Pedro Haase Filho: Um jornalista entre livros

Formado em História e Jornalismo, Pedro Haase Filho conta como passou do cotidiano da redação para a produção editorial, sem arrependimentos

Para quem o encontra pessoalmente pela primeira vez, não imagina que aquele jornalista pontual, tranquilo, às vezes até comedido, tem uma história tão rica de experiências pessoais e profissionais. Seria uma inquietação natural da profissão, desejo de vivenciar coisas novas e diferentes, vontade de estar se atualizando, se reinventando, crescendo e conhecendo ou tudo isso ao mesmo tempo?
Pedro Haase Filho, 57 anos, é conhecido no mercado gaúcho pela sua passagem pelo Grupo RBS. Afinal, foram 15 anos de empresa, sendo 10 deles à frente da RBS Publicações. Essa experiência ö levou a criar a Quati Produções Editoriais, em março de 2010. Desde então, vem atuando na concepção, produção e finalização de publicações impressas, especialmente livros e revistas.
Guri, brincando de cinema
Filho de uma típica família de classe média, Pedro é natural de Pelotas. O pai, Pedro, era funcionário da Caixa Econômica Federal, e a mãe, Moema, professora primária. "Os dois estão aposentados e têm 86 anos de idade", sorri. Pedro também tem um irmão, Paulo, que é geógrafo e, hoje, mora em Recife, Pernambuco.
Na infância, foi incentivado a ler. "Minha mãe gostava muito de ler e, em casa, tínhamos livros, jornais e revistas à disposição. Cresci no meio disso", lembra. Outra recordação de menino está centrada nas telas. "Morava a duas quadras do Cinema Avenida. Todo domingo era sagrado: ia à matinê com os primos, assistia a dois filmes e depois a brincadeira era sobre a história do filme", recorda.
A família de Pedro saiu de Pelotas e foi para Camaquã. "Meu pai foi transferido para ser gerente naquela cidade. E eu era um guri de Interior, vivia na rua, jogando bola, brincando na praça", diverte-se. Aos nove anos, Pedro foi morar em Porto Alegre. "O início foi difícil, pois não conhecia ninguém, fui morar em apartamento, mas no colégio deu tudo bem", conta.
Medicina? Psiquiatria? História!
Pedro foi admitido no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, no primeiro ano do ginásio (primeiro grau). Quando terminou o ginásio, aos 14 anos, os testes vocacionais apontavam para o clássico, para a área de humanas. Mas ele tinha o sonho de ser psiquiatra e acabou optando pelo científico. "Física, química e matemática eram minhas piores notas, sempre", lembra, brincando: "Achei que não era bem aquilo?".
Nessa época, decidiu fazer um intercâmbio cultural nos Estados Unidos. Antes de viajar, precisava fazer a inscrição para o vestibular e a dúvida era grande. Sabia que não conseguiria passar em Medicina sem muito estudo e sem pagar um cursinho pré-vestibular. Optou pela História. "Assim eu mudei radicalmente meu destino na área profissional", resume.
Jornalismo, meio por acaso
Entre 1973 e 1974, Pedro participou de um programa de intercâmbio e estudou na General MacArthur High School e residiu durante um ano com uma família norte-americana na cidade de Levittown, em Long Island, Nova York. Nesse período, aproveitou para estudar disciplinas como História, Fotografia, Cerâmica, Espanhol, Inglês, além do currículo básico.
Pedro ingressou em História, na Ufrgs, em 1975. Durante o curso, ele se envolveu com o movimento estudantil, chegou a ser vice-presidente do DAIU (Diretório Acadêmico dos Institutos Unificado) e colaborou com o jornal Olha a pinta do pinta. "Sempre gostei de ler, me envolvi com o jornal do diretório e aí comecei a tomar gosto por escrever", conta. Assim resolveu fazer vestibular para Jornalismo, "sem estudar", e passou.
