Gilberto Perin: Múltiplo Perin

Roteirista, diretor de arte e fotógrafo: as diversas facetas do jornalista Gilberto Perin

Por Karine Viana - 24/01/2014
Sem o perfil de garoto típico do interior, é fácil  entender por que a pequena Guaporé dos anos 60 não suportava os anseios de Gilberto Luís Perin, então menino. Nascido em 28 de dezembro de 1953, ingressou na primeira série já alfabetizado, leu uma adaptação de Dom Quixote ainda nos primeiros anos escolares e pegava emprestado da vizinha revistas como O Cruzeiro e Cinelândia. Criança, não imaginava que o que visualizava nas publicações o conectava indiretamente ao próprio futuro profissional.
Herdou dos pais não só a noção do que significa a batalha diária, como também características que lhe são válidas principalmente no dia a dia da profissão. Do pai Nillo, motorista de caminhão, o lado observador e viajante; da mãe Maria Carmen, dona de casa, a capacidade de imaginação. Na infância, não só parecia além do seu tempo, como também gostava de quebrar regras, tanto pelo time que torcia quanto pela profissão que escolhera. Era gremista para contrapor ao clube pelo qual torciam os pais, a irmã e o irmão, e como carreira optou por aquilo que não era seguro. "E não é até hoje", brinca.
Longe da burocracia
Os diferentes caminhos profissionais que se apresentaram a Perin sempre tiveram, de alguma forma, conexão. Em contrapartida, como imaginar que um fotógrafo, roteirista, diretor de cena e jornalista também tem aptidão pela matemática? Pois a paixão pelos números o levou a cursar Matemática por um semestre, período em que se envolveu na confecção de um jornal com alguns colegas de faculdade e optou por trocar números por palavras, período que durou quatro anos, entre 1973 e 1976, quando se formou pela Famecos. Hoje, o comunicador acredita que a matemática rege o mundo, incluindo a comunicação. Da Fórmula de Fenerbahce, conhecida na fotografia, à montagem de um curta-metragem e distância entre os planos. Perin ainda vai além: "Ela facilita o raciocínio da gente, obriga a gente a desenvolver coisas também na vida. Eu nunca entendi por que as crianças, meus colegas, não gostavam de matemática".
Do trabalho com os números, na prática, o único contato se deu apenas com o primeiro emprego em um banco quando chegou à Capital, no início dos anos 70, para estudar. Depois, seguiu-se uma trajetória de redação, produção e imagem. Poderia parecer uma miscelânea de áreas simplesmente afins se não fosse pela estabilidade conquistada por Perin em cada um destes segmentos. Neste sentido, ao ser confrontado sobre qual outra profissão seria escolhida por ele, o jornalista sorri e lembra: "Uma amiga minha me disse que sou renascentista, que essa é minha profissão: os renascentistas nunca faziam uma coisa só. Realmente, não me imagino em profissões mais burocráticas".
Enquanto relembra as atividades da vida adulta, ao natural as relaciona às aptidões desenvolvidas durante a infância, como o teatro e o contato com audiovisual e fotografia. Quando criança, sua turma cobrava ingressos dos vizinhos para assistirem a peças teatrais realizadas nas garagens. "Minha mãe conta que servia goiabada com queijo durante as apresentações", recorda. A página preferida de uma das revistas emprestadas pela vizinha chamava-se "Por trás das cenas", que mostrava os bastidores de Hollywood, o que pode ser considerado o primeiro contato de Perin com a área.
Dos buracos de rua aos filmes
Paralelamente ao teatro, Gilberto Perin teve a primeira empreitada no jornalismo trabalhando no Diário de Notícias, em 1973, época em que as matérias eram redigidas em máquinas de escrever. Diariamente, uma Kombi deixava a redação no início da tarde levando os jornalistas até o centro da cidade, mais precisamente na fonte da Prefeitura. Após as 18h, o motorista voltava para recolher os repórteres com ou sem uma pauta pronta em mãos. "Foi um período interessante, quando cobri de tragédias de enchentes a pautas culturais", recorda.
