Roberto Ribas: Empreendedorismo e simplicidade
Desde a infância humilde, estudo e trabalho são palavras recorrentes no vocabulário do CSO da Brivia
Têm palavras que acompanham o publicitário Roberto Ribas desde criança. A simplicidade é uma delas. Filho dos comerciantes Janete Dias Ribas e José Antônio Ribas, que vieram do Interior para Porto Alegre em busca de melhores condições financeiras, as lembranças da infância são de uma vivência simples, sem muitas férias e viagens. Quando as tinha, passava com os avós, em Cachoeira do Sul, hoje Novo Cabrais. Mas as memórias mais fortes são de muitas atividades no mercado, fundado pelos pais na capital gaúcha, onde começou a ajudar aos 11 anos.
A grande ambição de Janete e José Antônio era fazer com que os filhos tivessem oportunidades melhores do que eles tiveram. Por isso, dedicaram-se tanto ao trabalho. "Eu não estudei, mas eu quero que tu estudes. Então, dedicas-te aos teus estudos, eu vou trabalhar para entregar para vocês uma vida que eu não tive" - essa era a frase que ele ouvia do patriarca. Com esse incentivo e a cobrança da matriarca pelas boas notas, a busca por conhecimento sempre foi valorizada e procurada.
Nascido em 16 de abril de 1978, Ribas tem mais dois irmãos: Gabriel, cinco anos mais novo, e Alice Ribas, de 18, da segunda relação do pai, que casou depois de ficar viúvo. A mãe morreu quando ele tinha 17, cerca de um mês antes dele prestar vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Abalado, pensou em desistir, mas o pai o impediu: "Não tem porque tu não fazeres vestibular. Tu estudastes o ano inteiro, falta uma semana. Faz e passa!", instigou. E ele passou.
Esta cena marcou muito o comunicador, pois o ingresso na Ufrgs mudou sua vida. Sem condições de pagar por uma instituição particular, ele não teria entrado no Ensino Superior e teria que estudar mais um ano para tentar novamente. Também não teria conhecido os primeiros sócios, que foram colegas da faculdade. "Enfim, a minha trajetória poderia ser completamente diferente", reflete.
O estudo também foi uma forma de se desconectar dos afazeres no negócio familiar. Isso aconteceu mesmo quando ele começou o primeiro estágio, em 1998. Para isso, também contou com o 'empurrãozinho' de José, pois, como receberia menos que no mercado, pensou em não aceitar a oportunidade. Mas o pai lembrou que o empreendimento da família deveria ser temporário para Ribas e que ele não estava estudando para isso. "Tu tens que tocar tua vida", dizia. E foi aí que o publicitário começou um novo ciclo, no provedor de internet Vanet, que depois virou Plug in, onde ele criava HTML. Isso antes mesmo de terminar a faculdade de Publicidade e Propaganda, concluída em 2000. Dessa forma, Ribas foi o primeiro das suas duas famílias a ter uma graduação.
Fugindo do tradicional
Assim como começar a estagiar em uma empresa de Tecnologia foi diferente, quando a maioria dos colegas buscava uma agência, a escolha pela Publicidade também foi para fugir do tradicional, como Engenharia e Direito. Ele queria algo que "pudesse ser mais possível criar". "Fui para essa área meio que pensando em criação, pensando em fazer grandes comerciais, tinha a ver com criatividade", lembra. Dois anos depois do primeiro estágio, começou a atuar de freelancer na Vanet e trabalhou cerca de três meses para a Site by Site, vinculada à e21. Dessa empresa, foi com colegas de faculdade para a Conectt, onde também criava layouts e desenvolvia sites em HTML.
Esta última, no entanto, já tinha um viés de Marketing Digital. "E ali foi uma escola nesse sentido de tentar entender o meu direcionamento e começar a fazer planejamento, pensar o porquê de estar criando, o que isso entregará para o negócio." Depois da formatura, foi contratado e se tornou líder de um dos núcleos de clientes do Rio Grande do Sul. Para entender mais sobre Marketing, fez MBA na área na ESPM.