No meio do curso de História, em 1977, começou o curso de Jornalismo, na Fabico/Ufrgs. E já abraçou a primeira oportunidade de emprego, indicação de uma colega de faculdade que havia sido chamada pela Rádio Gaúcha, como redator da antiga Cultura Pop FM, que foi a primeira emissora FM de Porto Alegre, na época, dirigida por Antônio Carlos Contursi, o Cascalho, e por João Batista Schüller, o Johnny Megaton. "Nunca mais abandonei o Jornalismo", revela.
Começando a se virar sozinho
Quando voltou dos Estados Unidos, Pedro começou a dar aulas de inglês. Ele queria sair da casa dos pais, buscar a sua independência. Assumir o primeiro emprego, aos 22 anos, e ainda no início da faculdade, não foi complicado. "Parece que foi natural. Gostava do que fazia e tinha facilidade para escrever", pondera.
Aos 23 anos, foi morar com uma companheira. Trabalhava como redator, dava aula de inglês e cursava História e Jornalismo. "Aos 23 anos a gente consegue fazer esse tipo de coisa, não sei como", brinca. Em agosto de 1977, aquela mesma colega deu a dica: tinha uma vaga de redator na Gaúcha, no horário das 20h às 3 da madrugada. E lá foi o Pedro trabalhar com o editor José Manosso e com o chefe Luiz Figueredo. "Ele foi um cara muito importante para minha carreira", afirma. De redator do jornal da manhã, foi produtor dos programas Sala de Redação, com o Cândido Norberto, e Atualidade, com o Mendes Ribeiro, e foi editor de notícias.
Em 1979, Figueredo o convocou para ingressar no Correio do Povo, para trabalhar no Caderno de Esportes que circulava aos domingos. O caderno tinha uma editoria própria, era uma oportunidade para redigir matérias especiais. Ali ele ficou até 1981, quando se formou em Jornalismo. E decidiu largar tudo. "Era um trabalho muito bom e eu larguei. Sempre fui muito desapegado a cargos. Sempre trabalhei com a intuição e com a vontade de fazer", revela.
Do esporte para a política
Pedro foi viajar. Ficou sete meses entre os Estados Unidos e a Europa. Na volta, em 1982, foi trabalhar na editoria de Política do Correio do Povo, com o José Barrionuevo. A transição do rádio para o jornal não foi um problema. "Era uma coisa que eu queria. Adoro rádio, sou um ouvinte assíduo de noticiário, de esporte. Mas eu queria escrever em jornal", conta. Mas do esporte para a política, foi diferente. "Fazia a cobertura da Assembleia Legislativa, tinha uma relação com os deputados, era outra postura. E, por ser um pouco tímido, nunca fui um cara de frente. Sempre fui um jornalista mais de cozinha, de edição, de texto final. Mas acho que cumpri bem o meu papel", considera.
Pedro mais uma vez largou o jornalismo e foi morar em Florianópolis. "Foi um ano sabático", revela. Ele e o irmão compraram um terreno no Canto da Lagoa e resolveram construir uma casa, com a ajuda de dois amigos e de um arquiteto. "Fiquei um ano sem trabalhar, vivendo do que tinha", conta. A casa ficou quase pronta e ele acabou voltando para Porto Alegre, náo sem antes contratar alguém para terminar a construção.
Espírito inquieto
No final de 1983, atendendo a novo convite de Luiz Figueredo, lá se foi trabalhar na Rádio Guaíba. Depois, passou pela Rádio Bandeirantes, como coordenador do Departamento de Esportes; pelo Diário Catarinense, como subeditor de Esportes, época em que participou da criação do jornal, que teve a primeira redação informatizada do Brasil; pela Seac (Secretaria Extraordinária de Ação Comunitária), no Rio de Janeiro, como editor do jornal mensal Brasil Comunitário; pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), como professor-substituto de Rádio Jornalismo; pela Zero Hora, como repórter da editoria de Esportes, com o editor Nilson Souza.
