Rafael Cechin: Um líder nato

Liberdade, esportes e paternidade marcam a história do jornalista

Jornalista Rafael Cechin - Crédito: Arquivo Pessoal

Poucas pessoas podem dizer que realizaram praticamente tudo o que sonharam em uma profissão. Rafael Cechin é uma dessas. De estagiário a gestor, o jornalista viu e participou de fatos históricos. Mas estar cotidianamente ao lado de grandes nomes da imprensa gaúcha, ou mesmo de personalidades do Estado, não o deslumbrou, pelo contrário. 

Rafael é um homem que prioriza a família, valoriza a liberdade de se reinventar e acredita que uma carreira de sucesso é muito mais que colecionar prêmios ou ser conhecido: para ele, ajudar o próximo a se desenvolver e assim também crescer é, de fato, o principal objetivo de uma trilha profissional. 

Aos 40 anos, ele decidiu empreender e ter uma nova perspectiva de carreira, unindo a experiência de mercado, a maturidade da idade e a vontade de encarar novos desafios. "Sempre busquei me colocar ao lado das pessoas e acredito que o mundo é das parcerias", garante.  

A infância, a liberdade e os exemplos 

Rafael Suertegaray Cechin, de avô materno uruguaio e bisavós paternos italianos, nasceu em Guarapuava, no Paraná, porém saiu de lá com menos de um ano de idade para viver a infância em Rio Pardo e a adolescência em Torres, no Rio Grande do Sul, onde teve muita liberdade. Segundo ele, "vivia na rua, estimulando a criatividade". As traves improvisadas com tijolos, a conexão com a praia e a independência de sair sem hora para voltar, fruto da confiança que os pais depositavam nele, são lembranças contadas com carinho.

Nesse cenário, a imaginação corria solta, em vários sentidos. E, assim, encontrava pessoas, conversava, puxava assunto. Sabe aquele típico líder de turma? Esse é Rafael. Não à toa que várias vezes ocupou esse "cargo" durante a infância e a juventude. Contudo, ao contrário do que se pode imaginar, esse típico perfil de humanas, que ama a liberdade, solta a imaginação e se dá bem com todo mundo, não vem de uma tradição familiar, pelo menos não no quesito profissão. 

O pai, Carlos Renato Cechin, que faleceu em 2020, além de sua maior referência na vida, era engenheiro agrônomo, além de atuar como professor de Matemática e Física e empreender bastante. Ele ocupou diversos cargos como presidente ou conselheiro de associações comunitárias e até mesmo dentro do próprio Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS). Já a mãe, Maria de Fátima Suertegaray Cechin, também era professora das mesmas matérias que o pai, foi diretora de escola e hoje está aposentada.

A escolha pela profissão

Para Rafael, o apreço pela comunicação enquanto carreira não "veio de casa", mas de uma aptidão pessoal para o ramo. No entanto, a vontade de ajudar, liderando com atenção e apreço a cada pessoa, foi um dos grandes ensinamentos deixados pelo pai, e que ainda hoje influenciam na sua atuação profissional. 

A escolha pelo Jornalismo surgiu ainda na escola. Graças ao perfil proativo, ele participou daquelas típicas atividades estudantis de construção de jornais, peça de teatro, apresentações. E sempre estava lá, muitas vezes liderando. Tudo isso somado ao fato de gostar muito de ler, de estar informado pesaram na decisão profissional, ainda que "não tenha pensado muito na hora de escolher", em função da própria imaturidade da idade.  

Aos 17 anos, passou a estudar em Porto Alegre, onde mora até hoje. Ao relembrar a entrada na faculdade, ele não esconde que os primeiros semestres foram de festa. "Não sei se ainda é assim, mas quando entrei na PUC o início do curso era junto com as graduações de Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. Aquilo, para mim, era quase uma extensão do ensino médio", conta, entre risos. 

Entretanto, como todo carnaval tem seu fim, a "farra" juvenil foi ficando para trás e dando espaço ao profissional que desejava entrar no mercado de trabalho, e para os estudos, que se tornavam cada vez mais exigentes. Assim, ele começou a distribuir currículos nos lugares próximos à sua casa na época, nas imediações do shopping Praia de Belas. Dessa forma, conseguiu o primeiro estágio, ainda fora da comunicação, no Ipê Saúde, onde por cerca de um ano atuou no atendimento ao público. "Ali, eu tinha contato direto com os anseios das pessoas, e essa experiência me ajudou muito", relata.

Na faculdade, encantou-se pelo dinamismo do rádio. E foi essa admiração pela instantaneidade que o levou a um estágio na Rádio Gaúcha, já no meio da graduação. Logo após a formatura, veio a possibilidade de atuar como freelancer para o Grupo RBS, para só depois ser efetivado.

Esporte na veia 

"Eu fiz muitas coisas que foram marcantes para mim, pois a maior parte do meu trabalho de rua era envolvendo futebol, que sempre foi uma paixão. Cobrir Copa do Mundo e Olimpíadas, por exemplo, é muito emocionante. Hoje, estou em outra fase da minha carreira, mas brinco que já poderia ter largado o Jornalismo, pois fiz quase tudo que eu tinha o sonho de fazer", afirma.

