Roberto Brenol Andrade: Um homem apaixonado

"Não me acomodei", garante o jornalista, que há 35 anos trabalha no Jornal do Comércio, onde é responsável pela opinião e por abastecer os colegas com estatísticas.


Roberto Brenol Andrade, 64 anos, é um homem fiel a dois amores: a imprensa e a esposa, Tânia Maria Bernardes Andrade. Atual editor de opinião do Jornal do Comércio, o jornalista acredita que casamento é para sempre e concilia com equilíbrio dois longos relacionamentos. No periódico, atua há 35 anos. No matrimônio, mantém-se há 40. Assim, teve a oportunidade de, profissionalmente, evoluir com o surgimento de novas tecnologias e com as inúmeras mudanças feitas pela empresa. Também comemora ter encontrado a medida certa para dosar os momentos de trabalho e vida pessoal.


Nascido no "Alto da Bronze", como ele denomina a parte do centro de Porto Alegre onde viveu por muitos anos, realizou os estudos nas escolas Nossa Senhora das Dores e Júlio de Castilhos. Saudoso, ele conta que ainda hoje, de tempos em tempos, reúne-se com os amigos de infância. A vida acadêmica começou de forma confusa. Passou pelos cursos de Economia e Letras, sem concluí-los, antes de descobrir o jornalismo. "Hoje não consigo me imaginar fazendo outra coisa", comemora a escolha certa. Durante a graduação, realizada na UFRGS, foi colega de muitos profissionais com quem trabalha atualmente no JC, como Fernando Albrecht e João Egídio Gamboa.


O primeiro emprego conquistou aos 21 anos, mediante concurso, no Departamento de Notícias da Rádio Guaíba. Acabou atuando durante sete anos na Caldas Júnior, alternando-se entre a emissora e o jornal Correio do Povo, na época de maior prestígio da empresa de comunicação. "Já no começo da carreira eu estava onde muitos jornalistas queriam chegar", assinala, revelando que a convivência com comunicadores experientes o fez aprender muito. Durante esse período, teve a oportunidade de embarcar em uma cobertura internacional, feito de destaque em sua trajetória profissional. Mais tarde, a aventura lhe proporcionou o 2º lugar no Prêmio ARI.


Reservista das Forças Armadas, Brenol ofereceu-se para registrar a participação do Brasil nas forças de paz enviadas pela ONU ao Canal do Suez, no início da década de 60. Assim, na condição de soldado-jornalista, acompanhou de perto a rotina dos militares. As fotos, gravações e os textos que produzia chegavam à Caldas júnior através dos aviões do exército, dando credibilidade e ineditismo às reportagens. Permaneceu na missão de junho de 1963 a outubro de 1964 e recorda que "não tinha regalias", pois recebia o mesmo tratamento dispensado aos demais soldados. Da experiência, tirou a lição de que "fazemos loucuras na juventude", diverte-se.


Opinião fundamentada


Ingressou no Jornal do Comércio em 1970, deixando a Caldas Júnior antes de sua falência. Para ele, um ciclo havia se encerrado e era o momento de buscar novos desafios profissionais. O convite para integrar a equipe do impresso foi ao encontro de seus objetivos e, com o tempo, o jornalista e o jornal cresceram juntos. Foi repórter, setorista na área de indústrias, chefe de reportagem, secretário de redação e, há quinze anos, é editor de opinião. Em 1975, simultaneamente ao JC, ele ainda assumiu a chefia dos serviços de imprensa da prefeitura de Porto Alegre, um trabalho temporário.


Neste ano, ele completa 35 anos de serviços prestados ao periódico e avalia de forma positiva sua extensa permanência no veículo. "Não me acomodei", assegura, relatando ter acompanhado o surgimento de novas tecnologias - como a internet - e a modernização do jornal. "Se não fosse assim, eu estaria obsoleto e desempregado", justifica. Mas sua grande motivação para o trabalho é a paixão pela imprensa. O jornalista assegura nunca ter tido vontade de atuar na TV e também não sentir falta do rádio. "Estou completo, é um sentimento sem explicação", define.