Apesar de se reconhecer procrastinador, não foi por isso que não apresentou o trabalho de conclusão do curso. Mas sim para empreender com dois colegas da faculdade, Fabiano Nader e Vinícius Lobato . Em 2002, eles criaram a Casa Interativa. Era uma agência digital que tinha como foco principal o design, a customização e a marca. "Isso tudo como processo de conectar um problema à uma solução, entendendo que a dificuldade das empresas poderia ser solucionada pela plataforma digital", explica. A empresa fechou em 2006.
Brívia, um novo capítulo
Antes mesmo do fim, com um encontro com o Márcio Coelho, deu início a um novo empreendimento. A organização do colega tinha como ponto forte a tecnologia, o que faltava na Casa Interativa, e a WS2, de Márcio, tinha a necessidade de melhorar o design, que era o que a empresa de Ribas fazia melhor. Assim, eles se uniram e criaram a Brivia, no centro de Novo Hamburgo. Dessa forma, 80% da jornada profissional do publicitário é como empreendedor, sendo cinco anos pela Casa Interativa e 17 pela Brivia. O profissional iniciou no atendimento aos clientes, depois passou a ser gerente de Projetos.
Criar empresas ou organizações realmente faz parte da vida dele. Em 2004, foi co-fundador da Associação Brasileira de Agentes Digitais no Rio Grande do Sul (Abradi-RS). Para Ribas, a entidade surgiu como uma oportunidade de desenvolver o mercado a partir de uma discussão de valor para os gestores, pela perspectiva do negócio e não apenas pela separação e segmentação de fornecedores baseada no tipo de entrega, ou canal de atuação. "A partir da evolução da tecnologia e do crescimento da relevância do digital para os negócios, o mercado foi segmentado, sem sentido, entre ON e OFF", aponta. O profissional segue atuando nessas discussões que pautam as demandas e necessidades das marcas agora na Associação Nacional do Mercado e Indústria Digital (AnaMid), no entanto, sem ocupar um cargo estatutário.
Em 2009, houve uma mudança na Brivia. Por muito tempo, a agência atendeu clientes que vinham com escopo fechado, ou seja, com definição estratégica do que precisava ser feito. No entanto, às vezes, havia projetos que não tinham essa definição. Para solucionar, Ribas criou uma área inicialmente chamada de Concepção, onde gerenciava o processo de diagnóstico, planejamento e estratégia para as contas. "Também passamos a conceber, de certa forma, a nossa oferta futura, que deixava de ser só de desenvolvimento de sites, para ser mais ligada à estratégia, experiência e Comunicação", enfatiza. Já em 2012, passou a atuar com planejamento e ajudar a construir o direcionamento para os contratantes. Ele acredita que essa mudança se deve à dedicação ao trabalho e que ela aconteceu organicamente. "Sempre tentei entender o porquê de as empresas comprarem Comunicação e o problema do negócio deles, e, assim, fui evoluindo nos desafios de estruturação da companhia", defende.
Desafio marcante e uma nova metodologia
Ao concorrer para ser planejamento dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, para desenvolver a Comunicação e a plataforma digital do megaevento, a Brivia viu que não tinha exatamente o que pedia no edital. Para encarar o desafio, então criaram a metodologia de planejamento BXM (sigla em inglês para Brand Experience Management, em tradução livre, Gestão de Experiência de Marca), baseado em uma lógica de design thinking. "Nós trabalhamos em um projeto pensando no digital oito anos à frente", admira-se. Entre outras atuações destaques, Ribas recorda ainda de um projeto de conteúdo para a Vivo e da reformulação da plataforma digital da Braskem.
Já uma situação marcante no âmbito pessoal foi quando a diretora de Atendimento da base em São Paulo saiu e um dos clientes disse que continuaria com a Brivia desde que ele fosse o Atendimento, pois conhecia o negócio. A partir dessa oportunidade, o publicitário passou a ser diretor de Contas de São Paulo. "Isso me trouxe aprendizados gigantes em diferentes aspectos." Um deles foi na capacidade de se relacionar, visto que se considera introspectivo.
