Nádia Yacoub: Publicitária desde criança

Apaixonada pela profissão, ela tem o trabalho como para importante da vida e o desempenha com prazer

É comum a quase todas as crianças - se não a todas - o gosto por assistir televisão e poder acompanhar os programas e filmes preferidos. Com Nádia Jraige Yacoub, não era diferente e não deixava de lado o horário de se sentar em frente à TV. Porém, algo era incomum: enquanto as demais meninas e meninos corriam para assistir algum desenho, ela estava mais interessada nas propagandas que iam ao ar nos intervalos. Depois disso, a brincadeira começava, quando cantava os jingles que acabara de ouvir. 

Foi aí que o gosto pela Publicidade tomou conta dela e, anos depois, já em 1990, formou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A instituição de ensino, inclusive, é protagonista de outra parte importante da vida de Nádia. Foi na biblioteca do campus que conheceu o marido, o jornalista Alexandre Bach. "Eu estava procurando um livro do Paulo Freire, mas não encontrava, e ele achou para mim", relembra. Da relação, que já completou três décadas, vêm os filhos: a Lara, de 26 anos, e o Gabriel, de 22.  

A família, uma de suas paixões, é muito importante para a publicitária, que vem de um berço muito unido: "Não abro mão de estar com eles. Gosto de passar um tempo com as pessoas que amo. Cresci com isso". Descendente de libaneses, o pai migrou para o Brasil, enquanto a mãe é uma brasileira, filha de nascidos no país árabe. Como contou, pelos familiares terem vindo de outros lugares, tinham apenas a si mesmos, o que criou um laço muito forte entre eles. "Sempre fomos bastante unidos. Meus primos são praticamente meus irmãos, pois fomos criados todos juntos. O imigrante é bem apegado a manter isso", pontua.

Aos 55 anos, sente-se realizada com tudo o que conquistou até aqui, tanto profissionalmente quanto no âmbito pessoal. Apesar disso, ela não abre mão de conhecer novos países, já que viajar é algo que não vive sem. Há quase três décadas atuando na Zepp Filmes, a hoje gerente de projetos vê a vida profissional na empresa com muita felicidade. "Realizamos tantas obras lindas, estivemos entre as cinco melhores produtoras do Brasil, estando fora do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde estão os principais escritórios. Acho que minha carreira é muito produtiva e de sucesso", disse. 

Trabalho é paixão

O trabalho faz parte da vida de Nádia quase que de forma integral, a ponto de que o tem como uma grande paixão, pelo prazer de desempenhá-lo. Não à toa, uma das suas atividades favoritas, que é tratado como um hobby, também se liga diretamente com a parte profissional: o Cinema, do qual tira referências para a profissão. "Apesar de eu não ter uma função na Criação, cada filme é produzido em equipe. Então, muitas vezes, o diretor cita alguma película ou série que a gente já viu e podemos criar em cima disso. E isso é muito importante", avalia.

Também por essa entrega, vê o trabalho na Zepp como algo familiar, por estar entre amigos que, inclusive, viram os filhos uns dos outros crescerem e serem criados de forma muito próxima. "Fui convidada para trabalhar junto com amigos, sempre me senti valorizada ali. E isso torna as coisas mais fáceis", opina. Há 29 anos na empresa, ela teve quase toda a carreira lá, mas sempre esteve atrás de desafios, algo que a motiva diariamente. Um deles foi ser, em parceria com a Perestroika, sócia da Área 51, um condomínio de companhias que dividiam o mesmo prédio. "Participei da implementação e do gerenciamento, além do E2, um grupo sobre dinâmicas para a solução de conflitos, em negócios que estavam iniciando."

É da universidade que ela traz uma de suas principais referências, o publicitário Laerte Martins que, inclusive, era primo de sua mãe. Mesmo sendo da mesma família, a relação entre os dois só se aproximou na faculdade: "Antes, eu não o conhecia a fundo. Só sabia que existia um parente que fazia algo ligado à Publicidade e que morava no exterior". O contato, porém, ficou ainda maior quando trabalharam juntos na extinta agência SLM, já que o profissional era um dos sócios. "Pena que ele faleceu tão repentinamente. Mas, até isso acontecer, nós conversávamos muito e nos ajudávamos", lamenta.

