Antônio Carlos Macedo: Um tímido que ousa

Por trás da voz conhecida em todo o Estado esconde-se um homem de excelente memória e muita timidez que usa o microfone como um escudo e encontra no rádio o veículo mais adequado ao seu trabalho

Antônio Carlos Macedo - Reprodução

Por trás da voz de Antônio Carlos de Macedo, conhecida em todo o Estado através da Rádio Gaúcha, esconde-se um homem de excelente memória e muita timidez. Natural de Esteio, 50 anos, o jornalista admite usar o microfone como um escudo e encontrar no rádio o veículo mais adequado para o seu trabalho. Bem-sucedido na profissão, diz ter na família a retaguarda necessária para o seu sucesso.

A bela voz já criou situações constrangedoras para o jornalista. Os convites para eventos públicos, dos quais foge devido à sua "timidez doentia", são freqüentes. "Sempre que posso, caio fora", brinca, enfatizando a contradição de ser um comunicador e não gostar de aparecer em público. Ele explica que, por causa de sua atuação no mercado de trabalho, melhorou muito, mas o problema vem desde a época do colégio: "Eu era aquele aluno que sabia a resposta mas tremia de medo de levantar a mão."

Foi também durante a infância que Macedo revelou uma qualidade nata, a boa memória. Ele conta que o pai costumava bolar jogos para exercitar e testar suas capacidades. "Eu tinha uma coleção de revistas com histórias infantis, da editora Abril, e na contracapa de cada uma delas tinha uma propaganda diferente. Meu pai as colocava viradas para baixo e eu ia dizendo qual revista correspondia a qual história. E eu acertava todas!" Anos mais tarde, a qualidade foi aprimorada no dia-a-dia do jornalismo e se transformou em um grande instrumento de trabalho - principalmente relacionado ao futebol, para decorar resultados de jogos.

Estudante, mas de carteira assinada

O jornalismo surgiu na vida de Macedo no momento do vestibular. Indeciso quanto à graduação que deveria seguir, foi por influência dos pais que tomou o rumo da comunicação. "Como eu estava sempre envolvido com jornais na escola e com a montagem de som em quermesses, meus pais acharam que eu tinha talento para a área", relembra. Ingressou na Ufrgs em 1974, formou-se em 1977 e trabalha na área há quase 30 anos. "Acho que acertei na escolha, porque sempre fiz isso e não me imagino fazendo outra coisa", avalia. Contudo, continuou morando em Esteio durante os estudos. A mudança definitiva para Porto Alegre aconteceu apenas em 1981, quando se casou.

Ainda no tempo em que os estudantes podiam ter sua carteira de trabalho assinada pelos veículos, na condição de jornalista, Macedo começou sua carreira profissional. "As aulas da faculdade iniciaram em março e, em setembro, no dia 4, eu já estava trabalhando na Caldas Júnior como contratado", comemora. Ele atuou na Central do Interior da Caldas Júnior, uma agência que coordenava os correspondentes e sucursais do interior e que havia sido criada por seu primeiro chefe, o ex-governador Antônio Britto. Começava ali uma parceria de dez anos com o grupo jornalístico, com passagens pela rádio Guaíba e pelo Correio do Povo.

Na Central do Interior passou pelas funções de redator geral, de esportes, diretor da editoria de esportes e subchefe geral, permanecendo lá até 1983. "Naquela época, em que a Caldas Júnior já apresentava uma série de problemas, a Central funcionava muito bem. Ganhamos até o prêmio Esso", relata, revelando que a nova direção que assumiu a Caldas Júnior após sua falência, ao reconstituir a cobertura de interior praticamente recontratou todos os correspondentes originais e muitos deles seguem trabalhando até hoje.

No Correio do Povo, onde atuou até maio de 1984, iniciou como chefe de reportagem, no lugar de Armando Burd, e diz ter atravessado os piores anos da empresa, com atrasos de salários e greves. "Foi um momento difícil e ao mesmo tempo interessante porque, mesmo com uma equipe pequena, nós fazíamos uma guerrilha", fala fazendo referência à competição com a Zero Hora, embora soubesse que a concorrente era líder isolada naquele momento. "Diante da total falta de perspectiva e da inanição da empresa", Macedo pediu demissão, encerrando sua participação na Caldas Júnior, através de uma denúncia judicial para ter direito ao fundo de garantia.

O primeiro trabalho após a demissão foi o de assessor na Secretaria de Justiça e Segurança, quando Jarbas Lima estava à frente da entidade. Simultaneamente, tocava um projeto pessoal chamado Rádio Produtores Associados, o RPA, através do qual se produziam e distribuía programas para o interior - via correio com fitas K7. "Chegamos a ter programas em 37 rádios ao mesmo tempo, em rede", comenta. Marco Antônio Baggio e Edegar Lisboa eram os sócios de Macedo na empreitada, que acabou não dando certo em função dos compromissos profissionais dos três.

Em julho do mesmo ano, o jornalista foi convidado para trabalhar na Rádio Gaúcha, na área de esportes. "Eu aceitei, embora o salário fosse muito pequeno", explica, dizendo que encarou o convite de forma desafiadora, já que em 1986 haveria uma Copa do Mundo. O bom desempenho de Macedo assegurou a ele a posição de terceiro repórter da emissora na cobertura do campeonato mundial. Ele atribui à sua bagagem jornalística o sucesso no trabalho, já que a cobertura do esporte era feita por radialistas, "pessoas que falavam muito bem, mas não tinham uma visão jornalística, de pautas".