Críticas como elogios
Ribas sentencia: "Acho que tive algumas críticas que são elogios e elogios que são críticas". Uma delas foi quando Márcio disse que o publicitário tinha condições de fazer mais do que fazia, que podia estruturar um time abaixo dele para que pudesse realizar outras funções. O publicitário entendeu como uma demonstração de que ele tinha um valor diferente do que estar só no dia a dia. Uma exaltação importante também veio de uma avaliação 360 feita pela Brivia, em que os liderados avaliam os gestores. De forma anônima, ele foi reconhecido como inspirador. "Levo isso como um direcionamento para o meu dia a dia, de ajudar as pessoas a serem melhores." Acredita que sempre foi um líder empático e operário, no sentido de estar perto para colaborar com soluções. "E, quando alguém diz que se inspira, que eu ajudo a resolver, soa como um elogio para mim", reflete.
Esta observação vai ao encontro do lema de vida que é "não faça com os outros o que não goste que façam com você". E, assim, ele busca entender que todo mundo tem a sua perspectiva e é preciso compreendê-la. Outra frase que o guia relaciona os lados profissional e pessoal: "Escolha um trabalho que você goste e não precisará trabalhar um dia em sua vida". Isso porque o publicitário vê que não há como separar uma função da outra, então "a gente não pode ter algo que ocupa um terço da nossa vida, oito horas do nosso dia no mínimo, com algo que sofre pra fazer". O pensamento se liga à sentença da Brivia, com "Work hard. Have fun" (em português, trabalhe duro, se divirta!). Ribas avalia: "Quando me sinto melhor, produzo melhor. Produzo melhor, eu me sinto melhor. Se eu me sinto melhor, se eu produzo melhor, eu tenho uma vida melhor. E isso reflete no lado pessoal também".
Paixão por viagens e esportes
Pai de Júlia, de 19 anos, e Artur, de sete, Ribas está com a esposa Elaine há 25 anos. O profissional se considera bem família e simples, pois não é de grandes luxos. "No que eu 'esbanjo' é em viagens", resume. Acredita que isso é basicamente conectar fatos e materializar pontos históricos, bem como criar bagagem, por isso, também ajuda na criatividade. "Quando tu vais para um lugar, tu vives aquele lugar, tenta entender quais são as culturas. Isso te traz repertório, que depois, conectando com algo, tu consegues tornar útil no dia a dia." Também percebe nessa predileção um pouco do que foi reprimido na infância, quando não tinha a oportunidade de passear tanto. "Então, agora que tenho condições de fazer isso, tento buscar um pouco esse espaço", confirma. E nessa procura está a realização de um sonho: conhecer os cinco continentes com a família.
Estão nos seus hobbies também praticar esportes, atualmente faz tênis e beach tennis. Também gosta muito de futebol, e o gremista assiste aos jogos em casa ou na Arena. Além disso, gosta muito de música. Em 2024, tem a intenção de aprender a tocar bateria. "Porque tenho tentado todo ano ser muito ruim em algo novo", brinca. Assim, quando aprende uma atividade, busca outra para que "seja pior" e, dessa forma, cria novos desafios. Roqueiro, entre as bandas favoritas estão AC/DC, Metallica e The Beatles.
Aposentadoria no planejamento?
Apesar de acreditar que os fatos profissionais aconteceram de forma orgânica, Ribas diz que está onde gostaria: sendo diretor de uma empresa, tendo construído um empreendimento, tendo ajudado a resolver problemas de negócios, entregando valor para os clientes e colaborando com a construção de lideranças. Afirma ainda que se orgulha de ver bons gestores na Brivia. Assim, considera-se realizado. "Eu me formei, tenho uma família que eu amo e meus filhos me amam também", exalta. Isso tudo ganha ainda mais valor quando se lembra que veio de uma família simples e, mesmo assim, conseguiu estudar, adquirir bens e ter uma vida relativamente tranquila. "Posso dar aos meus filhos uma vida melhor do que eu tive, então, não posso dizer que não sou um cara realizado", enfatiza.
O profissional tem, no entanto, um planejamento para daqui cinco anos: escolher trabalhar ou não, ou seja, ter capacidade financeira para se aposentar. "Isso sempre foi uma meta!", explica, e complementa: "Vou escolher continuar trabalhando, porque serei jovem". Contanto, acredita que poderá ter uma vida mais tranquila, reduzindo um pouco o ritmo de trabalho e atuando de uma forma mais leve. Além disso, impactar positivamente a vida dos que o cercam também é uma realização. "Enquanto eu continuar gerando impacto positivo na vida das pessoas, seja da minha família, seja dos meus colegas de trabalho, estarei feliz", resume.