Taline Oppitz: Guriazinha da Política

Jornalista fala do desafio de assinar uma coluna aos 34 anos e revela que vota em pessoas, não em partidos

Taline Oppitz - Reprodução

"Oi, guriazinha, tudo bem?". Desta forma carinhosa Taline Ferreira Oppitz, 34 anos, colunista de política do jornal Correio do Povo, dá início à entrevista. Assim também responde às solicitações de leitores e ouvintes. "As pessoas estranham quando eu atendo o telefone diretamente e as trato bem. Não é porque me tornei colunista que vou deixar de falar com meus leitores", diz, referindo-se ao glamour que envolve o ofício.

O relacionamento, segunda ela, é uma das partes mais importantes de seu trabalho. "Procuro manter uma boa relação com todas as minhas fontes. Tenho noção da importância disto para o meu trabalho", pondera. Mesmo se considerando nova para já responder por uma coluna, orgulha-se das relações que estabeleceu em 12 anos de atuação na área política. "Não imaginava estar no comando de uma coluna aos 34 anos. Até hoje eu brinco que estou colunista. Sinto falta de ser repórter, mas também amo o que eu faço", diz.

Sua relação com os colegas de trabalho de veículos concorrentes também é muito boa. "Encontro a Rosane (Rosane de Oliveira, colunista de política da Zero Hora) nos eventos e conversamos numa boa. As comparações sempre foram muito bacanas. É bom saber que os dois principais jornais do Estado têm mulheres como colunistas de política", acredita.

Mesmo sem religião definida, Taline também estabelece um bom relacionamento na parte espiritual. "Converso com Deus como se estivesse conversando com um amigo. Deito de noite na cama e levo um papo mesmo. Do tipo: Mas por que isso? Ou, valeu por essa". O mesmo, segundo ela, acontece com os leitores. Taline garante que responde a todos os e-mails, sejam eles elogios ou críticas. "Muitas vezes, estabelecemos debates com direito a réplicas e tréplicas."

Paixão pelo jornal

Taline também atua na Rádio Guaíba, no programa Esfera Pública, ao lado de Juremir Machado. Está ali desde meados de abril, e diz estar adorando a experiência. "O Juremir é um porra louca, me dá umas chamadas no ar e eu gosto." Mas confessa que sua paixão é mesmo o jornal. Algo que ela demorou um pouco para descobrir. "Na faculdade a única coisa que eu sabia é que não amo fazer TV", recorda. Mesmo assim, sente-se satisfeita com sua experiência na TV Assembleia, quando atuou por pouco mais de um ano, como a primeira repórter da emissora.

Antes de ingressar na Assembleia, integrou a equipe de assessoria do então governador Antônio Britto, a partir de 1999. Sua primeira experiência profissional incluiu até a participação na campanha política para a reeleição de Britto. Como o candidato não se reelegeu, a então estudante de jornalismo ficou desempregada. Mas, a essa altura, os relacionamentos com o meio político já haviam começado e, com uma forcinha da assessora política Bernardete Bestane, com quem havia trabalhado, foi integrar a equipe do Legislativo estadual.

Com a cara e a coragem

Pouco tempo após se formar em Jornalismo pela Ulbra, em 2002, soube da vaga para repórter de política do CP. Foi trabalhar com Armando Burd em pleno ano de eleições e, de cara, foi escalada para cobrir o Partido dos Trabalhadores (PT). "Foi um super desafio, mas eu encarei", conta. Segundo ela, sempre foi assim na sua vida. "Nunca deixo de fazer nada por medo de errar."

Foi assim quando fez o teste para ser repórter de TV. "Quando eu soube que seria avaliada pela Rosane Marchetti, tremi da cabeça aos pés, mas fiz o teste e passei. A experiência foi muito importante para a função que exerço hoje", reconhece. Taline também enfrentou a dificuldade com o inglês para acompanhar uma comitiva política à Holanda, já como repórter do CP. Ela conta que um dia foi chamada por Telmo Flor, diretor de Redação do Correio, que a questionou sobre o passaporte e seu domínio da língua inglesa. "Respondi que meu inglês é ótimo e que tinha passaporte". Na verdade, não tinha passaporte nem fluência no idioma. "Resolvi a questão do passaporte em três dias e me virei com a língua. Fui na cara e na coragem".

Com a saída de Armando Burd como colunista e editor de política do Correio do Povo, em 2008, Taline encarou outro desafio. Foi convidada para assumir a coluna como interina. Alguns meses depois, porém, recebeu um telefonema do diretor: "Tira o interina do lado do teu nome, me pediu. Levei um susto e corri para a sala dele, que me disse:  Parabéns, tu és a nova colunista do Correio. Foi emocionante".

Amiga e transparente

Taline é destemida também na vida pessoal. Mais velha de três irmãos, começou a trabalhar aos 17 anos para ajudar a mãe com as despesas da casa. Antes de iniciar na profissão, foi vendedora e caixa de loja. O salário, somado à ajuda vinda da avó, ajudou a pagar a faculdade, que ela cursou em cinco anos e meio porque "foi o que deu para fazer". Como sempre foi muito sincera, os dias como vendedora não duraram muito. Quando uma cliente provava algo que não ficava bem, dizia mesmo. "Ah, não. Ta horrível isso, não dá".

