Queli Giuriatti: Vivendo o agora
Fundadora da QG Comunica, a jornalista é uma mulher que vive a modernidade
Imagine que você está caminhando tranquilamente na rua onde mora, sem grandes preocupações na mente, talvez se dirigindo ao ponto de ônibus ou ao mercadinho da esquina. Você achou que seria um trajeto pacato, sem grandes emoções, até que uma pergunta latente de um tema muito grave te obriga a retornar ao mundo real: "Irã ou Iraque?".
Esse questionamento se tornou parte da rotina dos vizinhos da família Giuriatti no início dos anos 80, quando o conflito entre os dois países era uma pauta frequente na mídia. A autora da pergunta - ou melhor, a entrevistadora - era uma "mini" Queli Giuriatti, munida de um socador de caipirinha - que cumpria o papel de microfone -, e sentada no muro da residência em Canoas.
Até então, ela não sabia que viria a ser jornalista, e muito menos imaginava que estaria à frente de uma assessoria de imprensa com 12 anos de trajetória - e contando. Porém, a qualidade central para que essa jornada se tornasse real já era evidente: "Eu era muito curiosa".
Raízes fortes
Nascida em 16 de agosto de 1977, Queli é filha da auxiliar de enfermagem Ivone, hoje com 70 anos e aposentada, e do contador Egídio, que construiu uma carreira no comércio de máquinas pesadas e, aos 73 anos, segue na ativa. Aos sete anos de idade, ela ganhou um irmão, Felipe, que hoje também constrói a trajetória no mercado da Comunicação como fotógrafo publicitário, sendo conhecido como Fil Giuriatti. "Já tivemos projetos juntos inclusive. Com alguns clientes que precisavam de fotos para divulgação ou assessoria de imprensa", comenta a empresária.
Além das entrevistas com os vizinhos, a infância de Queli ainda foi marcada pela leitura das revistas compradas pelo pai. Um dos selos mais frequentes dentro de casa era da Seleções, que, hoje, com o olhar apurado pela experiência, ela entende que não era uma revista muito boa, mas cumpria seu papel: "Era como um portal para o mundo". Ainda assim, de longe a publicação favorita era a National Geographic. "Agora, a gente tem mais acesso aos acontecimentos, mas naquela época não. Então, tenho muitas memórias das reportagens sobre o outro lado do mundo e das grandes coberturas da TV", afirma.
Graduada em Jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), entre 1996 e 2001, Queli foi para o outro lado do balcão pela primeira vez como estagiária do Grupo Sinos. "Foi maravilhoso, justamente porque fui estagiária na época 'raiz' da redação. Aprendi muito", conta. Na sequência, vieram alguns estágios em assessoria de imprensa e, após a formatura, a oportunidade de ser repórter no extinto caderno de Gastronomia de Zero Hora. "Trabalhei ao lado de Bete Duarte, que me ensinou muito sobre a postura do jornalista em determinados lugares e tinha um grande domínio da língua portuguesa. Foi uma aula", relembra.
Ao deixar o Grupo RBS, a empresária explorou uma nova área: o trade de calçados. Essa experiência veio primeiro na revista Novitá, do Grupo Sinos, e depois com o trabalho na criação e edição do jornal da UseFashion, empresa hoje extinta. "Conheci muito o Brasil nessa época. Onde havia indústria do calçado, eu estava", recorda. Encerrando o ciclo com a indústria calçadista, Queli então embarcou na primeira experiência efetiva em assessoria de imprensa, atendendo a Tramontina, na Fatto Comunicação (hoje FTCom), empresa de Fátima Torri. "Foi uma escola para mim. Acho que muita gente que trabalhou com ela aprendeu muito e tem muita gratidão", destaca.
Agregando pessoas
Com tanta vivência, experiência e uma pós-graduação em Moda, Consumo e Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bastou uma virada de chave para perceber que o empreendedorismo era uma alternativa com muito potencial. Como editora de revistas na Giornale Comunicação Empresarial, Queli percebeu que metade dos clientes que atendia, ela mesma havia prospectado. "Descobri que tinha a habilidade de me vender, que é uma coisa que falta em muitos jornalistas", conta.
No entanto, o nascimento da QG Comunica, em 2012, não foi um processo isento da insegurança que domina aqueles que estão começando a empreender. "Ainda não existia um nome para o que a gente chama hoje de 'Síndrome do Impostor', mas foi isso que fez com que eu demorasse tanto para abrir meu negócio", relata. Para vencer essa incerteza, o curso Empretec do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) foi um grande aliado. "Chegou um momento que eu percebi: eu me expresso com uma confiança que eu não acredito que tenho", reflete.
Com a proposta de ofertar serviços de produção de conteúdo e assessoria de imprensa, a QG seguiu se adaptando e conquistando espaço ao longo dos últimos 12 anos. Para a jornalista, a curiosidade fez a diferença nesse processo, que passou pelo fenômeno dos blogueiros até a ascensão atual dos influenciadores. "Hoje, dependendo do cliente, meu trabalho pode ser 60% com influenciadores e 40% na imprensa tradicional. Vai depender do nicho", conta.
