Vagner Martins: Futebol na veia

Apaixonado pelo mundo da bola, o jornalista enxergou na profissão a forma de realizar um sonho

O futebol sempre fez parte dos planos de Vagner Martins, o Vaguinha. O radinho de pilha dado pelo avô na infância, que inclusive ainda carrega consigo um do mesmo modelo, foi crucial para alimentar o fascínio pelo esporte. Aos nove anos, ia dormir acompanhado pelas vozes mais marcantes da época, entre eles, Armindo Antônio Ranzolin, Lauro Quadros e Ruy Carlos Ostermann. "A Gaúcha era a estação que chegava com mais potência em Osório", justifica a lembrança.

Foi nas quadras a primeira tentativa de entrar para o universo da bola. Para isso, chegou a frequentar as bases da dupla Gre-Nal. No entanto, aos 18 anos, no Grêmio Esportivo Bagé, time da cidade de Bagé, no interior do Estado, percebeu que não seria no campo o lugar que realizaria esse sonho. Então, decidiu que o jogo não seria com a bola, mas com os microfones. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o jornalista iniciou a carreira como estagiário na rádio Jovem Pan FM, em Osório. Natural de Porto Alegre, mudou-se aos 10 anos para o município, devido a uma oportunidade de trabalho do pai, seu Antônio Vitorino, engenheiro eletricista.

Falecido há três anos, vítima de um câncer nos rins, era o mais entusiasta com a possibilidade de ter um jogador profissional dentro de casa. "Ele ficou muito mais chateado que eu quando resolvi desistir da carreira de jogador. Acima de tudo, temia que eu não conseguisse me sustentar como jornalista." Mas, para a felicidade de todos, o tempo mostrou que era esse o caminho a seguir. 

A primeira vez a gente nunca esquece

Foi nos campos de futebol de várzea que Vaguinha iniciou a trajetória como repórter, contudo, relata que jamais vai se esquecer: "Da sensação de ligar pela primeira vez a chave do microfone. Falar e escutar no retorno foi mágico". Colorado assumido há pouco tempo, quis o destino que a primeira participação em uma transmissão em Porto Alegre fosse uma partida do Grêmio pela Copa Libertadores da América.

A estreia, de fato, como "repórter de goleira" foi durante um jogo do time do coração. Em 2003, Inter e Juventude se enfrentaram pelo Campeonato Gaúcho. O jogo parecia ganho para os donos da casa, mas em uma reviravolta tudo mudou. "Um placar de 3x3 e um Beira-Rio lotado com quase 40 mil pessoas. Foi muito emocionante."

O primeiro Gre-Nal ficou, igualmente, marcado na trajetória. Não somente pelo momento, mas pela decisão que tomou a partir daquele dia. "Eu, que tantas vezes estive na torcida, agora exercia o papel da profissão que ia colocar comida na minha mesa. Sabia que agora não poderia misturar as coisas."

A vinda para uma emissora da Capital foi pelas mãos do jornalista Ricardo Vidarte, falecido em 2018. Ainda como estagiário, teve uma rápida passagem pela Rede Pampa. A carreira tomou um novo rumo após o convite do jornalista Ribeiro Neto para compor o time esportivo do Grupo Bandeirantes RS, em 2004. "Lá foi minha grande escola", diz sobre os 10 anos em que atuou no rádio e na TV, como produtor, repórter, direção de programação e debatedor do, na época, 'Toque de Bola', atual 'Donos da Bola RS'. 

É também por lá que guarda uma das lembranças mais tristes da jornada como jornalista. Na manhã do dia 27 de janeiro de 2013, foi convocado para cobrir o incêndio da Boate Kiss em Santa Maria. Na ocasião, Leonardo Meneguetti estava como diretor de Jornalismo da Rede Band e pediu que Vaguinha fosse para lá acompanhar os primeiros momentos da tragédia.

A estadia, que seria de 10 dias, não durou três. "Ainda não havia ido na boate e fui para acompanhar um ato dos familiares. Quando cheguei e senti o cheiro da madeira queimada, vi que não conseguiria. Liguei para o Ribeiro e comuniquei que não ficaria, mesmo que isso significasse perder meu emprego", recorda. 

Novos ares

No final de 2013, recebeu o convite para atuar como setorista da dupla Gre-Nal pela Fox Sports. A emissora, que tinha sede no Rio de Janeiro, viabilizou a montagem de um estúdio em São Paulo, que, posteriormente, seria o destino de Vaguinha. No entanto, o tempo foi passando e acabou ficando por aqui. Após a compra da emissora pela Disney e a chegada da ESPN ao Brasil, as operações da Fox Sports acabaram, o que levou o jornalista a procurar por novos rumos.

Com um tino para os negócios, herdado do pai, aproveitou o bom momento financeiro, proporcionado pelo bom salário, resolveu investir em um complexo de quadras de beach tennis, futevôlei e vôlei de praia. O local, além de refúgio para os momentos de lazer, comporta, ao mesmo tempo, o estúdio de gravação do canal do Youtube. Este, aliás, criado em 2020, não como opção, "foi o caminho que se apresentou naquele momento".