Responsável pelas páginas dois e quatro do JC, Brenol aboliu as fórmulas para a criação de editoriais - método que associa a confecção de redações escolares. "Eu tenho transformado o editorial quase em um noticiário", explica. Sem negar a condição de "achismo" dos textos que escreve, ele assegura abastecer os editoriais com estatísticas, datas e informações de fontes oficiais para dar sustentação às suas opiniões. "Eu tenho que iniciar e finalizar o editorial com a opinião, porque essa é a sua função, mas tenho que recheá-lo com justificativas convincentes que convençam o leitor", afirma.


A grande família


No último dia 19 de março, ele e a esposa, Tânia, 59 anos, completaram 40 de união. "Casamos na igreja São José, no dia de São José, o padroeiro da família", relembra. A união resultou em quatro filhos, Cláudio Roberto, 39, Rogério, 38, Rodrigo, 31, e Rita de Cássia, 29. O mais velho seguiu os passos do pai e, atualmente, trabalha com telejornalismo na TVE-RS. "Esse não se identificou com o impresso, gosta mesmo é de TV", pondera. A caçula, única menina, é "tratada a pão-de-ló" pelos irmãos, segundo a avaliação do pai. Já os dois filhos do meio, solteiros, ainda desfrutam de mimos na casa da família.  


Apegado à família, Brenol não mede esforços para estar junto dela e organizou o seu tempo para harmonizar o trabalho e a vida pessoal. "Quando saio de férias, fico longe das notícias e me dedico apenas ao convívio familiar. Não leio jornal, não ouço rádio nem vejo TV", exemplifica. Ele confidencia que, desde o início de sua carreira, levou a esposa às viagens profissionais. "Eu sempre dava um jeito dela ir junto", resume, ressaltando o companheirismo entre eles. "Hoje é ela quem me leva para seminários de psicologia", orgulha-se do crescimento da esposa em sua área de atuação: a psicanálise.


Não apenas a trabalho, mas principalmente por lazer, o casal adora viajar. Pelo menos uma vez ao ano, roteiros nacionais e internacionais são executados por eles, que conhecem vários países da América, da Europa e do Oriente. A próxima visita já está programada: Cuba. "É uma curiosidade antiga, uma lacuna na minha vida", admite. Das viagens já feitas, a mais marcante foi o retorno ao Suez - onde esteve com as forças armadas da ONU, em 1963 - que trouxe à tona as lembranças de Brenol e saciou a curiosidade de Tânia.


No tempo livre, Brenol gosta de ir ao cinema e à praia, preferências compartilhadas pelos filhos. Juntos, eles mantêm um acervo de DVDs de títulos antigos. "Sou de uma geração que se criou sem televisão Por isso, valorizo a apresentação dos filmes nas salas de cinema", conta. Atualmente, ele também está empenhado na construção de uma casa em Imbé, no litoral norte. "Já veraneamos em várias praias, mas meus filhos preferem Imbé, então é para lá que vamos", explica.


Freud explica


Para o futuro, planeja a felicidade dos filhos: "quero vê-los encaminhados na vida", conta. No âmbito profissional, projeta permanecer no Jornal do Comércio. Ele revela que apenas em pensar na possibilidade de abandonar as atividades jornalísticas, sente-se angustiado. Mas brinca: "Enquanto o jornal me tolerar, eu vou ficando". O temperamento tranqüilo e o jogo de cintura, que facilitaram seu crescimento na profissão e a rotina familiar ao longo do tempo, agora também contribuem para sua continuidade na carreira e conseqüente satisfação pessoal.


Segundo o jornalista, suas características mais marcantes, como a serenidade e a organização metódica, são fruto da companhia de Tânia. "Ela é meticulosa e eu acabei incorporando isso", fala. Ele avalia que nos últimos 20 anos atingiu a maturidade na vida pessoal e, para isso, precisou muito da ajuda da esposa. "Enquanto eu me firmava na profissão, precisei me distanciar da família. Participei pouco da infância dos meus dois primeiros filhos e ela agüentou firme", revela, deixando transparecer o excelente entrosamento entre os dois.


A perseverança e a persistência são suas grandes qualidades. "Foi por isso que passei de repórter a chefe de redação", associa. Seu defeito que mais chama a atenção é o perfeccionismo ao escrever, que ele justifica cultivar devido ao fato de gostar muito do que faz. Nesse sentido, alerta para a fórmula do sucesso, que para ele, é "cada dia buscar a superação".

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