Tiago Ritter: Poder de decisão

Jornalista por formação, Tiago Ritter optou por ser empresário e dono de si

Por Márcia Farias
Talento vem de berço? Pode até ser, mas o fato é que o brilho pessoal é sempre decisivo para quem escolhe fazer carreira em Comunicação. Este é o caso de Tiago Ritter, CEO da agência digital W3haus e filho do jornalista Jurandir Soares, especialista em política internacional. A formação acadêmica foi escolhida, sem dúvida, por influência direta do pai: é formado em Jornalismo, na turma de 2001 da Fabico. O que diferenciava uma geração da outra era a área de atuação de cada um, já que Tiago sonhava com a editoria de Esportes. Mais do que a paixão pelo Jornalismo ou a interferência de Jurandir, precisou de habilidades como ousadia e determinação para ter certeza do que queria seguir. E parece que conseguiu. No comando da agência digital há 12 anos, ele quer, para o futuro, permanecer com cabelo, algo difícil, "já que a genética não favorece", e manter a realização profissional, proporcionada pela sua empresa.
Hoje, a agência funciona com duas sedes, Porto Alegre e São Paulo, e cerca de 150 colaboradores. Ver que as pessoas realmente gostam de trabalhar na W3haus é o maior orgulho do empresário. Ele acredita que, mais do que a visão de que o mundo digital seria promissor, a habilidade em reunir pessoas talentosas é o que impulsiona o negócio. "Não tem um dia que eu olhe pra trás e não me emocione com a história que criamos", exalta. Com uma vida dividida entre as capitais gaúcha e paulista, Tiago sabe que é em São Paulo que seu faturamento é impulsionado, mas não pensa em romper a base e os laços daqui. "Minha agenda profissional é basicamente em São Paulo, mas gosto de conviver com as pessoas do Rio Grande do Sul."
O quarteto fantástico
É difícil acreditar que, além do Jornalismo na Ufrgs, Tiago chegou a prestar vestibular para Medicina na PUC. Achava que se fosse para ser médico uma ajuda divina o faria passar na prova. "Para o bem de todos, só passei na federal", brinca. Como foi selecionado para iniciar as aulas no segundo semestre daquele 1997, precisava inventar algo para não ficar parado. "Foi um período muito relevante estes seis primeiros meses sem trabalhar ou estudar. Era o início do advento da internet e, como ficava muito tempo em casa, 'fuçava' muito nesse tal mundo online", conta, lembrando do tempo em que a internet era discada e que o período da madrugada era mais barato.
Entre descobertas de sites e chats de bate-papo, ele queria mais. A curiosidade passou a ser a de como se fazia aquilo. E foi na própria web que buscou respostas. Sempre autodidata, encontrou todas que procurava, e entrou na faculdade um passo à frente de muitos. Não demorou para surgir a primeira oportunidade de estágio na área em que tinha mais conhecimentos. Foi chamado no Zaz (hoje, Terra) para um estágio em uma área chamada estúdio web, focado na criação de sites corporativos. O primeiro contato com o mundo dos negócios proporcionou ainda conhecer três colegas especiais: Alessandro Cauduro, Chico Baldini e Rodrigo Cauduro, os fundadores da W3haus.
Quando o quarteto se deu conta de que todos os trabalhos do setor passavam pelas mãos deles, juntaram seus computadores e um capital inicial de R$ 10 mil para tocar uma empresa. O que eles tinham? Uma banda larga, uma sede de 25 metros quadrados e uma enorme vontade de fazer acontecer. O primeiro grande cliente conquistado foi a Tramontina, que está na casa até hoje. A marca era atendida pelo quarteto na época do Zaz, que fechou seu setor de criação de sites em seguida que surgiu a W3. Munidos de cara e de coragem, os jovens entregaram um projeto que foi aprovado e está em funcionamento há 12 anos.
Questão de foco
Um ano após a formatura, a W3haus já existia, mas uma "pulguinha" atrás da orelha ainda o incomodava. Ele precisava experimentar o Jornalismo Esportivo, de preferência em TV. O desafio pessoal passou a ser definir seu foco. Foi quando entrou para o projeto Caras Novas, do Grupo RBS. Experimentou e gostou. Em 2003, virou editor, apresentador e repórter na Tvcom. Passou por um programa de cultura chamado Palco, foi repórter do Planeta Atlântida, festival de música anual, promovido pela Rádio Atlântida, e, finalmente, veio a chance de ser jornalista esportivo - e Tiago não recusou.
Não bastasse, surgiu a chance de produzir o programa Fábulas Modernas, criado como exercício do Caras Novas. A emissora gostou tanto que resolveu incluir a atração na grade de sábado. Ou seja, tempo de muito trabalho, com cerca de 16 horas diárias: a agência, o Esporte e o programa no final de semana. O ritmo não durou mais de três meses, pois "não tinha saúde que aguentasse". Chegou o grande momento: largar o sonho de atuar no Jornalismo Esportivo ou dedicar-se a um projeto pessoal e ser dono de uma empresa ainda embrionária? A escolha pela própria agência foi feita, mas ele nem sabe explicar o motivo. "Acho que foi o poder de decisão e vontade de tocar o meu negócio", reflete.