Contudo, um novo convite de Meneghetti para retornar para a Band foi o salto que ajudou a alavancar a carreira como produtor de conteúdo. Vaguinha chegou para ocupar a vaga deixada por Alex Bagé, que havia ido para o 'Sala de Redação', na Rádio Gaúcha, no programa 'Donos da Bola RS'. Além de debatedor, assumiu, ao lado de Sérgio Boaz, o comando do programa 'Atualidades Esportivas Segunda Edição' na rádio. "Ajudei a reformular o programa e tive o prazer de trabalhar com o Serginho, que é um cara sensacional."

Mas a carga horária passou a ficar pesada e difícil de conciliar com a vida pessoal, o que o levou a decidir pela saída da emissora. Segundo o jornalista, com a volta das atividades após a pandemia, a procura pelas quadras aumentou muito e mostrou que precisava assumir o negócio mais de perto. "Além disso, não estava conseguindo ter um tempo a mais com os meus filhos. Prezo muito estar com eles, até mesmo o simples ato de levar e buscar na escola", salienta.

"Vem com o Vaga! Vem com o Vaga"

É com este bordão que Vaguinha conquista, a cada dia, mais seguidores no canal. Inicialmente criado para trazer informações sobre a dupla Gre-Nal, o jornalista pegou muitos de surpresa quando resolveu revelar o time do coração, em setembro do ano passado, durante uma live. O motivo foi muito especial: o filho Théo, de três anos. "Meu filho está rodeado de gremistas, esposa, irmã e tios, então, antes que alguém tomasse esse posto, decidi revelar." 

Na verdade, a ideia vinha sendo amadurecida há dois anos e, como já não atuava mais como repórter, não havia mais empecilho. No entanto, o coração e a vontade de torcer com o pequeno bateram mais fortes, o que levou a antecipar a decisão. Outro fator determinante foi o conhecimento sobre a plataforma, que indicavam que segmentar o público poderia trazer mais retorno. De fato, a mudança trouxe resultados, porém deixou órfãos os torcedores gremistas: "A torcida sente muita falta. No início, a maioria das minhas fontes eram do lado tricolor".

Atualmente com mais de 175 mil seguidores, tem o canal como a principal fonte de renda e garante que vive muito bem: "Tenho vida própria na plataforma". Apesar de satisfeito, faz questão de salientar que a demanda de trabalho é desgastante, já que depende exclusivamente dele: "Saio da cama já buscando notícia". 

Além do canal, faz parte do programa Debate Raiz juntamente com os ex-colegas Meneghetti, Ribeiro Neto, João Batista (JB) Filho, César Cidade Dias (CCD) e Fabiano Baldasso. Sobre uma possível saturação na oferta de conteúdos da dupla Gre-Nal, diz não se preocupar. "Sempre vai haver alguém procurando informações, só preciso saber como entregar isso ao público." Para tanto, procura acompanhar e estudar os movimentos de todas as redes.

Seguindo este raciocínio, não pensou duas vezes quando foi convidado pelo Prime Video para atuar como repórter de campo no jogo entre Juventude e São Paulo, válido pela Copa do Brasil de 2022. O serviço de streaming havia comprado o direito para transmitir algumas partidas do campeonato e trouxe o jornalista Tiago Leifert para narrar e o streamer Casimiro Miguel para comentar. "Ter o meu nome ligado a este projeto rendeu uma repercussão muito positiva."  

Uma família Gre-Nal

Filho do meio da catarinense Maria Salete, Vaguinha é apaixonado pela Praia do Rosa, e pelo menos uma vez por mês costuma visitar a matriarca e a irmã Carolina, colorada "não praticante". Já o irmão Vitor, assim como o pai, seguiu o lado azul da família. O fascínio pelo Internacional nasceu a partir de um momento marcante. Na infância, Vaguinha era fã do Zico, na época jogador do Flamengo. A admiração era tamanha que a primeira palavra que aprendeu a escrever foi o nome do flamenguista. Todavia, um churrasco de família para assistir a uma partida do time do Beira-Rio contra o Rubro Negro, pelo Campeonato Brasileiro de 1987, mudou sua vida.

Para delírio do avô e dos tios maternos, o colorado aplicou uma goleada e levou todos à loucura. "Ver o time do Zico perder para o Inter em pleno Maracanã lotado me fez nunca mais querer saber do Grêmio", fato esse que deixou seu Antônio muito chateado. Entretanto, o futuro guardava uma surpresa e colocou em sua vida a gremista fanática Luciane.

Casado há 20 anos, conheceu a contadora em pleno Carnaval de Osório e, desde então, "com raríssimos términos", mantém uma relação de muita cumplicidade com a contadora. É com ela que divide a felicidade de ser pai da Alice e do Théo.   

Com uma carreira consolidada e repleta de conquistas, como participações em diversas coberturas internacionais, como Copa Libertadores da América, Mundial de Clubes FIFA, Copa do Mundo de 2014 e Copa América, Vaguinha diz ser totalmente realizado com o Jornalismo. Entretanto, acha que faltou participar de uma Copa do Mundo in loco.

Ainda na Fox Sports, chegou a integrar a construção do projeto para fazer parte do time que iria para a Rússia, o que não aconteceu. Ainda assim, não descarta a possibilidade: "Que tipo de conteúdo eu produziria não sei, mas seria muito legal!". Ao falar sobre si, não poupa elogios: "Modéstia à parte, o Vaguinha é um baita jornalista. Um trabalhador incansável, que não cansa de correr atrás da notícia, mesmo que os caminhos, às vezes, não exijam tanto. Talvez isso explique a quantidade de pessoas que me seguem e prestigiam o meu trabalho."

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