Rômulo D'Avila: Repórter do bem

Natural de Santa Maria, jornalista da Rede Globo é movido por constante busca por desafios

Rômulo D'Ávila, repórter da Rede Globo - Crédito: Divulgação

Talvez você já tenha se deparado com um vídeo que saiu na internet em que o jornalista, que estava fazendo uma chamada ao vivo, acabou virando notícia por um ato de solidariedade. Tudo aconteceu no ano passado, quando o repórter da Rede Globo Rômulo D'Avila estava em mais um dia de trabalho, noticiando, ao vivo, sobre as fortes chuvas que atingiam São Paulo, para o Jornal Hora 1, e acabou interrompendo o link para ajudar um idoso de mais de 90 anos.

O profissional estava falando para câmera quando se virou para mostrar como estava a avenida e viu um motoboy ajudando um senhor de bengala a sair do carro, que estava ficando submerso pela chuva, na Marginal Pinheiros. "Eu acho que tem uma pessoa de idade aqui precisando de ajuda. Vocês podem me chamar daqui a pouco?", pediu.

Como o pessoal do estúdio acabou não cortando as imagens, Rômulo não só noticiou ao vivo o que estava acontecendo, como ainda foi humanamente responsável por, junto ao motoboy, levar o idoso, seu Altair, para um local mais seguro, ceder seu guarda-chuva, avisar a família e colocá-lo dentro de um táxi para que ele chegasse em casa com segurança.

Vida como matéria-prima

Gaúcho de Santa Maria, o filho mais velho do açougueiro Francisco Gilberto D'Avila e da vendedora Cleusa Medianeira Assunção não considera a sua atitude um ato de heroísmo, mas o mínimo que alguém poderia fazer naquela situação. Diz que só deu continuidade ao que o motoboy já estava fazendo. Para ele, a casualidade é que tudo aconteceu enquanto estava no ar. Conta que sabe que a prioridade é da informação, mas que o paulistano poderia esperar mais uns minutinhos para saber quantos milímetros havia chovido na madrugada, enquanto ajudava aquele senhor.

Após o episódio, muitas pessoas opinaram nas redes sociais que ele seria demitido, que acabaria sua carreira. Ao que o jornalista questiona: "Em que mundo vivemos hoje? Sei toda a relevância da informação, mas lidamos com vidas. A matéria-prima do jornalismo é a vida humana, é a história. Se não mexe com isso, não temos informação, não temos notícia. Naquele momento, foi tudo muito rápido, mas acho que acabei fazendo toda a avaliação e deu tudo certo", vibra.

Seu caráter foi formado ainda na infância, em uma comunidade rural, no Distrito de Santa Flora, em Santa Maria. Desta época, lembra dos tempos de escola, de ser muito aplicado e dedicado aos estudos, até porque sempre foi uma exigência dos pais. Também tem boas recordações da avó paterna, Catarina, com quem costumava ficar no contraturno do colégio e com quem aprendeu o a ser um ouvinte. Descreve que ela conseguia enxergar as coisas com equilíbrio, ouvia os dois lados, instigava-o a ser curioso, a escutar, a desenvolver a conversa e a falar. Assim como seu pai, que tem muito dela e é supercurioso. "Com eles, o assunto não morre", brinca, assim como com sua mãe, que, por ser comerciante, sempre desenvolveu o contato com as pessoas, o respeito e o diálogo. "Carrego muito disso tudo comigo", orgulha-se.

Na rota da notícia

Sempre gostou muito de estudar e alimentou o desejo de ser professor por muito tempo. Até se apaixonar pela Comunicação. Jornalista graduado em 2013, pela Universidade Franciscana de Santa Maria, realizou parte do curso na Unipampa, em São Borja.

Leitor assíduo, teve contato logo que saiu do Ensino Médio com o livro que marcaria sua vida. O título 'A vida que ninguém vê', da jornalista e escritora Eliane Brum, conta a história de uma repórter em busca dos acontecimentos que não viram notícia e das pessoas que não são celebridades. Da procura do extraordinário contido em cada vida anônima e de uma escritora que mergulha no cotidiano para provar que não existem vidas comuns. Foi a partir desta leitura e da paixão por imagens e fotografia que Rômulo resolveu que também queria fazer parte deste mundo e entrou para o Jornalismo.

Na graduação, teve oportunidade de passar por diferentes laboratórios, como fotografia, redação, cinema e, por fim, telejornalismo. "Acredito que cada experiência destas me agregou um pouquinho. Tanto que, quando chegou ao final da faculdade, eu já tinha, mesmo que humilde, um currículo. Ainda que de forma acadêmica, era algo a apresentar", comemora.

Foi assim que se candidatou a diversas vagas antes mesmo de se formar. Abriu a sessão 'Fale Conosco', da RBS, e foi disparando o mesmo e-mail para todo mundo que trabalhava lá. Até receber a resposta positiva para cobrir uma vaga de férias na sucursal da TV em Caxias do Sul. A festa de formatura aconteceu no sábado e, na segunda, já estava na cidade da Serra para o trabalho temporário.