Em campo
A preferência pelos esportes não é apenas no campo profissional. Gosta tanto, que chegou a praticar tênis, vôlei, ginástica olímpica, basquete, natação, até se encontrar no futebol. Na modalidade, aliás, mais uma influência do pai, já que se tornou goleiro. O que era para ser uma brincadeira, aos 9 anos, virou atividade semiprofissional, chegando a atuar nas categorias de base do Grêmio, na Procergs e no Teresópolis Tênis Clube. "Foi uma oportunidade de conviver com muitas pessoas de culturas diferentes. Uma escola de vida", recorda. A paixão durou cerca de sete anos, mas havia chegado o momento de tomar a primeira grande decisão: ou cair de cabeça nesse mundo, ou viver uma vida mais 'normal'. A segunda opção pareceu mais atraente.
Hoje, não atua mais como profissional, mas não abandonou a paixão. Apesar disso, vez ou outra precisa se afastar dos campos, pois, como gosta de dizer, "amador tem lesão de profissional", e isso já o fez quebrar a perna, romper ligamento, entre outros. Além da prática, tem outro aspecto que proporciona amor pelo futebol: o Grêmio. É o time que o traz bastante a Porto Alegre, além de não se afastar dos jogos, mesmo na capital paulista.
Nos momentos de lazer, Tiago busca atividades que lhe deem prazer. A música, por exemplo, está em sua vida há muito tempo. Baterista de duas bandas, em uma delas tem ao lado outros comunicadores - Rodrigo Müzzel, de Zero Hora; Alexandre de Santi, que tem uma empresa de conteúdo; e Márcio Cassol, que atua em uma produtora digital. Juntos, o Conjunto Musical Gilez toca apenas músicas dos anos 1950 e 1960. A escolha pela época se dá pelo fato de ser a essência do rock e por uma questão de mercado, já que são poucos os músicos que tocam esse estilo. Como tem uma vida dividida entre duas cidades, em São Paulo tratou de buscar outra banda, ainda em formação, essa com intuito de ter repertório próprio. "A música é, definitivamente, minha válvula de escape. Tocar 15 minutos de bateria resolve qualquer derrota do Grêmio", brinca.
Para os ouvidos
O que um músico ouve? No caso dele, não há critérios rigorosos, basta ser música boa. Claro que Tiago tem sua essência no rock, e gosta especialmente do estilo dos anos 1980, mas não se nega a ouvir quase nada. "Não sou muito fã de reggae, por exemplo, mas gosto de Bob Marley. O mesmo serve para pagode, mas admiro Raça Negra. Então, não acho que seja uma questão de gênero e sim de qualidade", diz. Na sétima arte, utiliza o mesmo método, apesar de não frequentar muito as salas de cinema. O último que assistiu está entre os filmes mais espetaculares da sua vida, 'Intocáveis', de Eric Toledano.
Na gastronomia, se diz bem eclético. "Gosto de comida japonesa, tailandesa, da minha mãe", diz, explicando que na última categoria, é suspeito, pois gosta de tudo que a administradora Marli Elisabeth faz. Segundo Tiago, ela vai da comida alemã aos frutos do mar e aos doces de forma exemplar. "A especialidade dela é lasanha, mas não resisto à muqueca, nem à torta de morango, que ela sempre faz no meu aniversário", destaca. Adorador da culinária, ele também se arrisca, e muito, na cozinha. Entre suas especialidades estão entrecot, estrogonofe e omelete. Sim, porque ele entende que este último prato tem um ponto certo para ficar saboroso, além de ter inúmeras possibilidades de recheios. Na literatura, Tiago diz que gosta de diversos tipos de livros, e brinca: "Começados? Mais de 50. Terminados, não muitos", conta, explicando que larga suas leituras por nenhum motivo especial, apenas por se entreter com outras atividades. Apesar disso, cita como preferência os romances policiais de Rex Stout, que tem o detetive Nero Wolfe como personagem principal.
Um silêncio e uma resposta
Das grandes lembranças de infância, a casa dos avós maternos é marcante na memória de Tiago - o pomar, o galinheiro, as ferramentas por todos os lados e, especialmente, os almoços: "Era uma mesa grande, com muita variedade de comida, e eu ignorava todas elas, pois sempre pedia para comer pão com chimia e nata", lembra. Do pai, entende que herdou a garra, a vontade de vencer e a característica de liderança. Com a mãe é parecido no jeito de ser, de sempre buscar os conhecimentos técnicos e ser até um pouco metódico. Filho do meio de uma prole de três, ele é irmão de Fábio, de 29 anos, e de Rafaela, 36, mãe de João, seu afilhado, e de Isadora.
Com dificuldades para se autodefinir, Tiago fica alguns instantes em silêncio, explica que faz terapia justamente para tentar se conhecer, faz mais uma pausa, para poder dizer que se vê como um cara que ouve, que tem facilidade para resolver problemas e mostrar caminhos, além de ser interessado por tudo. A dificuldade em achar as palavras dura pouco, pois logo consegue encontrar mais características: "Sou também um cara sensível em todos os sentidos que a palavra pode ter, que gosta de estar entre os seus, gosta de celebrar a vitória e fica puto na derrota".
Imagem

Comentários