Mauro Belo: Duas carreiras lado a lado
Editor-executivo do Jornal do Comércio divide seus dias entre jornalista e professor de inglês
Buscar uma carreira que traga realização profissional não é uma tarefa fácil. E quando envolve manter duas em paralelo e, por vezes, uni-las a responsável por tal satisfação? Mauro Belo, conhecido no meio jornalístico pelo trabalho no Jornal do Comércio, é reconhecido por outros como teacher Mauro. Multitarefas, o editor-executivo, responsável pela edição do site, de cadernos especiais e de branded content do veículo, acredita que todas as suas experiências profissionais, em conjunto, o fazem um profissional melhor.
Ele, além de autônomo, já empreendeu com a mãe, quando pintavam objetos de decoração em gesso e vendiam em feiras, e já teve uma marca de alpargatas. Essas experiências, conectadas à de professor, ele acredita que tenham sido as causas pelo espaço dado para que ele fosse o responsável por desenhar e executar o projeto do caderno semanal Geração E, que deu visibilidade aos negócios gaúchos no impresso e no digital. Isso porque, antes de receber o desafio, o teacher Mauro fazia sucesso na internet, com um blog e canal no Youtube, abastecido com dicas rápidas e práticas de inglês. E foi com essa linguagem, leve e, ao mesmo tempo, informativa, que desenvolveu o projeto, no qual esteve à frente durante sete anos. "O formato do conteúdo das aulas chamou a atenção do jornal para que eu tivesse a oportunidade de pensar o GE desde a sua concepção, mas as vivências anteriores de negócios me permitiram ter maior facilidade para falar sobre empreendedorismo."
Nos dois últimos anos, mudou de função para a que está atualmente. O pedido, feito pela chefia do jornal, o preocupou. "Na noite em que recebi a notícia de que sairia do GE para o site, cheguei a perder o sono. Não me imaginava fora da rotina do caderno, mas hoje sou muito grato de ter ido para o site, porque é muito mais ampla a atuação. Sinto que tenho que estar por dentro de tudo e tenho contato com todas as áreas", conta. Mauro não é do tipo de editor que fica apenas na redação, aliás, uma das condições para aceitar a mudança de posição foi seguir saindo para a rua, tendo contato com diferentes pessoas e produzindo conteúdo. "O Jornalismo é a profissão mais completa porque ela traz a possibilidade de criar muitas conexões, conhecer lugares, pessoas e possibilitar vivências que não seriam possíveis de outras formas", sublinha.
Porém, são as duas profissões, juntas, as responsáveis pelos momentos de maior satisfação pessoal. A partir de seleções da Embaixada Americana, participou de duas missões internacionais, destinadas a jornalistas de todo o mundo. Na primeira vez, esteve na Índia e nos Estados Unidos (EUA) com profissionais de diversos países para uma agenda sobre empreendedorismo; na segunda, esteve nos EUA para uma programação voltada à inteligência artificial (IA). A experiência o permitiu que, durante a pandemia, realizasse lives com outros colegas com quem havia vivenciado a primeira viagem para que eles compartilhassem com a rede como estava o cenário em cada um dos países. "Temo pelo dia que vou ter que escolher uma das duas atividades. Espero que esse dia não chegue, porque não me imagino fazendo outras coisas", projeta.
Prioridade nas vivências
Ao longo dos seus 37 anos, foram muitos os destinos escolhidos pelo editor. Afinal, seu principal hobby é viajar, seja para percursos curtos ou longos. Em seu passaporte, soma mais de dez países, entre eles Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Itália, Inglaterra, Suíça e Canadá. Alguns deles foram a estudo, para aprimorar seu inglês em intercâmbios curtos, durante suas férias. Outros foram para turismo, afinal, para ele, viagem é prioridade, por acreditar que aprende muito sempre que conhece um novo lugar. "Entendo mais sobre a vida e vejo que o mundo é diferente e, ao mesmo tempo, parecido", reflete.
Apesar de manter as duas profissões, Mauro não se considera workaholic. Preza muito por aproveitar a vida e os momentos em família. No tempo livre, prioriza o tempo com a filha Aurora, de 4 anos, e com a esposa Fernanda, com quem compartilha a vida há sete anos, dois deles oficialmente casados. Entre os prazeres estão ir a parques, shoppings, ler muitos livros - em português e inglês -, especialmente romances, assistir a filmes e fazer programas culturais.