Testemunha em tempo real de diversos fatos históricos, ele presenciou e se emocionou junto com a conquista do ouro de Isaquias Queiroz e do vôlei de praia masculino na Rio 2016.  Além disso, a cobertura da Copa do Mundo de 2014 teve um gostinho especial. "Por ser aqui na cidade, por envolver grandes seleções, como Argentina, Holanda, França e Alemanha, esse foi um acontecimento muito marcante. Eu já era gestor e comandei toda a cobertura. Lembro também de uma iniciativa minha na época, de levar o Lauro Quadros e o Ruy Carlos Ostermann para os jogos dentro do estádio. Guardo com bastante carinho o clima que a gente viveu por levar os dois para o estádio", orgulha-se.  

Mas o melhor ainda estava por vir: a Copa do Mundo de 2018, a qual ele viveu ainda mais intensamente. "No final de 2017, fui para a Rússia para fazer o reconhecimento das cidades que o Brasil passaria. Peguei muita neve, temperaturas de 15 graus negativos, mas aprendi muito sobre o povo russo. Foi uma superexperiência", lembra.  

Apesar de o esporte ter um lugar importante na carreira e no coração do jornalista, ele também coleciona momentos marcantes no estilo "hard news".  Afinal, estar na redação e ajudar a narrar o atentado de 11 de setembro às Torres Gêmeas de Nova Iorque, por exemplo, ainda que como estagiário, é um fato importante para o currículo de qualquer comunicador.  

Dois amores

A profissão de jornalista tem várias peculiaridades, especialmente quando se trabalha em redação: não há finais de semana, nem feriados, e, muitas vezes, para outras pessoas que não são da área, é difícil compreender essa rotina. "As relações acabam se tornando naturais dentro do meio, até pela pessoa saber como funciona", esclarece, explicando sobre o seu início de relacionamento com a também jornalista Gisele Loeblein.

"Tudo começou dentro da RBS. A gente trabalhava em redações diferentes, mas foi se cruzando nos corredores, se conhecendo... Estamos casados há 15 anos, temos a Manuela, de 10 anos, e o Murilo, de cinco", revela. Apesar de falarem pouco de trabalho em casa, para ele é importante ter alguém com quem compartilhar os dilemas da profissão.   

Além de atuar em diversas e memoráveis coberturas esportivas, Rafael também é um apaixonado por atividades físicas. O futebol, que o acompanha desde as traves improvisadas na rua, seguiu sendo seu companheiro até a chegada da pandemia. O maior distanciamento social trazido pela crise sanitária o afastou também do tênis, modalidade que vinha praticando com frequência nos últimos 10 anos.  A vontade de continuar se exercitando, ainda que sozinho, o levou a descobrir uma nova paixão: o ciclismo. 

Nem só de hobbies e trabalhos individuais se faz um pai. Com a chegada da primogênita, passou a priorizar o envolvimento com a família. "Comecei, inclusive, a liberar atividades de trabalho para poder me dedicar mais. Decidi que seria prioridade na minha vida estar com eles, então, minhas atividades de lazer também os envolvem sempre que possível. Eles estão em primeiro lugar." 

Plantar para colher 

"Nunca pensei só na carreira pela carreira, mas em me desenvolver enquanto pessoa", frisa. Antes mesmo de entrar na comunicação, uma espécie de lema sempre o moveu: "o plantar para colher". Porém, o plantar não é só trabalhar incansavelmente. Trata-se, principalmente, de se desenvolver para ter uma visão mais ampla do mundo e de si mesmo. 

Aos 31 anos, quando nasceu Manuela, virou gestor pela primeira vez dentro do Grupo RBS, e os dois mundos convergiram para o seu crescimento: "Via situações na criação da minha filha, como ela se comportava à medida que eu falava algo para ela, ou como eu agia em relação a ela, que me fazia aprender a ser um gestor que ajudasse as pessoas. Claro, guardadas as devidas proporções e diferenças de tratamento, o pai ensinou o gestor e o gestor ensinou o pai", reflete. 

Mesmo na rotina atribulada de gestor de uma gigante da comunicação, Rafael sempre buscou organizar seus horários para estar presente na vida dos filhos, seja na hora do almoço ou levando e buscando na escola - rotina que permanece ainda hoje. Com o passar dos anos, seu lado empreendedor foi ficando cada vez mais latente. Além da escolha por tempo de qualidade junto aos filhos, a vontade de construir algo próprio e de olhar para outras possibilidades no mercado foi aumentando. 

A curiosidade por diversas áreas da comunicação o fez ingressar no MBA em Gestão Estratégica de Negócios, e, assim, foi tendo mais contato com Marketing, Gestão de Pessoas e Administração. Para poder usar na prática esses e outros conhecimentos, criar o próprio negócio, ao lado do ex-colega de RBS, Luciano Costa, se tornou um caminho inevitável aos 40 anos.

"Estou em algo que vou ter daqui a 20, 30 anos. Não sei exatamente como vai estar lá, mas sei que estou construindo o meu futuro de forma independente, o que me deixa muito feliz. Fora a qualidade de vida de fazer os próprios horários." Essa é a reflexão que vem à tona quando anda de bicicleta, por exemplo, e volta a trabalhar muito melhor. "Poder organizar melhor meu tempo e fazer as tarefas do meu jeito, sem dúvida, é um dos grandes benefícios", afirma ele, que hoje divide o tempo entre praticar esportes, estar em família e desenvolver seus projetos.

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