Ivan Daniel: Tempo de navegar

Ivan Daniel – “esse é meu nome completo” – é um publicitário de veículos. Nascido em São Paulo em 6 de abril de 1951, …

Ivan Daniel - "esse é meu nome completo" - é um publicitário de veículos. Nascido em São Paulo em 6 de abril de 1951, formou-se em Publicidade pelo Cepa (Centro de Estudos em Propaganda Aplicada), mas mesmo antes disso, já havia trabalhado em jornal. "Tinha uma namorada que trabalhava num diário e a partir daí me interessei por comunicação", relata Ivan. Seus primeiros empregos foram em jornal, adolescente, quando atuou como colunista social na Gazeta de São Bernardo, cidade para onde se mudara com a família. Também fez revisão, trabalho que exercia durante a madrugada. Na área de Publicidade, começou vendendo espaço comercial num jornal de bairro. Em 1974, aos 23 anos, casou-se e retornou para a capital paulista. Neste ano, teve início sua carreira em televisão. Foi através da Rede Globo, onde travou "uma batalha pessoal" para conseguir o emprego. Ao saber que teria aberto uma vaga de contato comercial, fez seu currículo e dirigiu-se para a emissora. Já chegou pedindo para falar com o responsável pela área, Cícero José de Azevedo Neto. Não só conseguiu, como ficou cerca de duas horas conversando com ele. Ivan adora bater papo! No outro dia, Azevedo lhe disse: "Vai dar samba e nós vamos dançar juntos", relembra Ivan, que só não começou a trabalhar no mesmo instante porque ainda estava vinculado a um jornal. "Começaria na segunda-feira e Azevedo comentou que a equipe não costumava aparecer de manhã. Nem preciso dizer que às 8h30min eu estava lá. A secretária chegou às 9h30min", se diverte ao lembrar. 20 anos de SBT Ficou quatro anos na Globo, até que, em 1978, um grupo de seis funcionários da rede foi convidado para trabalhar na TV Bandeirantes. Ivan estava entre eles. Na Band, foram mais seis anos. Em maio de 1984, foi para o SBT, que quatro meses depois transferiu-o para Porto Alegre. "Eles tinham um problema aqui, a instabilidade de pessoas, a rotatividade estava muito alta", explica. Ele lembra que todos que entrevistou para irem trabalhar no SBT lhe diziam que, apesar de sua proposta ser boa, ele não duraria ali. "Porque ninguém durava, mas eu fiquei 20 anos na emissora", orgulha-se. Ivan tinha vindo sozinho para o Rio Grande do Sul, deixando a mulher, Márcia, e o filho, Daniel, em São Paulo. Viveu na ponte-aérea por cinco anos, até que sua família, que agora tinha um novo membro, o caçula Lucas, mudou-se definitivamente para a capital gaúcha. Dois anos depois, o casal se separou. Mas ela preferiu ficar na cidade, onde reside até hoje com os filhos, que estão com 18 e 23 anos. "E se eu fico doente é para ela que eu ligo", brinca Ivan, contando que os dois até hoje são grandes amigos. Ele fora transferido a Porto Alegre para ser diretor-comercial. Teve êxito nessa área, conseguindo montar uma boa equipe. Mas, há cerca de 15 anos, o diretor-regional, Ademar Dutra, voltou para São Paulo, de onde é natural, e o publicitário assumiu também esse departamento. Ele exerceu as duas funções até o último dia 15 de julho e garante que não foi difícil. A facilidade se explica pelo fato de o SBT ser uma empresa bem normatizada e pelo apoio da jornalista Cristiane Finger, a quem delegou a responsabilidade pelo telejornal SBT Rio Grande. "Apresentei mais de dez projetos locais até que o jornal fosse aprovado", conta. Acabou o tesão No último ano, Ivan começou a reavaliar sua carreira e concluiu que seu trabalho no SBT já havia sido satisfatório. "A empresa mudou muito. Fiz o que tinha de ser feito. Agora não precisam mais de mim, a coisa já funciona bem", desabafa, acrescentando que acabaram-se os desafios, "o tesão". Então, pediu demissão. Foi há cerca de 90 dias, através de um e-mail enviado a seu superintendente, que era Júlio César Casares. "Ele me enrolou por um mês, só aí conversamos a respeito", conta. Os dois combinaram que a saída de Ivan se daria aos poucos, de forma amigável. Mas uma semana depois, quem deixou a emissora foi o próprio Casares. "Aí, a coisa voltou à estaca zero". Apenas há duas semanas, ele conseguiu se reunir com Adalberto Viana, substituto de Casares, que pediu seu cargo. "Não precisei me demitir novamente, a casa fez o que eu queria que acontecesse", explica. "Sinto que sou um felizardo, afinal trabalhei os últimos 20 anos no Grupo Sílvio Santos, que pertence ao mais importante comunicador do País", gaba-se. Apesar de, em todos esses anos, Ivan só ter visto o "patrão" em quatro ocasiões. Uma delas foi na casa do próprio Sílvio. "Sempre que conheço pessoas que sabem que trabalhei no SBT, elas perguntam 'Tu falas com o Sílvio Santos?'", diverte-se. Sonho de ser marqueteiro Ivan conta que aprendeu muito sobre população brasileira, enquanto trabalhou numa emissora tão popular. "E população significa eleitor", lembra o publicitário, que tem o sonho de trabalhar em marketing político. Mas enquanto não entra nessa nova atividade - para estas eleições não daria tempo -, pretende se dedicar às coisas que gosta, mas que não tinha tempo enquanto trabalhava na TV, como o iatismo. "Meus amigos que têm barco ficavam esperando a próxima frente fria para viajar, mas eu tinha meu período de férias contado, não podia me dar ao luxo de depender do tempo", diz. Agora, com tempo disponível, pretende se preparar para visitar o acampamento-base do Everest. Ivan é tímido, nunca admitiu que fossem feitas imagens suas na emissora. E levava isso a sério: "Sou intoleravelmente intolerante", o que, segundo ele diz, é ao mesmo tempo um defeito e uma qualidade, pois tanto pode levar a resultados, como também a atritos. Outra qualidade "dúbia" é o perfeccionismo, que "é bom, mas às vezes incomoda". Curte a companhia dos filhos, que qualifica como "artistas". Daniel toca bateria e dá aulas do instrumento para os alunos que "herdou" de Kiko Freitas, famoso baterista que se mudou para o Rio de Janeiro. Lucas quer ser cozinheiro. Participa de diversos cursos de culinária e pretende ingressar na faculdade de Gastronomia, que deverá ser aberta na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do RS) no próximo vestibular de verão. O próprio Ivan já fez parte de três confrarias de gastronomia! Ele também namora, a felizarda chama-se Karina e trabalha no SBT. Não assiste à televisão, "muito menos à emissora". "Assistir ao SBT era dar continuidade ao meu trabalho", justifica, explicando que se houvesse qualquer erro no intervalo comercial, enlouquecia. "Só assisto aos comerciais do Jornal Nacional, que é o que há de melhor na televisão brasileira", brinca. Mas ele gosta de filmes, assiste muitos em DVD e no Cine Guion Sol, próximo à sua casa. E de literatura. Sua meta é chegar a ler três mil páginas por mês, "sem incluir jornais ou revistas". Quanto à música, é bem seletivo: nada de pagode ou samba. Gosta mesmo é de blues, jazz e rock'n'roll. "O Daniel ouve jazz e não aprendeu comigo", conta, orgulhoso do filho.

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