TVE: Cultura, entretenimento e educação

Sustentada por este tripé, emissora se reinventa no cenário audiovisual gaúcho

TVE - Divulgação/Coletiva.net

Em relação ao clima, não foi o melhor dos dias, mas, ressalva-se: apenas pelo tempo, que era chuvoso. Numa tarde nublada, a equipe de Coletiva.net visitou a TV Educativa de Porto Alegre, a TVE, localizada no topo do morro Santa Tereza, mais precisamente na Rua Corrêa Lima, nº 2118. As condições meteorológicas não tiram do local a sua beleza, pois a vista pode ser considerada uma das mais bonitas da capital gaúcha.  A emissora, que está no ar desde 29 de março de 1974, atualmente é afiliada da TV Cultura e da TV Brasil, e opera no canal 7 dos pacotes por assinatura, e no canal 30 daqueles que possuem o sinal por antena UHF, ambas as transmissões feitas com sinal digital.

Quem recebe a equipe do portal é a atual gestão: o diretor Caio Klein; Emerson Silveira, coordenador técnico operacional; Hilda Haubert, coordenadora de Programação; e Eduardo Dutra Freitas, coordenador Administrativo. Por cerca de uma hora e meia de conversa os profissionais da emissora trataram de contar alguns bastidores, curiosidades, peculiaridades e momentos da TVE.

Klein recorda que esta não é sua primeira passagem pelo veículo, pois trabalhou nele por dez anos, de 1995 a 2005. Contudo, destaca que, atualmente, os tempos são outros. Inclusive, pela delicada situação de extinção da Fundação Piratini. "Obviamente, a gente sabe o que passou a Fundação. Eu não estava aqui, mas escutamos relatos de que foi um momento bastante traumático", aponta ele, fazendo questão de reiterar o novo momento: o canal agora se encontra em uma ascendente de realizações bacanas. "Resumindo: estamos muito felizes, cobrindo eventos e assumindo o produto com o DNA da TVE: cultura, entretenimento e educação", complementa.

Olhar atento e minucioso

A equipe de gestores da emissora faz questão de destacar os investimentos feitos, por meio de parcerias, na transmissão do esporte gaúcho. E a bola da vez é o futsal regional. Em parceria com a detentora dos direitos transmissivos do Campeonato Gaúcho de Fustal Série Ouro, a Transat, o canal vem transmitindo em sua grade os confrontos deste torneio, que chega à fase final neste final de semana. Até então, haviam sido feitas as transmissões de 12 jogos, que, inclusive, devido à importância das partidas, uma das 'madrinhas' da TVE, a TV Brasil, passou a retransmitir em caráter nacional.

A partir do exemplo deste tipo de parceria, Klein reafirma o modo operacional da TVE: "Sabemos que, em termos financeiros, o Estado passa por maus momentos. Temos essa consciência e, a partir dela, precisamos ser criativos para seguir fazendo televisão. Afinal, a concessão de uma TV educativa deve servir ao público", argumenta.

Como o campeonato é gaúcho, foi também reforçada a manutenção das retransmissoras do canal pelo interior do Rio Grande do Sul, que, atualmente, encontra-se em 13 o número total das mesmas. Com olhar atento à modalidade, foi trazida de volta à programação a atração 'TVE Esportes', afinal eles entendem que o esporte está inserido naquelas três palavras que formam o alicerce da emissora: cultura, entretenimento e educação.

O vôlei, assim como os festivais nativistas são outros eventos que estão na mira da emissora, que no momento procura parcerias para a sua realização. O fato de ser uma estatal e não poder fazer propaganda, segundo os gestores, restringe um pouco da receita. Contudo, todos já sabiam do atual cenário, e frisam que, apesar da limitação, podem buscar apoio cultural.

Quem ficou segurou

Nos últimos tempos, foram muitas as mudanças na emissora. Seja por força da falta de investimentos - devido à situação do Estado -, seja por evolução tecnológica. Os gestores, porém, garantem que todos que lá permaneceram foi por amor ao trabalho na empresa. "As pessoas mais antigas merecem total respeito, pois quem realmente manteve os programas no ar foi esse pessoal, que segurou a bandeira e tocou em frente. Somos muito agradecidos por não terem deixado a peteca cair", diz Klein, que relata estar contente por ver a autoestima em seus funcionários de volta.