Além disso, um fator importante é saber se abster de serviços que não fazem sentido para a empresa. "Alguns clientes pedem para fazer social media, mas esse conteúdo, que busca resultado de venda, não é comigo. O Jornalismo não vende, ele traz reputação e isso é um valor impalpável", explica. E é guiada por essa crença que, hoje, Queli garante que se sente realizada: "Estou vocacionada para o que faço e isso foi ficando cada vez mais claro ao longo dos anos".
Para a jornalista, os relacionamentos conquistados são o grande patrimônio do assessor de imprensa e ela, em específico, é uma agregadora de pessoas. "Eu gosto de gente, de misturar as pessoas e me divertir com elas", afirma. E nessa mistura, a empresária reúne no time tanto profissionais sêniors quanto mais jovens. "Sempre tenho alguém muito novo na equipe. Hoje, essa pessoa tem 21 anos e eu aprendo com ela desde a MC Pipokinha até o motivo do Instagram ter virado uma ferramenta de busca para quem tem menos de 20 anos", explica.
A verdade de Queli
Essa busca por estar por dentro das novidades também transborda para os gostos pessoais. No cenário musical, Queli se considera eclética, com um grande interesse pelos novos lançamentos. "Estou sempre tentando escutar o que as pessoas ouvem hoje", conta. Jamiroquai é a sua banda favorita, enquanto o gênero predileto é o indie rock. É fã de Humberto Gessinger, Império da Lã e Ira!, mas também escuta Beyoncé, Childish Gambino, Harry Styles e Lizzo.
Em relação às produções audiovisuais, ela prefere ficção científica e drama. "Agora um gênero que nunca vai me levar ao cinema é terror. Eu já passei mal e tive que sair da sala. Não é para mim", confessa. Na Literatura, Queli segue o caminho contrário, pois prefere as biografias e histórias reais. Sua escritora favorita é Eliane Brum, a quem considera a maior cronista do Brasil. O gosto pela ficção se limita a algumas obras de Gabriel Garcia Marques e ao último livro que pode mergulhar: 'Atirem direto no meu coração', de Ilze Scamparini. "Tem algumas obras que estou deixando para ler na velhice, como as russas. Essas quero consumir em outro momento da vida, pois têm uma escrita mais densa", explica.
É uma escolha acertada, até porque a maternidade fez com que o hábito da leitura ficasse um pouco de lado. A jornalista, que sempre teve o desejo de adotar ao menos uma criança, acabou, ao lado do ex-marido, adotando os dois filhos: Israel e Joel, que têm 13 e 14 anos, respectivamente. Ela acompanha os dois nos treinos e em tudo que envolve a dedicação pelo futebol. Essa é uma área que, por sua vez, a empresária não nutre tanta paixão, apesar de se identificar como gremista - o oposto dos filhos.
Quando se fala em exercício físico, ela prefere a musculação, por ser uma prática individual. "Acho que a nossa profissão nos cansa mentalmente. Então, para mim, esporte bom é aquele que eu posso ficar comigo mesma", explica. Outro interesse são as trilhas, que reforçam o contato com a natureza, algo que considera essencial para se ter uma dimensão melhor do mundo e dos próprios problemas. Além disso, nos momentos de lazer, a palavra de ordem é: passear. Com um grande carinho por São Francisco de Paula, a cidade é um destino frequente nos dias de folga: "Ainda vou ter uma casa lá".
Queli reconhece que, devido à profissão, pode conhecer vários lugares do Brasil e do exterior. "Desde me hospedar em um castelo na Escócia até um hotel na frente de um vulcão na Costa Rica.". Inclusive, foi na volta de uma das viagens que passou por uma situação que evidenciou o contraste daquilo que chama de "vida A" e "vida B". Um dia, estava no seu primeiro voo de classe executiva, e no seguinte estava dentro do Trensurb indo trabalhar, passando pela estação Aeroporto e observando o levantar voo do mesmo avião em que havia estado. "É muito importante reconhecer os altos e baixos, e saber o seu lugar. Não em um sentido de se colocar em humilhação, mas de assumir a nossa verdade", defende.
Pequenas grandes coisas
É com esse espírito que, olhando para o futuro, Queli não apenas deseja, como acredita ser altamente viável, que a QG siga firme e forte. "Desde que eu continue me modernizando e sendo a profissional e a mulher de hoje", avalia. Para ela, a Comunicação é uma área extremamente preconceituosa com pessoas maduras: "Como se a gente não pudesse ser um ser humano de hoje. Eu sou uma mulher de hoje. Eu sou de agora. Eu estou vivendo o mundo agora. E isso não faz de mim menos moderna".
Muito além do sucesso mercadológico, ter uma equipe sadia e feliz é primordial para Queli, que encontrou na pandemia o grande aprendizado de que o trabalho remoto é possível. "Se tem uma coisa que eu busco é isso: qualidade de vida para todo mundo", afirma. Por isso, se a equipe estiver bem, os clientes contentes e os relacionamentos de pé, não tem nada que possa abalar o futuro da QG. "Não tenho uma ambição gigantesca, não é a minha batida. Eu gosto do cliente que cresce comigo, que eu posso ajudar a chegar lá. São essas coisas pequenas que são muito grandes", reflete.