Sílvia Lemos: A arte dos relacionamentos

O prazer pelo varejo, marketing e a facilidade de se relacionar foram características que a executiva herdou do pai

Independente, dinâmica e sempre de bem com a vida. Assim é a gerente do Shopping Total, Sílvia Lemos, que diz se encaixar perfeitamente no estereótipo de uma mulher moderna: está sempre se dividindo em muitas para atender ao trabalho, ao marido e às filhas gêmeas. Aos 49 anos, o excesso de tarefas não lhe tira o fôlego nem o brilho, mas serve sim como combustível e motivação para se aprimorar cada vez mais. A gaúcha de origem judaica e de traços suecos herdou do pai o prazer pelo varejo, marketing e a facilidade de se relacionar. Ela se considera uma pessoa apaixonada pela vida, pela profissão e pela arte dos relacionamentos, a qual diz ser sua especialidade.


Sílvia Rachewsky Lemos, nascida em Porto Alegre no dia 12 de maio de 1959, afirma que a carreira sólida e bem-sucedida é fruto de muito suor, dedicação, humildade, equilíbrio e força de vontade. Sempre simpática e falante, a executiva vive tudo de uma forma intensa, e desde que iniciou suas atividades no shopping, veste integralmente a camisa da empresa. Basta circular em sua companhia pelo centro comercial para perceber que para ela não existe hierarquia de cargos. Faxineiros, taxistas, lojistas, secretárias, vendedores e diretores recebem a atenção e os cumprimentos da profissional.


Formou-se em Letras pela Ufrgs, mas não era exatamente o cargo de professora que tanto almejava.  "No primeiro ano que prestei vestibular, minha alternativa era Agronomia, mas não passei. Quando entrei na faculdade, ainda adolescente, nem sabia direito o que queria da vida. Digo que fui uma "jovem acadêmica", pois fiz exatamente tudo o que tinha direito de fazer na época. Não deixei nenhuma fase para trás. Até porque se você deixa isso acontecer, mais tarde você vai sentir falta do período que não viveu. Eu aprontava muito na época do colégio e até cheguei a reprovar de ano", relata. No decorrer da faculdade, começou a demonstrar interesse pela área da Comunicação e cursou disciplinas como Cinema, Artes Plásticas e Jornalismo. Depois de trabalhar em uma escola infantil e vender utensílios domésticos para a irmã, percebeu que seu chão definitivamente não era Letras e partiu para outro ramo, o do Varejo.


Empreendedorismo no sangue


Filha de Marcos Rachewsky, conhecido como "Tio Marquinhos", iniciou sua atividade profissional, em 1979, na empresa da família. A rede de varejo "A Soberana dos Móveis" chegou a ter 26 filiais e atuava no segmento de móveis e eletroeletrônicos. Sílvia lembra que nessa época o relacionamento com o cliente já era uma preocupação da empresa considerada primordial. "Na época já falávamos em marketing de relacionamento, porém com outra linguagem", diz. Atuou em quase todos os setores e departamentos da empresa: estoque, recursos humanos, auditoria e controle, propaganda e publicidade e comercial. "Fazia a supervisão das 24  filiais espalhadas por Estado. Foi uma experiência muito legal e aprendi diversas coisas em termos comerciais, que, realmente, é o que pulsa no sangue, é genético e hereditário."


Após ter optado em sair da Soberana, em 1989, montou uma loja de cama, mesa e banho. Teve que deixar a empresa aos cuidados da irmã quando suas filhas gêmeas nasceram. "Resolvi ser mãe full time por dois anos." Voltou ao mercado atuando em atendimento na Produtora de comerciais Efficace Cinema & Vídeo. Prestou atendimento às maiores agências do mercado gaúcho e permaneceu na empresa por seis anos. "Me identifiquei muito com a atividade, pois a cada produção lidava com agências, equipes e clientes diferentes", recorda.


Na televisão, a profissional também registra experiências. Foi coordenadora e produtora do programa Casa & Ambiente, revista eletrônica no segmento de decoração, arquitetura, arte e cultura, idealizado e apresentado por Vitória Hess, que foi ao ar na TV Bandeirantes. "Era um programa que trabalhava com a parte da arquitetura, arte, uma coisa mais refinada. Foi uma experiência de três anos muito diferente. Mas faz parte do meu perfil aceitar desafios, ou seja, ter medo de uma coisa desconhecida, mas ir atrás e enfrentá-la. Isso é algo que digo para as minhas filhas, porque temos que mergulhar e experimentar e temos que dizer "socorro, eu não sei! Quero aprender". A simplicidade e a humildade devem estar sempre em primeiro lugar. Na TV eu aprendi a trabalhar em equipe, aprendi que a gente precisa das outras pessoas", conta.