Macedo também assumiu o plantão esportivo, desejado por poucos profissionais devido ao seu horário de transmissão, às 23h30min. O programa acabou alavancando a carreira, já que ele foi, aos poucos, dando um caráter jornalístico às transmissões. A exemplo do episódio Collor, em 1990, quando o ex-presidente confiscou poupanças e decretou feriado bancário. Na ocasião, Macedo gravou um programa metade esporte e metade jornalismo. "Fui cobrir a rua, o movimento nos caixas eletrônicos? E aí levei aquele modelo para o Ranzolin", conta. A idéia foi comprada e deu origem ao Plantão Gaúcha, que existe até hoje no mesmo formato. "No plantão a gente inovou bastante, fez coisas que a rádio não fazia, valorizando trilhas e ilustrações", lembra.  

Em 1993, surge o convite para assumir as duas edições do Chamada Geral, ele deixa de cobrir os estádios e passa a permanecer mais tempo na rádio, embora continuasse como repórter esportivo e tivesse assumido também a editoria de esportes da rádio. Com a saída de Rogério Mendelski, em 2002, o nome de Macedo acaba aparecendo como o de seu sucessor natural no Gaúcha Hoje. Atualmente, o jornalista completa três anos à frente deste programa matinal, permanece responsável pelo Chamada Geral - apenas de sua primeira edição - e ainda escreve a coluna Chamada das Ruas, para o Diário Gaúcho, originada pelo programa de rádio.

Para que assumisse o Gaúcha Hoje, a emissora impôs a condição de que ele deixasse os programas de esporte da rádio, a fim de desvincular sua imagem da editoria. Para Macedo, que já fez a cobertura de cinco Copas do Mundo e três Olimpíadas, entre outros campeonatos internacionais, e já alimentava a idéia de abandonar as viagens, a condição foi aceita com tranqüilidade. "Todo ano eu passava pelo menos um mês fora de casa", lamenta.

Satisfeito com suas experiências e conquistas, Macedo avalia que seu maior desafio profissional, diário, é se olhar como um foca, provando as coisas, "por mais que tudo seja rotina para quem tem trinta anos de profissão". Ele diz estar sempre tentando trazer coisas inéditas, que a rádio não faz. Também procura estar constantemente em contato com os profissionais jovens, por achar que "é com eles que a gente se renova, convivendo com as idéias, com o entusiasmo deles". "Meu desafio é continuar olhando para o futuro, tendo como base os erros e acertos do passado", conclui.

Papai coruja, marido apaixonado

O sucesso profissional, Macedo atribui à sua família e ao companheirismo da esposa. Casado há 24 anos com Maria Cristina Macedo, 45 anos, ele assegura que o período de 18 anos que passou viajando a trabalho deixando para trás a família, três filhos e uma série de responsabilidades, não teria sido possível "sem uma boa retaguarda". Pai de Rafael, 22 anos, de Bibiana, 13, e Guilherme, 11, o jornalista comemora a diminuição de sua carga horária, o fim das viagens, os finais de semana em casa e o tempo livre para a convivência com a família. "Essa foi minha maior conquista com a mudança para o Gaúcha Hoje", avalia. Assim, Macedo faz o que muitos pais não podem fazer: busca os filhos na escola, acompanha os jogos escolares e leva para aniversários.

Seu planejamento pessoal para os próximos anos é "formar os filhos para a vida" e dar conta da diferença de idade e seus respectivos assuntos com cada um deles. O mais velho, Rafael, é estudante de publicidade e atua como assistente de mídia da agência Escala. Entre os clientes que atende, está a Colombo, anunciante da Rádio Gaúcha. "É engraçado porque eu recebo ordens de comerciais do meu filho", orgulha-se, explicando que precisa ter uma conversa profissional e adulta com ele e, ao mesmo tempo, uma conversa de adolescente com os outros.

O tempo que sobrar será destinado à esposa, para viajar, sem roteiro, mas com regularidade, já que os filhos estão crescendo. Macedo conhece o mundo apenas como turista acidental, em função de seu trabalho. "Não participava da vida cultural, turística e gastronômica dos lugares. Ficava restrito às coberturas, frustrado por estar longe da família", relata. A primeira viagem ? das várias previstas ? aconteceu recentemente, este ano, para Nova Iorque e Cancun.

Extremamente caseiro, ele é avesso a festas e badalações e passa a maior parte do tempo em casa, cuidando de seus sete cães e três pássaros. Também promove muitos churrascos para a família e diz que não viveria sem carnes vermelhas, contrariando todas as recomendações médicas de seu cardiologista - hoje atenuadas. Coleciona cds, tem mais de mil, de todos os gêneros. Mas a preferência é pelo rock e pelo pop dos anos 70 e 60. É também no aconchego do lar que o jornalista assiste a praticamente todos os jogos de futebol em pay-per-view, evitando a ida aos estádios. Entretanto, ele afirma não ser esta uma paixão. "Passei 18 anos tratando o futebol de maneira profissional e acabei me distanciando", explica. Agora, a conversa informal na redação compensa o que ele não expressa no microfone.

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