O jornalista ainda era estudante quando saiu do Diário de Notícias para o Departamento de Promoções do Grupo RBS e, em seguida, para o Jornal Hoje, onde permaneceu por apenas nove meses devido ao fechamento inesperado do diário. Dali, seguiu em viagens com o teatro, através de projeto promovido pela Secretaria de Cultura, até voltar à RBS apenas para a divulgação de um dos espetáculos. Mas a ocasião serviu para receber o convite para retornar à empresa, dessa vez para trabalhar na TV, onde começou como produtor, passou a diretor e chegou à gerência de produção. No entanto, ao acreditar que não estava fazendo aquilo que realmente gostava, pediu demissão.
Durante oito anos, Perin se aventurou por uma área incomum para jornalistas. Foi dirigir trabalhos na área da publicidade, atuando em projetos como freelancer. Era preciso correr atrás dos roteiros, numa época em que nem o fax existia. Confessa que era um diretor de publicidade clássico e considera que não se deu bem, mas aprendeu muito. Tanto, que foi diretor exclusivo desta área na Escala por longos cinco anos e, posteriormente, da produtora Zero Cinco. Depois disso voltou para a TV na área de programas especiais. Aí aconteceu o projeto dos Curtas Gaúchos, em 1999, onde atuou durante 15 anos.
Organização como destaque
Gilberto Perin é uma pessoa organizada. Por vezes, demais. Capricorniano com ascendente em Sagitário, se considera rigoroso, mas com facilidade de se adaptar às situações. O rigor, por sua vez, já o fez ser confundido com alguém genioso. Hoje, afirma lidar melhor com a incessante busca pela suposta perfeição e acredita que aprendeu a usar bem a adrenalina nos processos de criação. Quanto ao semblante sério no trabalho? Talvez não passe de fachada, já que Perin confessa-se extremamente afetivo, embora assuma que conta com uma aparência contrária.
Foi justamente essa organização, atrelada ao antigo método de ensino da faculdade, que ensinava jornalismo, fotografia, publicidade e relações públicas, que possibilitou a caminhada de Perin por diferentes áreas da comunicação. A capacidade de experimentar também foi peça-chave no âmbito profissional do jornalista. "Acho que o que me leva a isso é tirar a melhor parte de tudo o que se faz. Poder dar criatividade a estas áreas é o melhor. Acho que o que me possibilitou transitar por diferentes áreas foi isso e principalmente uma coisa chamada experimentar", afirma, lembrando que experimentar, no entanto, além de difícil, traz instabilidade, inclusive econômica.
Projetos fotográficos
Está claro que criar é a preferência de Perin. E a fotografia tem lhe permitido isso com alguns projetos - sorrindo, lembra que todo escritor ou artista sempre tem algum projeto em andamento. E embora seja adepto desta arte desde os anos 60, quando fotografava com uma Flika com caixa de plástico, foi só a partir dos anos 2000 que começou a organizar suas imagens e manter esta atividade paralelamente.
A exposição que projetou Gilberto Perin fotógrafo mostra os bastidores de um clube de futebol, o Brasil de Pelotas. Chama-se Camisa Brasileira e já percorreu todo o Estado, algumas cidades do País e teve parte exposta na França. Além desta, outras fotografias com a assinatura de Perin também foram mostradas em diferentes cidades. Atualmente, Fotografias para Imaginar é o mais novo projeto a ser conferido. Outros, ainda engavetados, poderão ser conferidos em breve.
Solteiro e sem filhos, uma opção pela qual foi se deixando levar, o jornalista prevê um futuro com muitas viagens, embora já conheça boa parte do mundo, e imagens. "Estou num momento cronológico da vida, com essa mudança de idade, de ciclo de vida", acredita. Apenas duas semanas depois de apresentar o pedido para deixar a equipe do Histórias Curtas, na RBS TV, Perin brinca ao lembrar que assinalou aos colegas que não mandaria e-mails cheios de firulas para dizer que estava indo em busca de novos desafios. Estes, sempre foram constantes na vida do jornalista, que está apenas na busca de novas possibilidades. "É sempre um desafio", arremata.
 
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