E foi o início da carreira que moldou toda a trajetória da publicitária. A primeira experiência em agência foi na Publivar, onde participou de um escritório júnior. "Eles lançaram um desafio em que precisávamos criar alguns layouts e campanhas fictícias. Depois disso, escolheram um estagiário para cada área", conta. Apesar do desejo inicial ter sido trabalhar na Criação, ela foi selecionada para o setor de Produção, lugar que ocupou "a vida toda". 

Boas lembranças

Da infância com a família, Nádia traz as melhores lembranças, entre elas, os kibes do pai Antônios - com s mesmo, por conta de um problema na hora do registro -, comida preferida ou, como costumeiramente diz, afetiva. Naquele tempo, passava o dia na casa da avó Afiffe, que ficava acima do mercadinho tocado pelos pais, e era onde assistia aos comerciais e fazia as leituras prediletas, sem esquecer, também, dos quitutes, como as massas, pastéis e bolinhos preparados pela matriarca. 

Colorada, cresceu nos anos 1970 e viu um Internacional tricampeão do Brasil por influência do tio Antônio. "Ele era bem fanático. Colocava todos os sobrinhos no carro sempre que o time vencia e saía a buzinar pela cidade com uma bandeira gigante", lembra. O coloradismo foi passado para os filhos, especialmente para Gabriel, que até hoje frequenta o Beira-Rio. Todos eles foram influenciados pelo avô de Nádia, Jarjoura, que, ao chegar em Porto Alegre, deparou-se com dois clubes, sendo que apenas um deles aceitava a participação de negros: "Ele tinha a pele bem escura, da região do Mediterrâneo, por isso quis ser colorado". 

Ainda quando criança, fazia teatro, o que impulsionou o gosto pela Comunicação. "Eu era tímida e as aulas me fizeram ficar mais solta, o que me ajudou a ir para a área para desenvolver a minha parte comunicativa", explica. Quando as famílias das amigas do grupo de bandeirantes que participavam se reuniam em jantares, era o momento de, junto delas, mostrar os talentos aprendidos: "Nos juntávamos e fazíamos apresentações no meio da sala".

Amante de cultura

Enquanto no trabalho a rotina de Nádia é mais imprevisível, no âmbito pessoal faz questão de tirar tempo para as coisas importantes, como o cuidado com a casa e a prática de atividades físicas. Outro aspecto do qual não abre mão é o convívio com a Cultura. Desde a adolescência é ligada a este mundo, principalmente aos filmes, o que a fez, inclusive, perder namorados, como brincou: "Eu não perdia um especial, como os do Akira Kurosawa e do Pier Pasolini". Por isso, cresceu indo aos cinemas de rua, mais comuns na época, como o Bristol e o Baltimore, que ficavam na Avenida Osvaldo Aranha, em Porto Alegre. O gosto pela sétima arte veio da mãe Marlene, que a levava, junto do irmão, Marco Antônio, para prestigiar as produções. 

Os passeios culturais também se estendiam à Feira do Livro: "Ela nos dizia que cada um podia comprar três obras. Era muito legal". Até hoje, ela faz questão de mantê-los, mas com outros destinos, como as idas à Fundação Iberê Camargo ou ao Farol Santander para conferir as exposições. Além disso, vê a lista de séries e títulos ainda não assistidos ou lidos só aumentar e se diverte ao dizer que "uma existência não vai ser suficiente para acompanhar tudo".

A publicitária também não renuncia às viagens para conhecer novas culturas, já tendo estado em diversos países europeus e latino-americanos. Para ela, todos deveriam ir, pelo menos uma vez por ano, a lugares que não conhecem. Desde criança, as aventuras estão presentes em sua vida, com idas à praia com os pais. Quando conseguiu juntar dinheiro pela primeira vez, fez questão de pegar um avião e ir ao Rock in Rio, onde pôde assistir Elton John, que, junto com Queen, Titãs, Legião Urbana são seus nomes preferidos quando o assunto é música, sem esquecer Rita Lee. "É minha vida", resume. Cerca de 20 anos depois, ela refez a ida ao festival, mas dessa vez com a filha. 

É possível dizer que as viagens têm relação com tudo aqui que é importante na vida de Nádia: a família, o trabalho e a cultura. Talvez por isso ela traz como lema uma frase de Amyr Klink, navegador e escritor brasileiro, que foi a primeira pessoa a atravessar o Atlântico Sul em um barco a remo. "Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens ou livros. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser."

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