Em 2001, iniciou sua carreira no Shopping Total através de uma indicação para atuar na comercialização de espaços, antes mesmo da inauguração do empreendimento. "Além de nunca ter trabalhado em shopping, nunca tinha vendido lojas em plantas. Foi muito legal, tive uma boa rentabilidade e, para a minha seqüência no marketing, foi fundamental porque passei a conhecer a alma do lojista", diz. Devido ao bom desempenho, passou a integrar o setor de marketing da empresa. Atualmente, a relação de Sílvia com o shopping não é apenas profissional. Ela afirma que, pelo fato de ter participado do processo de venda e ter visto o empreendimento crescer, a relação também é de carinho. "Gosto muito daqui. Sinto um carinho imenso por tudo isso e sei que ainda tenho muito que colaborar." Uma frase que a marcou foi quando passeava pelo mall, logo após a inauguração, com o Superintendente Eduardo Oltrarmari. Ele disse: "agora tu vais cuidar não só de uma loja, mas de 457".


Bodas de Prata


Sílvia é casada há 23 anos com o publicitário Norberto Lemos. Prestes a completar Bodas de Prata, o casal vive em harmonia: reveza as tarefas domésticas, se divide na atenção às filhas e ainda encontra tempo para namorar. A executiva conta que descobriu o "amor de sua vida" num dos pontos turísticos mais lembrados e conhecidos da capital, o Brique da Redenção. Depois de dois anos de namoro, os jovens resolveram se casar e, a partir daí, vieram o aprendizado e o amadurecimento. "Eu encaro casamento como uma relação que você tem que apostar sempre. Enquanto há admiração, prazer e trocas, existe o casamento, porém, é necessário estar sempre remodelando a relação. Eu costumo dizer que já casei várias vezes com o mesmo marido."


A juventude de ambos impediu que os filhos viessem cedo, pois queriam aproveitar a vida antes de partirem para uma nova fase. Silvia conta que eles comemoravam os aniversários de namoro não pelos anos, mas sim pelos quilômetros rodados de carro. Na época em que completaram cinco anos de casamento, cederam às insistências da família e decidiram ter filhos. Aos 32 anos, sem nenhum em ambas as famílias, deu a luz a duas meninas gêmeas: Carolina e Marina. O início foi difícil, pois as filhas nasceram prematuras de seis meses e tiveram que ficar internadas 51 dias. "O mais louco numa gravidez gemelar é que você engravida, conta para todo mundo, vibra e faz festa. Mais tarde, você faz a ecografia, descobre que está grávida de novo. Filhos mudam muito a nossa vida. Quem diz que não, é porque está mentindo! Muda para melhor. É uma nova fase."


Rata de praia


Viajar para o litoral é o programa preferido de Sílvia. Ela se define como uma "rata de praia". "Quer me ver feliz, é me ver na beira da praia. Acho que não conseguiria passar um ano inteiro de inverno, pois necessito de verão, de mar, de calor e de frescobol. Também gosto de caminhar, encontrar as amigas e, como se percebe, adoro conversar e praticar este exercício labial. Não sou do tipo que está sempre procurando uma atividade e que não pára quieta. Se puder ficar em casa sem fazer nada é melhor ainda."


Nos finais de semana, desempenhando o papel de uma dona de casa exemplar, vai à feira de frutas, legumes e verduras. "Adoro ir à feira no sábado. Não somos uma família "natureba", mas adoramos saladas. Se não tiver chocolate em casa, minhas filhas não reclamam. Agora, se faltar alface?", conta. Quando o assunto é cozinha, Sílvia revela que perde para o marido. "Claro que tenho os meus pratos famosos, tipo picanha ou salmão no forno, mas o Beto pilota o fogão muito melhor do que eu", brinca.


Livros e cinema, principalmente filmes dos gêneros de romance, drama e policial, também estão entre suas predileções. Depois de um dia cheio de trabalho, a leitura não é seu forte: "Chego em casa cansada, tenho que atender ao marido, às filhas e se pego um livro na mão, na terceira ou quarta página, já estou cochilando. Gosto muito de ler, porém, pratico este hábito nos meus dias de férias."


Quando se trata das filhas, Sílvia se mostra uma mãe-coruja e sempre preocupada em passar lições de vida. Para ela, a simplicidade, a emoção e a transparência devem estar acima de qualquer coisa. "São estas características que te constroem nas relações e tento passar isso para as meninas. Também sempre tento olhar e lidar com as coisas de uma forma mais humana, pois assim fica mais fácil enfrentar crises e momentos difíceis da vida." Ela faz questão de registrar que o importante mesmo é aprender com tudo isso. "Temos que usar as dificuldades como uma mola propulsora para o crescimento e não ficar agarrados a ela. Devemos lutar e sofrer para aprender. Tudo nesta vida tem um custo e um aprendizado, mas se conquistarmos algo, temos que vibrar muito com isso."

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