Gosta de andar de bicicleta e caminhar sem rumo e com a cabeça leve pelas ruas do bairro Tristeza, na Zona Sul de Porto Alegre, onde ele e sua família moram. "Valorizo muito os momentos livres. Jornalista tem que ter tempo para viver, para ter mais repertório. Isso enriquece nosso olhar e nosso trabalho, além de possibilitar mais conexões por onde passamos", defende.
Na redação, recebe de seus colegas brincadeiras sobre seu gosto culinário, o qual considera ter um paladar infantil. "Eles brincam que eu levo as comidas da Aurora", diverte-se ao contar. No entanto, entre os profissionais com quem divide sua rotina diária ele acredita que estão grandes inspirações. Dois exemplos são os colunistas Patrícia Comunello e Fernando Albrecht. "Ela está sempre muito empolgada com as pautas, uma vontade de quem está recém-formada, enquanto ele mantém o espírito de curiosidade sobre as coisas e se compromete a ir todos os dias para a redação", ressalta.
Vocação desde a adolescência
Nascido e criado em Porto Alegre, aos 13 anos, já escrevia artigos e crônicas para os principais impressos do Rio Grande do Sul. Além de se envolver com o jornal interno do colégio em que estudava, o Santa Dorotéia, na Zona Norte da Capital, concluiu o Ensino Médio com cerca de 40 textos publicados em veículos de Porto Alegre, os quais guarda até hoje de recordação. Entre eles, estiveram espaços como o do já extinto caderno ZH Escola, de Zero Hora, e um artigo em meio ao listão dos classificados no simulado do vestibular, em que ele contava sua experiência em ter participado da prova.
As mídias sempre foram muito presentes na sua família. O pai, o engenheiro Gilberto Schneider, lia jornal todos os dias e dormia escutando rádio. Já a mãe, a dona de casa Carmen Tereza Belo Schneider, assistia muita televisão. Também estão nas lembranças da infância o retorno das visitas à família em Garibaldi e Estrela, aos domingos, com jornadas esportivas no dial do carro, motivos de reclamações dele e das irmãs Raquel e Roberta. "Por essa relevância da imprensa na minha família, quando saía algum artigo meu, eu sentia uma importância muito grande de estar contribuindo e tendo minha opinião publicada em um jornal", recorda.
Foi na época da escola também que começou a dar aulas de inglês para colegas de aula e vizinhos. Durante a infância e adolescência, fez aulas com professor particular e, ainda jovem, decidiu repassar seu conhecimento, o que faz até hoje. Se pela manhã trabalha no JC, à tarde e à noite busca ensinar outro idioma aos seus alunos. A trajetória como professor teve uma pausa apenas no período em que atuou em Zero Hora, onde trabalhou durante quatro anos, tendo iniciado como assistente mesmo antes de concluir a graduação na PUCRS, em 2007.
Ele passou ainda pelo portal Terra, em uma cobertura de eleições, e atualmente, é correspondente na América do Sul de uma revista sobre máquinas agrícolas, a Diesel Progress International. Mas já são 15 anos de Jornal do Comércio, sem contar sua passagem anterior, enquanto estagiário da editoria de Economia. O seu retorno ao veículo foi para integrar a primeira equipe do site, onde está atuando novamente.
A diversidade na sua trajetória profissional é uma de suas características pessoais. Ele garante buscar sempre um olhar plural sobre as situações. Também considera ser transparente e honesto com quem está à sua volta, mas acredita que, como gestor, às vezes essas qualidades se tornam defeitos, apenas pela necessidade de filtrar melhor o que é repassado para a equipe.
Mauro acredita que já conquistou muita coisa em seus 37 anos e, por isso, define-se como uma pessoa feliz. As conquistas nos trabalhos, ele credita à sua tranquilidade em seguir o ritmo de cada passo: "Nunca fui muito ambicioso para alcançar cargos rapidamente, mas sempre coloquei muito amor em cada ato e acho que recebi muito em troca". Para o futuro, ele só espera boas experiências, seguir com o frio na barriga, gerando impacto na vida das pessoas e continuar tendo equilíbrio em todos os aspectos da vida. "Tudo passa muito rápido e temos que curtir a vida", conclui.