Pedro Weber: O melhor momento é o agora

Publicitário, de uma família da Comunicação, ele é apaixonado por viver

Pense comigo: se você tivesse uma coleção de histórias de vida, de ouvir causos da boca do poeta Mario Quintana, até viver quase um ano em Angola, qual desses momentos seria o melhor? Para Pedro Weber, que passou por tudo isso, a resposta é simples: o melhor é o agora. Perto de completar 52 anos, porém, ele, que é formado em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Santa Úrsula, do Rio de Janeiro, relembra com carinho da infância e de sua formação na Associação Cristã de Moços (ACM).

Foi na instituição que aprendeu lições importantes para a vida, soube o que era ganhar e o que era perder, onde formou o caráter. De lá, saíram os melhores amigos. Um deles, aliás, foi quem o apresentou à mulher com a qual divide a vida pelos últimos 15 anos: Miriam, sua esposa. Juntos com mais cinco gatas, formam "o núcleo familiar da Cidade Baixa".

A morada que ocupa é o lugar onde sempre quis viver. É ali que faz as leituras frequentes, na maioria, de livros técnicos sobre a profissão e é onde realiza outra atividade prazerosa: cozinhar. Mas é só quando consegue, porque diz que com a cônjuge não tem essa chance, graças às habilidades dela. No entanto, o hobby com a comida não é antigo e começou quando decidiu fazer um curso de Gastronomia ministrado pelo chef Mamadu Ceni. "Paguei à vista para não me arrepender. Eu queria ter outro relacionamento com a comida, com os alimentos e isso realmente aconteceu", completa.

Outro passatempo é a fotografia, que começou por volta de 2005, após comprar uma máquina. Diversas fotos foram tiradas desde aquele ano, e então surgiu um problema: o que fazer com tanto material? Foi quando conheceu um artista paulista, que tinha passado pelo mesmo problema, mas que o resolveu, ao distribuir o material em uma lista de e-mail. Inspirado na ideia, ele criou o 'Foto de Quinta' nas redes sociais, quadro em que publica semanalmente imagens do acervo. O sucesso foi tanto que recebeu a proposta de estampá-las em um calendário, o que, de pronto, aceitou. 

Transparente, o que considera até um defeito, não consegue fingir que gosta de alguém com quem não tenha empatia. "Tu não vais me ver fazendo lobby", contextualiza. Mas se tem algo que vê como uma qualidade é sua determinação. Quando descobriu o que queria fazer, "tudo mudou", e trabalhou para chegar até onde está hoje, fazendo aquilo que gosta e vivendo do jeito que quer.

Comunicação em Família 

Para Pedro, a aptidão pela Comunicação era quase que natural, afinal de contas, é filho da jornalista Leila Weber, que o levava para passar o dia na redação, seja do Correio do Povo ou da Folha da Tarde. Essas idas aos jornais, aliás, ajudaram a moldar sua formação. Sua vida era dividida entre as brincadeiras de bola no meio dos jornalistas e os estudos na ACM pela manhã. Às vezes, inclusive, corria para fora e fazia das ruas do Centro Histórico uma grande pista para andar de bicicleta.

Contudo, foi a partir da vivência com o pai, Ibanez Filho, diretor artístico da Rede Manchete e ator, que descobriu o que queria fazer para viver. Duas vezes ao ano, ele viajava ao Rio de Janeiro para passar as férias e acompanhava o genitor no trabalho. "Fui me ambientando com as coisas que ele produzia em televisão, vendo-o atuando, dirigindo e acabei me descobrindo", explica.

Com cinco irmãs, não é dele a exclusividade de ser comunicador. Uma delas, por parte de pai, é diretora de Arte da Rede Globo. E outra, materna, seguiu o rumo da mãe e se tornou jornalista. Apesar de toda a possível influência, o filho Matheus, fruto do primeiro casamento, decidiu se aventurar em outra área e atua como professor de História.

