Xicão Tofani: Além da noite

Comunicador carrega consigo a importância da história para o presente

Xicão Tofani é formado também em História

Diz uma lenda que, após a guerra, os troianos fugiram para uma região na Itália que hoje é conhecida por Pescia. Pertencente à Toscana, a cidade atualmente tem cerca de 17 mil habitantes e se estende por uma área de 79 km². Neste local nasceu Silvano Tofani que, mais tarde, mudaria-se ao Brasil, e se casaria com a descendente de austríacos Dorila. Da união, nasceram Sônia e Alberto Francesco. Da trajetória da família paterna, o primogênito carrega até hoje o orgulho de pensar que pode ter o mesmo sangue de um guerreiro grego. Por isso, história sempre foi mais do que uma matéria do colégio para ele, que hoje é conhecido por Xicão Tofani.

A paixão pelo épico é tamanha que gostaria de ter sido o guerreiro grego Aquiles, pela valentia, dignidade e posturas pelas quais é retratado nos livros. Quando chegou a hora de prestar vestibular, os pais o incentivaram a cursar História, pois acreditavam que, com esta formação, ele dominaria as artes da comunicação e persuasão. Porém, não foi preciso muito esforço da família, pois sempre carregou em si a adoração pelo passado."E, realmente, quem a conhece, domina tudo", opina.

Após se formar em História, começou a lecionar em escolas. Contudo, acabou percebendo que as salas de aula não foram feitas para ele. Foi assim que, após três anos, graduou-se em outra área: Jornalismo. Assim como a primeira opção, o curso foi concluído na PUC, em Porto Alegre. Por se identificar mais com a área de criação do que redação, resolveu não estagiar e traçar outros caminhos.

Pelas ondas
Ao começar um relacionamento com uma ex-Miss Brasil e vice Miss Mundo, passou a acompanhá-la nos trabalhos que a namorada fazia em viagens aos Estados Unidos e à Europa. Ao conhecer o mundo fashion e glamouroso em que ela vivia, encantou-se e, quando regressou ao Brasil, teve a ideia de criar um programa que abordasse a temática, o 'Miss TV'. A partir de então, procurou a TV Bandeirantes, que comprou a ideia e o possibilitou estrear nas telas gaúchas. Passado um tempo, foi nas ondas sonoras que ingressou, ao apresentar o programa 'Pappali' na Universal FM, hoje Continental, pertencente à rede Pampa. "Devo muito ao Otávio Gadret e ao Paulo Sérgio Pinto, que me deixaram livre para aflorar o Xicão Tofani que sempre quis ser", diz.

Na época, também passou a criar quadros ao lado de Clóvis Duarte e Bibo Nunes e o segundo é um amigo que carrega até hoje. Em 1993, procurou Otávio para propôr a ideia de transmitir um programa nas madrugadas que gravasse festas. O presidente da empresa não somente gostou da sugestão, como o convidou para apresentá-lo. O que era projeto se consagrou, e a atração que levava seu nome ficou no ar por mais de duas décadas. "Ficamos no ar até o ano passado, e acabamos pois a noite mudou e perdeu muita qualidade", conta, ao citar a passagem que teve ainda pela TV Urbana e também no canal 20, hoje Canal Bah - mas sempre ligado à Pampa -, além do YouTube.

Com 35 anos de carreira, 25 somente na rede Pampa, Xicão também acumula no currículo a participação no programa televisivo 'Atualidades' há quatro anos. O comunicador ainda integra a equipe da rádio Grenal, em 'Grenal Futebol Clube', além de ter trabalhado no 'Dupla em Debate', da mesma emissora.

Estilo Xicão Tofani
Ele, que possui uma marca de camisas, a XT, é conhecido pelo público pelo estilo marcante e único. Contudo, revela que foi justamente com isso que encontrou os primeiros desafios na carreira. "Fazer um programa antes com mulheres de biquíni era um horror. Fui discriminado por ser diferente e criar um gênero de andar com dois relógios, óculos escuros e pintar as unhas", conta.

Apesar dos trajes serem reconhecidos de longe, o que a audiência não sabe é que para tudo há uma razão. Os óculos escuros que Xicão usa, até mesmo durante a noite, é devido a um problema no olho esquerdo que possui, além de achar legal e usá-los para disfarçar um pouco de timidez.

Outra marca registrada, um relógio em cada pulso, entrou na vida do jornalista quando teve uma namorada que morava em outro país, com fuso horário diferente. Para resolver o problema de não telefonar a ela de madrugada, verificava o horário de Brasília em um acessório, enquanto o outro marcava as horas e minutos do local onde ela se encontrava. "Acabei gostando e me apaixonando", expõe. A paixão por óculos e relógios hoje é tamanha, que possui como hobby, além de descansar em casa olhando para o Guaíba, colecionar os adereços.

