, de 2013. "Essas coberturas cobram um preço da gente", diz ele, que encontra no ambiente descontraído da redação um alento para a continuidade frente a fatos profundos como esses. 

Ao mesmo tempo, também celebra as múltiplas coberturas que realizou diante de oportunidades que lhe proporcionaram viagens marcantes e a possibilidade de conhecer diversos países a trabalho, como Finlândia, Nova Zelândia e Inglaterra. O jornalista conta que um desses momentos inesquecíveis foi uma viagem ao México para participar da cobertura de um festival de Turismo em Acapulco, em 2009. No entanto, ao desembarcar no país, deparou-se com o surgimento dos primeiros focos da gripe A, então chamada de gripe suína. A cobertura, assim, que inicialmente seria cultural, transformou-se em uma correspondência direta sobre o crescimento dos casos e o espalhamento do vírus H1N1, numa escalada global contra a doença. Estar no epicentro dessa pandemia foi um momento que marcou sua trajetória enquanto profissional e indivíduo.

Profissão: Precisão

Marcelo é um comprometido nato com o Jornalismo e com a qualidade da informação que apresenta ao público. Rejeitando conselhos genéricos ou superficiais sobre a área a que se dedica há décadas, ele é enfático: é preciso estudar e saber sobre o que se escreve antes de fazê-lo. "A partir do momento em que tem tantas pessoas dispostas a usar a mentira como uma ferramenta, parece cada vez mais fundamental ter jornalistas que tenham como principal interesse apurar da forma mais isenta possível", ressalta, ao criticar os recentes episódios de informações falsas disseminadas pelos mais diferentes meios.

A busca pela precisão é uma de suas marcas, assim como o combate que trava à fragilidade ou desinteresse na apuração. Ao mesmo tempo, ele demonstra se ancorar na busca pelas melhores evidências disponíveis para sustentar a informação, fazendo uma defesa da profissão como ela deve ser: isenta, precisa e  verdadeira. "Nunca foi tão difícil ser jornalista, mas também nunca foi tão importante", declara.

O pai metaleiro fora da redação

De aura tranquila e serena, Marcelo demonstra calma e sapiência em suas histórias e memórias. Pai de Daniel e Matheus, o amor pela paternidade também já sofreu provas de resiliência. Um dos momentos mais delicados foi o transplante de coração realizado por um deles. Esse episódio que exigiu adaptação e sensibilidade com humores em meio à preocupação constante, mas que também demonstrou união em família e um final repleto de êxito e saúde.

O pai e jornalista Marcelo também cede lugar para o eterno jovem que encontra na música momentos de aconchego e, por que não, adrenalina? Marcelo é um metaleiro por talento, competência e gosto. Na adolescência, junto a amigos e a um primo, fundou uma banda de heavy metal, com a qual chegaram a conquistar o primeiro lugar no Festival Interno da Canção Anchietana, o Fica. Guitarrista, ele conta que retomou o hábito de tocar o instrumento em casa, durante a pandemia, após um hiato. O carinho especial é pela banda Dream Theater, de onde vem boa parte da inspiração e da qual se orgulha de ser "a que mais ouviu na vida".

Com a convergência entre os meios e o ambiente digital, ele tem se aproximado mais do rádio, de quem descobriu gostar - algo advindo das múltiplas possibilidades que a profissão oferece. Acompanhou diferentes etapas do Grupo RBS - integrou a primeira equipe online e acompanhou o lançamento do site de Zero Hora. Testemunhou o nascimento da redação integrada entre impresso, virtual e rádio. E, nas ocasiões, pôde exercitar sua paixão pela escrita, transicionando de textos de economia a pautas mais sensíveis.

A sensibilidade na profissão também exige atenção à temporalidade - intrínseca ao ofício e atualizada aos contextos. Junto aos jornalistas André Malinoski e Rodrigo Lopes, também do Grupo RBS, lançou a obra 'A enchente de 24', que reúne produções para Zero Hora e especialmente realizadas para o livro no contexto das cheias de 2024 no estado gaúcho. A obra está na 2ª edição e contou com extenso trabalho de pesquisa e entrevistas, compilando relatos, depoimentos e personagens que viveram na pele a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.

Um jornalista que reconhece a importância da profissão nos tempos emergentes tecnológicos e da necessidade de zelo pela verdade. A precisão como pilar. O metaleiro que, nos tempos livres, redescobre o prazer que os acordes trazem para o sopro cotidiano. Um homem atento ao seu tempo e às alteridades e (in)constâncias. Quando perguntado, porém, quem é ele por ele próprio, não titubeia em dizer: "É uma matéria que ainda estou apurando".

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