Lelei Teixeira: Pequena grande notável

À frente da Pauta Assessoria, ela aplica o conhecimento adquirido ao longo da carreira, com passagens por impressos, rádios e TV.

Lelei, 53 anos, jornalista e uma das sócias da Pauta Assessoria, não guarda segredo quanto ao seu nome, mas admite que poucos a conhecem como Olinda Marlei Lopes Teixeira. Hoje dedicada exclusivamente a área de assessoria de imprensa, traz na bagagem uma trajetória profissional longa, com passagens por impressos, rádios e TVs. Satisfeita com o trabalho que escolheu, está em uma fase tranqüila da carreira, mas não abre mão dos desafios. Segura e talentosa, nunca permitiu que a condição física de anã a tornasse vítima ou heroína, tanto na profissão quanto na vida pessoal. "O problema é de quem cultiva preconceitos e não meu", fala com bom-humor.


Nascida em Jaquirana, na Serra gaúcha, passou a infância rodeada pela família numerosa e em contato com a natureza. Até os sete anos permaneceu na cidade natal, depois se mudou para São Francisco de Paula, município próximo. Filha de pecuaristas, lembra das brincadeiras na fazenda e da tranqüilidade da vida no interior do Estado. É a terceira de quatro irmãos - Marisa, a primogênita, Marlene e Ruy, o caçula -, mas foi criada na companhia dos primos, na casa dos avós Juvenal e Dorvalina. "Meus avós criavam muitos netos, a casa estava sempre cheia de parentes", conta. "Meus pais e irmãos me visitavam com freqüência e eu também ia até a fazenda deles. Eles eram muito presentes", complementa.


Uma frustração 


Como São Francisco de Paula era uma cidade muito pequena, na adolescência ela precisou transferir-se para Novo Hamburgo para continuar os estudos. Lá, cursou o equivalente ao atual ensino médio e passou a morar com um dos tios. Embora não tivesse muita idade, já mantinha alguma autonomia e recorda desse tempo como uma etapa em que começou a administrar a própria vida. Sua mudança para Porto Alegre aconteceu em função do vestibular, em 1972, e reuniu toda a família. "Foi a mudança da família Buscapé", diverte-se. Até então, os irmãos estavam vivendo em lugares diferentes devido aos estudos e os pais continuavam trabalhando na fazenda.


Estabelecidos na Capital, Lelei fez sua inscrição para o vestibular da Ufrgs e surpreendeu a todos com a escolha pelo Jornalismo. "Minhas irmãs cursavam Letras e todos achavam que eu seguiria o mesmo caminho. Inclusive eu", explica. Contudo, o fascínio pela leitura de jornais e revistas que cultivava quando criança justifica a opção. "Um tio assinava o Correio do Povo e a revista O Cruzeiro, que eram raridades em Jaquirana, e eu passava horas lendo e relendo", revela. Embora tenha sido uma excelente aluna durante toda a trajetória escolar, decepcionou-se com a reprovação no vestibular e experimentou sua primeira grande frustração.


Daí seguiu-se um ano de preparação em um cursinho e a admissão na Unisinos, em 1973, época que ficou marcada pelo retorno de seus pais a São Francisco de Paula: "Meu pai passava a semana trabalhando na fazenda e nos visitava aos finais de semana, então a mãe se sentia muito sozinha e eles resolveram voltar", relata. Entusiasmada com a entrada na faculdade, ela preferiu ficar em Porto Alegre, assim como os irmãos. Além disso, algumas primas também vieram do interior para estudar e instalaram-se na casa. "Parecia que morávamos em uma república", brinca. Lelei dedicou-se aos estudos e logo no segundo semestre conseguiu um estágio. "Um professor avisou em sala de aula que havia uma vaga na Zero Hora e eu fui conferir", fala.


A entrada no mercado


Após uma entrevista com Luís Figueiredo, que se tornou seu chefe, entrou para a Central do Interior como redatora, trabalhando de noite e estudando de dia. Paralelamente aos textos, ficou responsável por atividades de rádio escuta. "Eu ouvia a Hora do Brasil todos os dias, fiquei traumatizada, mas agüentei firme", ironiza. Após seis meses na condição de estagiária, migrou para o departamento de pesquisa, que dava suporte à redação, e foi efetivada. Seguiu três anos no cargo, dessa vez, trabalhando de dia e estudando à noite, e destaca a amizade consolidada com Terezinha Figueiredo, sua chefe na época. Depois de formada, em 1977, demitiu-se para buscar novos desafios.


Assim, em 1978, integrou a equipe do recém inaugurado departamento de pesquisa da TV Guaíba. A vivência nos estúdios de TV a colocou em contato com a área de produção, que ela ainda não conhecia. Foi amor à primeira vista. Pouco depois, em 1979, assumiu atividades na produção dos programas. "Foi quando perdi a timidez na marra", assinala. Acostumada com a introspecção do trabalho de pesquisa, deparou-se com o corre-corre das gravações ao vivo e com a necessidade de contatar diversos tipos de pessoas. Trazia os convidados para os programas, criava pautas e situações interessantes para a abordagem dos temas. Na produção da TV Guaíba conheceu Tânia Carvalho e Vera Carneiro, a sócia na Pauta Assessoria.