Paixão por viver

Como uma pessoa apaixonada pela vida, o publicitário é daqueles que gosta de aproveitar cada parte do dia e diz ter trocado o "ter, pelo viver". Todo dia acorda cedo e anda pelo bairro, adora "dar bom dia para o seu Zé da padaria ou para a dona Maria". Aliás, essa "mania" é um "vício", que garante não conseguir ficar sem. Não à toa, tem como lema uma frase que já foi citada neste texto: "O melhor momento é agora". 

Embora já seja formado, não abre mão de, tempos em tempos, se matricular em algum curso de faculdade da área da Comunicação. Como conta, fez parte da primeira turma de Jornalismo da UniRitter de Porto Alegre, porém nunca concluiu. O objetivo, aqui, não é levar para casa mais um diploma, mas conhecer coisas novas, "ouvir o que a moçada está falando" e absorver muito aprendizado.

Poder conviver com o pessoal na casa dos 20 e poucos anos e conhecer as novidades que eles trazem, para Pedro, é uma "super sorte". Além disso, ele considera cada momento vivido uma criação de memória diferente, que o forma como profissional e como homem. Talvez seja por isso que o comunicador não se prende a uma rotina. "Eu reservo até às 10h pelo menos para cuidar de mim", diz. É nesse momento que aproveita para ler e dar a tradicional caminhada matinal ou andar de bicicleta pelo Parque da Redenção. Entretanto, só o faz se puder e não vê nenhum problema em mudar esse padrão para dar conta de algum compromisso.

Parte da paixão de Pedro pela vida, também, vem das experiências que teve, na descoberta de novas culturas, por exemplo. Como quando morava no Rio de Janeiro e ia estudar na casa de colegas de faculdade que viviam em comunidades. Ele garante que, por conta disso, conhece todas as favelas da cidade carioca e fazia questão de visitá-las. Outro momento marcante foi a ida à África, onde ficou por noves meses a trabalho. Lá, prestava consultoria para a Luna Comunicação, empresa de Angola. Um país de arte e musicalidade "enlouquecedora", pela qual tem muita admiração. Inclusive, antes de voltar ao Brasil, pediu a um amigo radialista que fizesse uma seleção de músicas tradicionais com mais de 50 faixas. 

Da TV

Além da vida, Pedro tem outra grande paixão: a TV. Com um vasto currículo, desde pequeno já aparecia na televisão, a partir de alguns comerciais que havia realizado. E da produção à direção, ele afirma já ter passado por todas as funções, "menos a administrativa". E foi no Rio que começou a trajetória com apoio do pai e incentivo da mãe. Mas seu Ibanez deu uma condição: que ele sempre mantivesse "a porta da faculdade aberta". 

Em 1989, viveu um momento que o mudaria para sempre e o fez ter certeza que queria trabalhar com televisão. "Eu frequentava sets de filmagens, estúdios, até que vi uma mulher, baixinha, com um megafone na mão dando ordens", lembra. A profissional era a gaúcha Tizuka Yamasaki, que naquele momento dirigia uma cena da novela 'Kananga do Japão'. Ao presenciar aquilo, Pedro não teve dúvidas. "É isso o que eu quero fazer pra minha vida", recorda.

A partir dali, ele foi à luta e construiu uma carreira longeva, que perdura até hoje. No currículo, ele acumula trabalhos em grandes obras da teledramaturgia brasileira, como 'Pantanal', na versão original, e 'Ana Raio e Zé Trovão', ambas da Rede Manchete. Pouco tempo depois, juntou-se ao time da Globo, onde trabalhou no 'Xou da Xuxa' e no 'Domingão do Faustão'. 

Contudo, a estadia no Rio de Janeiro se findou por meados de 1995, quando decidiu morar de novo no Rio Grande do Sul, impulsionado pelas saudades que sentia da mãe. Além disso, ele sabia que o tempo na cidade carioca era passageiro e que foi para lá para cumprir uma etapa. "A última vez que eu vim passar férias em Porto Alegre, quando o avião decolou aqui, eu chorava. Falei: 'Meu Deus, o que que aconteceu?'", relembra. E foi aí que decidiu retornar ao solo gaúcho. 