Após esse período, como não havia outra vaga, acabou voltando para Santa Maria, onde atuou como assessor de imprensa da vereadora Deili Silva (PSD). De volta à TV, passou pelas unidades da RBS de Bento Gonçalves e Lajeado, onde atuou por dois anos. Mas, assim como a personagem do livro de Eliane Brum, o jovem repórter queria partir em busca de novas notícias, de poder contar outras histórias. Foi então, por intermédio de uma amiga, que se candidatou para uma vaga na TV Tem, uma afiliada da Rede Globo em Botucatu, no interior paulista, e, de malas prontas, embarcou para a cidade.

Mãe, tô na Globo!

Durante três anos, cobriu reportagens em Botucatu (SP) e São José do Rio Preto (SP). Nesta última, teve a primeira oportunidade de trabalhar com uma equipe completa, com editor, produtor, etc., até receber o convite para migrar para a capital paulista a fim de assumir uma vaga que havia aberto como repórter da Rede Globo São Paulo, onde está há um ano e meio.

As coisas aconteceram em sua vida em prazos bem mais curtos do que havia estipulado. Não é à toa que o momento de maior satisfação na carreira foi quando recebeu a ligação para ir trabalhar em definitivo na Globo, pois representou todas suas escolhas, desde entrar na faculdade, seguir estudando, sair de casa para tantas outras cidades. Isso tudo fez sentido. "Por muito tempo, alimentei este sonho de trabalhar aqui", festeja.

Porém, faz uma ressalva ao dizer que sabe que ele é um CPF e a Globo é um CNPJ, e que ambos têm um acordo: ele precisa pagar suas contas e a emissora precisa de empregados e, por isso, trabalha lá. Por outro lado, tem certeza que o mundo é cheio de possibilidades. "Tomara que muitas aconteçam lá dentro ainda, mas eu prefiro ser surpreendido pela notícia. Daqui a 10 anos, quero estar feliz do jeito que estou hoje. Fazendo o que gosto, sendo movido por desafios, tendo a oportunidade de ficar com a minha família sempre que posso, tendo bons amigos ao meu lado, uma rotina que não me sufoque. Se for assim, já está bom", exalta.

Honesto com seus sentimentos

Namorando há quatro anos o contador André, afirma que os dois se conheceram durante uma reportagem, mas foi só um ano depois de a matéria ir ao ar que se reencontraram nas redes sociais, começaram a conversar e o relacionamento teve início. Logo em seguida, surgiu a oportunidade de trabalho em São Paulo, então resolveram mudar juntos. Desde então, não se desgrudaram mais.

Nos momentos de folga, gosta de aproveitar o dia, assistir aos jogos do Grêmio, de fazer atividades e caminhar para conhecer e aproveitar "alguns dos pontos bem batidos", os quais para ele são novidade. Os passeios pelos parques, com o chimarrão na mão, e as viagens para as cidades ao redor da capital paulista também estão entre as preferências, assim como ouvir música brasileira, como Samba, MPB e ritmos que venham do Nordeste. O preferido é Alceu Valença. Da sétima arte, os gêneros são animação, drama e cinema nacional.

À noite, gosta de ficar em casa, seja cozinhando ou recebendo amigos. Seu momento de fuga é abrir um vinho e cozinhar. A gastronomia, aliás, é mais uma de suas paixões. Adora arriscar pratos diferentes, mas, como um bom filho de açougueiro, não vive sem carne. Apaixonado por churrasco, pizza e massa, confessa que no recheio é preciso sempre ter carne.

Honesto com seus sentimentos, deixa bem claro quando gosta ou não de algo. Além disso, é bastante teimoso e impulsivo e expõe que opta sempre por se posicionar. Cresceu sem muitas referências de jornalistas homens assumidamente gays, que falassem abertamente sobre esse assunto. Para ele, este é um momento muito recente dentro da história do telejornalismo e lhe faz bem fazer parte disso.

Então, todas as possibilidades que tem de se colocar, se posicionar, de dizer como é, ele considera importante, pois acredita que, se puder encorajar uma pessoa a ser quem ela é, ajudando a ocupar todos os espaços, vai fazer. "Vivemos em outro momento, no qual a gente pode ser quem somos, mas não cresci assim. A televisão é feita por pessoas para pessoas, e hoje todas as pessoas precisam se sentir representadas. Todas elas fazem parte da sociedade", defende.

Isso significa que, na sua visão, ser parte deste momento, deste grupo, é muito importante, conforme completa: "Tenho um lugar de visibilidade e vou ocupar o meu espaço". Seu lema é ser verdadeiro, pois quando se é sincero, não tem erro. "Tem muito mais chances de as coisas darem certo."

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