Informática, a novidade


Com a crise da Caldas Júnior, acabou deixando a empresa em 1981 e aventurando-se na assessoria de imprensa do Grupo Habitasul, onde foi destacada para escrever cartões. "De felicitações aos pêsames", conta. O trabalho em uma assessoria era completamente diferente de tudo o que já havia feito e, apesar de bem remunerado e com carga horária leve, não a satisfez. Inquieta, em 1982 partiu para outro emprego. Foi chamada pela Rede Pampa, que abria uma nova emissora AM, para voltar à produção. Novamente, teve Luís Figueiredo como chefe e a produção do programa de Tânia Carvalho como encargo. "Pude participar das reuniões de planejamento da rádio", comemora.


A emissora trazia a proposta de transmitir notícias 24 horas e contou com a participação de muitos jornalistas da antiga rádio Guaíba. Entretanto, fez sucesso por pouco tempo. "Não sei explicar o porquê, talvez por ser um projeto muito ousado", avalia com tristeza. Antes de a rádio encerrar a ousadia jornalística, Lelei já estava trabalhando como redatora do jornal Correio do Povo e, por isso, não ficou desempregada. Atuou no periódico até 1987 e pôde acompanhar o processo de mudança do formato standart para o tablóide, assim como a informatização da redação. "Trabalhávamos com um técnico de computação ao lado", recorda.


Do jornal foi para a TVE, onde assumiu seu primeiro cargo de chefia, na Divisão de Chamadas, Divulgação, Arte e Cenografia. "Um departamento com um nome enorme", faz graça. Embora já conhecesse o trabalho em TV devido à passagem pela TV Guaíba, foi nesta oportunidade que conheceu o veículo a fundo, principalmente no que se refere ao setor de arte, a construção de cenários e à elaboração de vinhetas. Com o final da gestão do então presidente da TVE Alfredo Fedrizzi, em 1991, ela teve que deixar a emissora. Lembra-se dos colegas de trabalho com entusiasmo, em especial de Vera Carneiro, que chefiava a equipe de produção e se tornou uma parceira para os bons e os maus momentos profissionais, tornando-se uma amiga.


O surgimento da Pauta


Saindo da TVE, encontrou o maior desafio de sua carreira. Soube que o tradicional Festival de Cinema de Gramado estava a procura de uma assessoria de imprensa e convidou Vera para acompanhá-la na empreitada. Embora não possuíssem uma empresa, conquistaram o trabalho. Apenas no momento em que precisaram emitir nota fiscal é que começaram a encaminhar os trâmites burocráticos, dando vida à Pauta Assessoria, em 1992. O mercado ainda não contava com uma cultura de assessoria, dando ao trabalho um caráter experimental. "Queríamos agir como um facilitador das atividades do jornalista, já que conhecíamos bem a rotina dos veículos", explica.


Com o tempo, o número de clientes da Pauta cresceu, a empresa se firmou no mercado e as duas sócias ganharam destaque pelo seu trabalho. Este ano, a assessoria completa 15 anos de funcionamento e continua gerando desafios para Lelei. "Cada novo cliente é um desafio, já que possui características próprias e um público diferenciado. Este é um trabalho cheio de sutilezas", justifica.


Para ela, o segredo do sucesso está em sua maneira de encarar a profissão, com grande entusiasmo, envolvimento e uma visão quase romântica: "Consigo ser profissional e, ao mesmo tempo, completamente encantada pelo que eu faço", confidencia.


Rituais de lazer


Solteira e sem filhos, ela divide a casa com a irmã, Marlene, e concilia com harmonia a vida profissional com a pessoal. Preza por férias regulares - "elas são sagradas" - e pelas viagens que realiza com freqüência. O destino preferido é a Bahia, mas também estão no roteiro visitas à fazenda dos pais, em São Francisco de Paula, e eventuais passeios pela Europa, estes planejados com antecedência. "Gosto de viajar, mas também gosto muito de voltar. Porto Alegre é meu porto seguro", fala, declarando seu amor pela capital gaúcha.


Como trabalha bastante, Lelei é caseira e gosta de se ocupar com os tarefas do lar em seu tempo livre. "Adoro receber os amigos, fazer supermercado, pensar a decoração da casa, toda ela adaptada à condição física dela e da irmã. É como um ritual", revela. E, de fato, os ritos a envolvem e marcam fortemente os seus momentos de lazer. O cinema está entre suas preferências justamente por isso, traz a tela grande, a sala escura e os instantes destinados exclusivamente aos filmes. Também aprecia a realização de happy hours ao final da tarde, tendo como cenário predileto os cafés da cidade.

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