Ao ter o desejo de homenagear um dos times do coração, Boca Juniors, pela conquista de uma Libertadores da América, Xicão decorou as unhas com esmaltes azul e amarelo - cores da equipe argentina. O resultado o agradou tanto, que acabou aderindo à prática de pintá-las. Hoje, todas as segundas-feiras, Rochele, personal beauty que o atende, faz suas unhas, decorando o minguinho das mãos, além de passar brilho. A visita ainda rende a produção da sobrancelha cortada em faca - em alusão os guerreiros celtas, no norte da Escócia.

Fora do ar
Além do momento reservado para estes cuidados, inclui na rotina acordar todos os dias tarde - pois não gosta de despertar logo cedo -, ficar na piscina pegando sol e  almoçar fora, sozinho ou com amigos (tem o costume de não comer em casa). Solteiro há dois anos, após o período seguinte dedicado ao trabalho, no dia a dia também entra jantar fora e ir à festas. Sobre os planos futuros, comenta que daqui a 10 anos pretende estar trabalhando bem menos, ou quase nada. "É algo que deve ser muito legal você ser dono do seu horário", opina ele, que está com 61 anos.

O dia a dia de Xicão ainda é completo com  as horas que dedica ao futebol. A admiração é tanta que, além de torcer para o Boca Juniors - time que escolhia para jogar botão quando jovem -, é fã da Juventus, na Itália, e do Tottenham, na Inglaterra. "No Brasil, me divido muito. Fui colorado, mas hoje torço para os dois", revela. O comunicador ainda é um apaixonado por Fórmula 1, tanto que a  capa do livro que lançará foi inspirada na imagem que ilustra a obra publicada por Mark Weber, piloto da Red Bull. Outra prática esportiva que o chama a atenção é o tênis.

Em relação às leituras, gosta muito das obras publicadas pelo alemão Hermann Hesse, além do poeta grego Homero. Após ter encontrado o escritor Sidney Sheldon em uma Feira do Livro e ter saído para jantar com o norte-americano, passou se interessar por seu trabalho. Sem ter tempo para assistir a séries, são os filmes que chamam a atenção do jornalista. Segundo ele, gosta das produções de ação com um pouco de ficção. Enquanto 'Blade Runner' é o favorito e o inspira muito, dispensa os cinemas quando o gênero é comédia.

Xicão é feito de momentos. Quando está em casa, escuta ópera, música pop e italiana. Porém, quando está na noite gosta de ser embalado pelas  músicas eletrônicas. Em relação ao gosto gastronômico, adora degustar peixe com salada, principalmente se for um robalo - espécie encontrada mais em solo catarinense.

Multimídia
Estar fora do Rio Grande do Sul, aliás, é algo que adora. Ele, que viaja de seis em seis meses, pretende no futuro dar mais voltas fora de Porto Alegre. "Já estive em quase todos os Estados Unidos, na América Central, na América do Sul e na Europa. Porém, prefiro visitar os países americanos", conta.

Em uma destas viagens foi que passou por um dos momentos de mais satisfação na carreira, ao entrevistar o uruguaio Carlos Paez Vilaró. Xicão esteve em Punta Ballena, na famosa obra do artista, Casapueblo, e conseguiu falar com ele, que conviveu com Salvador Dalí e Picasso. O jornalista conta que se emocionou com a história do filho do pintor - que estava em um avião que despencou nos Andes. "Eu como professor de História fiquei muito feliz", revelou. Gravar na região Riviera Maya - banhada pelo Mar do Caribe, no estado de Quintana Roo, no México -, é outro fato que cita como importante. O comunicador saiu de Cancún até chegar em Belize, na Guatemala. "Este roteiro Maia foi uma volta ao passado e achei muito legal", salienta.

Xicão, que se diz alguém amistoso, confessa que o maior defeito é não perdoar quando é prejudicado. Para ele, a maior qualidade que possui é ser alguém de atitude e honesto, o que herdou do pai, sua grande referência, enquanto da mãe carrega a humildade. Sobre a infância, são as idas para o bairro Ipanema, na Zona Sul da Capital, de que mais se recorda."Tomar banho no Guaíba era o que mais gostava de fazer até os seis anos. Depois, começamos a veranear em Capão da Canoa, em uma época muito bacana da minha vida", menciona.

Batizado na religião católica, hoje professa a Umbanda. Para ele, a crença ajudou a estabilizar a doença autoimune, que possui desde a nascença, Crohn (inflamação intestinal e crônica que afeta o revestimento do trato digestivo). Com a enfermidade sem causar problemas atualmente, Xicão segue no rádio, na televisão e nas baladas da vida. Afinal, se define como um cara multimídia.

 

Autor
Editora

Comentários