Se a verdade não ajuda muito no mundo das vendas, no meio jornalístico é fundamental. E Taline faz questão de se manter fiel a essa premissa, sem deixar de ser comprometida com suas fontes. "Algumas vezes, não dei a informação na coluna tentando preservar minha relação com a fonte e tomei furo. Hoje, aviso que não tenho como deixar de fora. Sou muito verdadeira", assegura.

Verdadeira, amiga e transparente, como se autodefine em "três palavrinhas", título de seu blog. No espaço, costumava escrever seus "devaneios, alguma literatura e desabafos", mas, em função da grande demanda de trabalho, deixou a criação literária um pouco de lado. "Mas eu quero retomar", garante. O último post, datado de 9 de fevereiro, refere-se a sua decisão de deixar os comentários que vinha fazendo no telejornal Rio Grande no Ar às 7h10 da manhã.

A rotina do jornal, que a obriga a ir dormir tarde, não estava combinando com a necessidade matutina da TV, mesmo assim decidiu encarar por um ano. Quando voltou de férias, porém, optou por parar. Sua decisão veio ao encontro da ideia da emissora de manter o jornal menos setorizado e mais geral. Mesmo com mais tempo para, como diz seu texto no blog, sair mais cedo, aproveitar mais a noite e sua casa, Taline ainda não conseguiu se matricular na academia, o que teria feito, segundo ela, caso não estivesse concedendo esta entrevista. Brincadeiras a parte,  jura que vai achar um tempo para se exercitar e treinar mais o inglês.

Amor pelos gatos

O ritmo de vida puxado também a levou a desistir de ter um cachorro, já que não teria tempo para levá-lo para passear. O jeito foi adotar um gato. No começo meio a contragosto e por influência da irmã Fernanda, 29, que é veterinária e a incentivou a adotar a Gia. "A gata estava para ser sacrificada porque tinha um fungo no nariz. Adotei e cuidei dela", conta. Hoje, Gia, de três anos e meio, tem a companhia de Noel, de dois. "Passei a amar os gatos. Se meu apartamento fosse maior eu teria mais", diz.

Mudar-se para um apartamento maior também faz parte de seus planos com o namorado, o fotógrafo Diego Vara, 26. Os dois, que estão juntos há cinco anos, dividem o mesmo teto há um ano e meio. O namoro começou numa festa da redação do CP. "Quando eu voltei de férias, uma colega me disse que tinha um fotógrafo novo altão, cheio de tatuagens, e que eu ia adorar", lembra. O tempo passou e um dia Diego ofereceu uma carona para a festa com os colegas. De lá para cá, começaram a sair e engataram o namoro.

Quando não estão trabalhando, hoje Diego integra a equipe da Zero Hora, os dois gostam de assistir filmes e reunir os amigos para fazer churrasco. As viagens também estão entre suas preferências, mas Taline confessa que nem sempre é possível conciliar as agendas. Quando conseguem vão até o sítio do pai de Diego, o também fotógrafo Edson Vara, em Taquara, ou velejar com o pai de Taline, o agrônomo Emílio Petry Oppitz, na lagoa de Tapes.

É de Tapes, onde Taline morou com os pais e os irmãos Fernanda e Edgar 27, engenheiro mecânico, até os nove anos, que tem suas melhores lembranças de infância. A menina costumava passar o dia andando de bicicleta ou a cavalo, e também gostava de pegar girino no açude. "Às vezes me perguntam do programa tal que passava naquela época e eu não me lembro, porque passava o dia na rua", recorda.

Sem preferências políticas

Após a separação dos pais, em 1984, mudou-se com a mãe, Tânia Regina Oppitz, e os irmãos para a Capital. "O início em Porto Alegre foi meio assustador. Morar em prédio era uma super novidade, mas logo me adaptei, diz, reconhecendo que sempre gostou de passar uns dias na fazendo do pai, mas por um prazo limitado. "Muito tempo no ambiente rural começa a me deixar nervosa."

Completamente urbana, seu dia só começa quando ela consegue ler a concorrência. Depois que faz seu comentário na rádio, organiza a rotina da casa. Fica no twitter e no telefone o tempo inteiro e se reconhece atordoada sem saber o que está acontecendo. Garante não ter preferência por nenhum partido político e afirma que costuma votar em pessoas. Mesmo com uma carga dobrada de trabalho no período das eleições, não se imagina fazendo outra coisa e nem em outra editoria.

A experiência que guarda com mais carinho em seus 12 anos de trabalho é de quando conseguiu uma entrevista exclusiva para a revista Voto com o ex-presidente Fernando Collor, em 2005. "Decidimos tentar falar com ele e dois dias depois recebemos a ligação de que deveríamos ir para Maceió", lembra. As declarações, segundo ela, foram muito fortes. "Ele chorou e disse que pensou em se matar. A matéria rendeu 12 páginas e repercutiu no país inteiro". Por essas e outras que Taline afirma amar o que faz. "O salário não é dos melhores, mas é melhor assim do que ganhar muito dinheiro fazendo algo que eu não gosto."

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