Patrícia Comunello: Feeling para boas histórias

Conheça a trajetória e as preferências da profissional que mescla a dedicação pelo trabalho com a paixão pela economia

Patrícia Comunello - Crédito: Fredy Vieira/JC

Ela é reconhecida por sua atuação no Jornal do Comércio, especialmente na editoria de Economia, inclusive foi condecorada com o Prêmio Press de Jornalista do Ano em 2017. Além disso, é tida pelos colegas de mercado como uma companheira divertida de conviver e bastante competente. Mesmo assim, Patrícia Comunello, humildemente, diz: "Não sou nenhuma pessoa muito interessante". Revela que gosta de ficar em casa quando não está na redação e, dentre as atividades que aprecia nos momentos de folga, estão cozinhar e conversar com os amigos.

Comunello tem 48 anos de idade, 30 dos quais dedicados à profissão que escolheu ainda na adolescência, pela facilidade que sempre teve em se comunicar. Herdou do pai, Claudino, o apreço pela leitura, prática que também contribuiu para decidir a carreira. Aliás, falar da figura paterna é fácil para a jornalista, que não esconde o orgulho do agrônomo. "Ele lê de tudo, está sempre bem informado. Acho que puxei isso dele e gostamos muito de trocar ideias", conta.

Com sotaque forte, é fácil dizer que ela não é porto-alegrense. Inclusive, nem no Rio Grande do Sul nasceu. É natural de Capinzal, em Santa Catarina, terra natal da mãe, Rosemary, e veio para o Estado quando decidiu prestar vestibular em Santa Maria, na UFSM. Em terras catarinenses, ainda morou em Concórdia e finalizou o Ensino Médio em Florianópolis, para onde voltaria anos mais tarde, já como jornalista formada.

Uma superescolha

Mudar-se para Santa Maria e se graduar na universidade federal do município foi uma superescolha para Comunello. "A cidade é ótima, te dá uma bagagem absurda, com muita coisa para conhecer e trabalhar", lista, ao comentar que deu início à carreira ainda na faculdade, onde atuava na rádio da instituição de ensino. Ela lembra que "era metida" e aproveitava todas as oportunidades que surgiam. Foi numa dessas que também teve experiência em fotografia, como freelancer.

Depois, sua trajetória seguiu para o jornalismo impresso, quando, ainda na cidade universitária, foi contratada como correspondente de Zero Hora. Por isso, deixou de lado a segunda faculdade, a de Economia, paixão que voltou a encontrar enquanto jornalista. Também foi aproximadamente nessa época que deu à luz Clara, hoje com 23 anos.

A maternidade inesperada, segundo revela, mudou sua vida. "Foi totalmente sem querer e ela teve que entrar no meu ritmo", recorda, contando que a filha é fruto de um antigo relacionamento, e o ex-companheiro faleceu quando Clara tinha apenas três anos de idade e eles já não estavam mais juntos. "Eu levava ela nos plantões e, por não ter nenhum familiar por perto, muitos amigos me ajudaram. A Clara teve vários 'pais e mães' ao redor", reconhece, mencionando que, "graças a Deus", a filha escolheu outra área de estudo que não o Jornalismo, e se graduará em Engenharia de Minas, na Ufrgs.

Ponte aérea

Os tempos de correspondente em Santa Maria são lembrados com carinho, pois foi naquele período que, afirma, aprendeu a ser jornalista. "É uma experiência que te dá preparo para tudo. Voltaria a ser correspondente em qualquer lugar", declara e enaltece: "É preciso pensar nas pautas, ir atrás, saber de todos os telefones e fontes, escrever, tirar foto, e fazer vídeo. É completo. Depois disso, tu fazes qualquer coisa".

Após dois anos na função, foi convidada para integrar o time de ZH em Porto Alegre, até ser chamada, 18 meses depois, para formar a equipe do ClicRBS em Santa Catarina. "Me chamaram, pois eu era natural de lá e queriam alguém que conhecesse a região." Era o começo da onda do online, e Patrícia lembra que sentiu isso em sua primeira experiência internacional enquanto profissional de imprensa. Foi em uma feira em Chicago, nos Estados Unidos, que percebeu que a internet era o futuro. "Lá, eles todos já usavam e-mail e no Brasil ainda mal sabíamos o que isso significava ou como funcionava."

Em Santa Catarina, respirou intensamente esse movimento digital que se instalava, aos poucos, no País, assim como vivenciou o desafio de fazer a interação entre TV, rádio, jornal e internet. A experiência, informa, foi extremamente válida, mas estava decidida a voltar ao Rio Grande do Sul. Sem conseguir negociar o retorno por meio do Grupo RBS, deixou a empresa e passou a fazer parte da equipe do portal Terra, no qual, assegura, aprendeu realmente o que é o veículo internet: "Foi um baita aprendizado". 

A área de assessoria de imprensa surgiu mais tarde. Trabalhou em algumas empresas até começar na Comunicação do Simers (Sindicato Médico do Rio Grande do Sul), em 2004, a qual deixou recentemente, em janeiro de 2019. O motivo se deu pela dificuldade de conciliar o trabalho com a reportagem no Jornal do Comércio, função que executa há 10 anos.

Ela conta que ficava no jornal no turno da manhã e, à tarde, ia para o Sindicato. Além de acreditar na credibilidade e no trabalho sério da entidade, serviu para complementar a renda. Combinar ambas as funções ficou ainda mais complicado quando, em 2016, foi chamada para contribuir com o site do JC, a convite do ex-colega e então editor do portal, Paulo Serpa Antunes. E, no meio de tudo isso, quem diria, voltou à universidade, dessa vez na Ufrgs, para cursar Ciências Sociais. Fez, também, um MBA para jornalistas da Bolsa de Finanças e uma pós-graduação de Jornalismo Digital na PUC.