Em 1989, Pedro casou-se com a jornalista Iria Pedrazzi, que conheceu no Diário Catarinense. Dois anos depois, o casal trabalhava na Zero Hora, quando "deu de novo aquela vontade de fazer uma coisa diferente". Pediram demissão e sairam a viajar. Foram 18 meses fora do País, entre os Estados Unidos e a Europa. Na Califórnia, na cidade de Berkeley, moraram cerca de um ano. "Lá, fiz de tudo. Na Universidade, cursei algumas cadeiras de computação e de História dos Estados Unidos e trabalhei como entregador de pizza, jardineiro?", conta. Pedro e Iria conheceram os donos do jornal Brazil Today, de São Francisco, veículo mensal dirigido para a comunidade brasileira da Califórnia, e escreveram matérias para a publicação.
No final de 1992, voltaram para Florianópolis. Iria trabalhou no Diário Catarinense e Pedro escreveu matérias como freelancer para a Revista Expressão. Nesse período, houve o sorteio para os jogos da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, e o Brasil jogaria em São Francisco. Com isso, o editor do Brazil Today convidou o casal para voltar aos Estados Unidos e fazer a cobertura do Brasil na Copa. Assim, Pedro voltou para São Francisco, para editar uma publicação semanal do Brazil Today, durante o ano de 1994, como editor executivo. Ele também fez várias matérias para a Zero Hora, como freelancer.
De volta para Porto Alegre
No final de 1994, Iria e Pedro voltaram para Porto Alegre. Os dois foram trabalhar na Zero Hora, ele como editor especial na editoria de Esportes. "Em 1996, nasceu a nossa filha, a Manoela, então resolvi parar um pouco", garante. Mas ele nunca deixou de viajar, agora, como turista. "O gosto pela viagem permanece", revela.
O ano de 2000 encontrou-o atuando na RBS Publicações, onde coordenou a publicação editorial e o lançamento de mais de 90 títulos, sendo responsável por todo o processo produtivo: concepção de conceitos editorial e gráfico, planejamento de prazos, controle de qualidade, acompanhamento de revisões e de layout, encaminhamento para produção gráfica e estratégia de lançamento. "Não tinha ideia de como se fazia um livro. Tive que aprender muito", conta.
Entre os projetos editoriais nos quais trabalhou, destaca Os Farrapos (Prêmio Açorianos de Literatura 2003, na categoria Projeto Gráfico), Lendas Gaúchas, Felipão - A alma do penta (Destaque Editorial Não-Ficção - Correio do Povo-CGTEE da Feira do Livro de 2002) e História Ilustrada do Rio Grande do Sul. Em 2007, dirigiu a produção e editou o livro comemorativo dos 50 anos do Grupo RBS - Comunicação é a nossa vida. Um dos últimos projetos em que esteve à frente foi o da coletânea de reportagens, que marcou os 45 anos de Zero Hora, intitulado 45 Reportagens que Fizeram História.
 
Da diversidade para a Quati
Em março de 2010, Pedro criou a Quati. Em seu primeiro ano de atuação, foi responsável pela produção editorial de duas obras: Eis o Homem, do colunista de Zero Hora Paulo Sant?Ana, e Bailarina Sem Breu, da também jornalista Mariana Bertolucci, que recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura, na categoria Crônicas.
A variedade de trabalhos e funções que encarou, de veículos, de empresas e de pessoas com as quais trabalhou, garantiu a Pedro uma experiência sem limites. "Tenho orgulho da minha história de vida. Não sou apegado às coisas, já disse. Se surgir uma oportunidade de fazer alguma coisa que me trouxer mais satisfação, eu encaro o desafio". E conclui, convicto: "Acredito que essas experiências me deram uma bagagem que, hoje, consigo aproveitar nos trabalhos que desenvolvo, na variedade de títulos que edito".
Imagem

Comentários