Ele, que saiu como uma pessoa que ainda buscava se encontrar, voltou com outra cabeça, com experiência em roteiros e conhecimentos técnicos. Chegando aqui, não demorou a se encontrar entre as câmeras e os bastidores de gravações. Conheceu um empresário que estava abrindo uma produtora de vídeos e trabalhava com comerciais. Sempre que uma equipe nova vinha rodar alguma propaganda, ele se apresentava e vendia o que chamava de making-of. "E aquilo pegou. Desempenhei por anos essa função e ganhei dinheiro com isso", pontua.

O serviço, também, fez com que conseguisse ter mais contatos com a operação de equipamentos, algo que ansiava, mas que era impedido de experimentar na Globo, por conta da organização da empresa. Durante esse período, com a prática e a ajuda de outros profissionais, ele foi dominando cada vez mais o funcionamento de aparelhos audiovisuais. E esse aprendizado cimentou o caminho para chegar até o momento atual, em que vive seu principal desafio na carreira, ao liderar a PWL, empresa de produção de conteúdo que fundou. Nela, ele participa de todo o processo criativo e faz aquilo que mais gosta: criar.

Nas andanças da profissão, foi por nove anos diretor de imagens da extinta TVCom, onde trabalhava fortemente com a produção de produtos de Jornalismo, Esporte e Entretenimento. Na mesma função, trabalhou na Band TV, onde foi o responsável pela criação e montagem de programas como 'Gaúchos Pelo Mundo' e 'Completamente Seu'. Mas foi na RDC TV que viveu um momento que considera o maior elogio da carreira. "Um processo de confiança muito importante. A ponto de o presidente me olhar e entregar as chaves da empresa. 'Faz o que tu quiser', ele disse", finaliza.

E é na televisão que Pedro busca seus mestres, como o ex-diretor da Globo Boni, do qual se orgulha de ter um autógrafo dedicado. Ele também pôde aprender muito com o gaúcho Tatata Pimentel, com o qual conviveu quando criança, foi aluno e, por fim, colega de trabalho. No entanto, a principal referência é a mãe: "Considero ela uma guerreira, vencedora, me deu valores desde pequeno".

Mil e uma histórias

Com Pedro, o termo "mil e uma histórias" deixa de ser figurativo e praticamente se torna literal. Várias delas aconteceram ainda quando criança, tempo que faz o publicitário saudoso. Sempre lendo os diversos jornais que tinha em casa por conta da profissão da mãe, ele sabia tudo o que estava acontecendo na cidade e, curioso, não perdia a chance de ver de perto algum episódio que chamasse a atenção. 

Certa vez, ao se deslocar da ACM para a redação do Correio do Povo, deparou-se com um "fervo" em frente à Assembleia Legislativa do RS. Foi se esgueirando entre as pessoas até que deu de cara com o então presidente da República, João Figueiredo, que estava na Capital para a inauguração dos camarotes do Estádio Olímpico. "Lembro que olhei pra ele e disse que queria ir, mas que era pequeno e minha mãe não deixava. Ele olhou pra mim e falou: 'Vamos comigo, tu é meu convidado'", conta. 

O mandatário do País, no entanto, não foi o único a cair no "golpe", já que Pedro usou a mesma tática naquela ocasião com o governador gaúcho, Jair Soares, mas agora, para comparecer à abertura do Shopping Iguatemi. Até o time do Flamengo, quando veio a Porto Alegre, foi vítima do menino, caso que o fez ganhar um ingresso grátis para assistir, in loco, Zico e companhia na final do Campeonato Brasileiro de 1982 contra o Grêmio.

Ele ainda conta, com emoção, da época quando criança, todos os dias no final da tarde, junto com sua mãe e colegas de jornal, iam até a cantina da empresa para ouvir as histórias do poeta Mario Quintana. E não se demora a mostrar um livro de causos sobre a vida do escritor, que ganhou há alguns anos. "Tem coisas aqui que eu vi acontecer, foram na minha frente." 

Cada momento vivido é uma marca para a vida de um cara que adora aproveitar cada coisa que aconteça. E é por isso que avisa a todos que o conhecem ou não: "Eu não vim a passeio. Eu vim para viver". E, com certeza, assim seguirá a vida.

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