Tem, também, participado da produção de livros liderados pela colega do JC Patricia Knebel, a quem muito admira. Os títulos - seis no total - conta, vão fundo nas transformações do mundo digital. 

Vícios da vida

A cidadania italiana faz por merecer. Além do sobrenome oriundo da Itália - mais uma herança do pai -, massa é, de longe, sua refeição preferida. Quando o molho é Carbonara, então, é a primeira a sentar à mesa. "Aonde vou, sempre provo para saber qual é a melhor. Por mim, comeria todos os dias", afirma. Já quando é a sua vez de 'pôr a mão na massa', prefere fazer saladas e inventar diferentes pratos. Mas, na realidade, confessa que "gosto do que as pessoas fazem e eu posso comer", diz, aos risos. E aproveita para desfrutar dos preparos da filha, com quem mora.

Outra paixão é o tradicional chimarrão. A bebida típica do Sul a acompanha a qualquer hora e sempre que possível. Inclusive, é a primeira coisa que prepara de manhã e quando chega em casa depois de um dia de trabalho. "É um ritual, assim como ligar o rádio para me informar." Como não seria diferente, inteira-se das notícias, também, pelo jornal, e quando o assunto é literatura, tem optado por obras relacionadas à profissão, especialmente no digital. Ainda, complementa o hábito com leituras ligadas à sociologia e algo de ficção científica.

Assiste pouco à TV, é verdade, e quando o faz, prefere os canais jornalísticos. Mas à noite, admite que é noveleira. "Acompanho quando a trama é boa, pois é um momento para desligar a cabeça", avisa. Não tem ido mais ao cinema, optando por ver alguns filmes na Netflix. Séries, porém, não estão na sua lista. "Me sinto perdida quando as pessoas começam a falar sobre isso", assume. Uma produção que acha linda e que até tem o DVD é 'O Jardineiro Fiel', pois tem "atores bons, trilha maravilhosa e história forte". Tem visto, ainda, algo ligado à produção de vídeo na internet e comenta o trabalho dessa área no The New York Times, o qual tem como referência e inspiração.

Quer voltar a fazer atividade física, uma das metas para 2019. Surpresa ou não, conta que, na juventude, jogava basquete e vôlei e que foi até escolhida a melhor jogadora de basquete de Santa Catarina, quando tinha cerca de 15 anos. "Fui matéria no jornal por conta dos Jogos Escolares Estaduais. Naquela época, nem tinha ideia do que era o Diário Catarinense", lembra, divertida.

No quesito religião, foi batizada, fez crisma e primeira comunhão na igreja católica, mas agora não pratica, pois acredita que isso nada mais tem a ver com quem é hoje em dia. Garante que, mesmo assim, não tem nenhuma restrição quanto às crenças. "O fato de eu ser bastante cética quanto a isso atrapalha. Além de tudo, sou muito racional. Sei que uma coisa não exclui a outra, mas acabo deixando em segundo plano", divaga, reforçando que considera a espiritualidade um fator importante, e se fosse para escolher alguma, seria algo mais para o lado do Budismo.

Torce para o Grêmio por conveniência, pois os pais e os quatro irmãos, Ricardo, Fábio, Alexandre e Cláudia, são tricolores. Com um sorriso, explica outro motivo da escolha: "Sou Grêmio por causa do Renato (Portaluppi), que faz um bom trabalho". E projeta, brincando: "Um dia ainda faço uma matéria com ele. É meu objetivo de vida". Logo admite que, ainda assim, nunca foi à Arena assistir a uma partida do clube. Na adolescência, em Santa Catarina, porém, sua preferência era o Flamengo, "igual a todo mundo, pois sou muito original", brinca.

No topo da lista de preferências musicais está a norte-americana Norah Jones, a quem ainda espera ir a algum show. Também escuta MPB, blues, jazz, e música instrumental. Adora assistir a espetáculos de orquestra e, para variar um pouquinho, ouve canções do Sting e Jack Johnson. Com essas especificidades, pode-se dizer que Patrícia é um pouco eclética, mas o que não entra de jeito nenhum na sua playlist é música tradicionalista. "Não gosto, pois não tenho identificação nenhuma", avisa.

Sexto sentido

Com faro aguçado para boas histórias, a jornalista adora ir para a rua em busca de personagens e cases para contar. O que a deixa realmente satisfeita é ser surpreendida com algo inesperado em uma pauta pré-agendada. E a Economia, curso que teve que abrir mão há alguns anos, veio ao seu encontro, mais uma vez, para preenchê-la enquanto profissional. "'É uma área que te dá uma base boa para tudo. A nossa vida passa por isso o todo tempo, pois tudo o que fazemos tem relação direta com a economia", analisa.

Diz que até poderia fazer outras coisas além de atuar como repórter; no entanto, acha difícil se desvencilhar do Jornalismo, afinal, "é o que sei fazer". Mesmo ciente de que 30 anos é uma bela trajetória e satisfeita com tudo o que fez pela profissão, espera fazer ainda mais, principalmente nessa era digital. "Não estou realizada porque tem muita coisa legal para cumprir."

No fim das contas, Comunello gosta, mesmo, é de fazer narrativas, sejam elas relacionadas à economia ou não, desde que tenham impacto humano. "Se eu pudesse, levaria rapidamente todas as histórias para o ar, pois acho que todos têm algo relevante que merece ser contado. Tenho um bom feeling para isso."

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