Ainda nas andanças pelo prédio histórico do veículo, é possível perceber que todos os setores hoje estão conectados e, mais do que isso, há transparência entre eles e os responsáveis. Emerson explica tal situação dizendo que alguns funcionários se mostravam ressentidos por não saberem o que se passava no local de trabalho. "Não há mais distanciamento entre a técnica e a operação", resume o coordenador técnico operacional. Ele conta ainda que estas equipes realizam reuniões periódicas: "Começamos com uma e, agora, nos encontramos duas vezes por semana".

Definição e programação

Mesmo com a série de imbróglios - e até mesmo burocracias - que afetam diretamente a TVE, a emissora não deixa de pensar grande. Todos manifestam a vontade de renovar, seja o que for. Inclusive, e sobretudo, o prédio e a identidade visual do veículo.  Por exemplo, ainda não se chegou a um novo slogan para o canal, todavia, já se sabe o que ele tem que conter e demonstrar. "Queremos mostrar que não esquecemos o passado, mas olhamos para o futuro, sempre lembrando que somos uma emissora gaúcha e que temos como norte aquele tripé. O desafio está em resumir isso", admite Klein.

Ainda que a TVE seja afiliada e retransmissora de outros dois canais, ela detém 21% da programação total. Programas como 'Consumidor em Pauta', 'Estação Cultura', 'Panorama' e 'Radar' são atrações diárias. Existem também outros programas que acontecem semanalmente, como é o caso do 'TVE Esportes' e o 'Frente a Frente'. E sobre esta programação, Hilda salienta que "o Radar é o mais antigo na casa. "Por ele, passam todos os estilos musicais - por isso, é conhecido como o programa 'para todas as tribos'." Segundo recorda, por esta atração passaram nomes como Gabriel Moojen, Manoel Soares, Ico Thomaz, Marla Martins.

Como uma das últimas novidades, a emissora está fomentando a produção audiovisual nacional e regional. Recentemente, estreou uma série com curtas produzidos aqui no Brasil. Ambicionam também uma parceria com Secretaria de Cultura, para que, assim, consigam captar recursos para a produção de mais curtas brasileiros e gaúchos. Outro ponto que chama atenção é a programação voltada ao público infantil. A emissora sempre foi conhecida por ser uma das entusiastas nesse tipo de produção. Antigamente, passavam programas como o tradicional 'Pandorga'. Hoje, eles têm desenhos atuais, transmitindo, inclusive, um dos principais da atualidade: 'Detetives do Prédio Azul'.

Rotina na emissora

Klein chega por volta das 9h e, assim que se estabelece, costuma andar pelas áreas administrativas para, em seguida, ir ao 'chão de fábrica', ao estúdio, área técnica, redação e afins. "Eu sempre digo: a nossa preocupação tem que ser com o que está na tela, com o que tá sendo transmitido, e não a burocracia. Essa tem que nos ajudar mas não se basta em si", aposta o gestor-diretor. 

O esforço de trabalho dos funcionários concentra-se em um turno - começam às 13h e vão até por volta das 20h. Ainda que confesse querer aumentar este período, Klein entende que o mais importante é focar no resultado, o que, por sinal vem sendo bem feito, na sua opinião.

Hilda complementa que o cuidado com a emissora é como a relação de mãe e filho, ou seja, tem que estar sempre cuidando, para amenizar possíveis erros. "Chego e ligo na TVE, e deixo ali o dia todo", detalha ela. E, sobre os novos tempos e autoestima dos funcionários, comemora quando hoje em dia chega à sua sala e tem que aumentar o volume da televisão. "É sinal de que a redação está viva, está pulsando."

Os 'queridinhos'

Como não podia faltar, alguns nomes são prontamente lembrados quando o assunto é 'personagens dessa história'. O primeiro que aparece é o de Antonio Carlos da Costa dos Santos, o Índio, que ostenta 40 anos de emissora. "Quando cheguei, era lá no estúdio da PUC, e fui para fazer um teste como operador de áudio. Passei e, em seguida, achei muito monótono. Aí, fui para o estúdio e aqui estou desde então", conta operador de câmera. Índio destaca momentos marcantes como os incêndios que a TVE sofreu - tanto o primeiro, quando ainda era nas dependências da instituição de ensino, quanto o segundo, já na sede atual. "Neste último, tivemos que reformular tudo, todos os estúdios, levar equipamentos para a rua, limpar... Operávamos direto do caminhão que foi montado na rua", lembra ele.

Ele aponta também que, com tanto tempo de emissora, a sua própria vida se funde com a da TVE. "Esta é minha casa, é aqui que me sinto à vontade para receber pessoas e fazer os programas", finaliza. Uma curiosidade sobre Índio é que ele foi convidado a ser o personagem de uma das músicas mais famosas da banda Comunidade Nin-jitsu, 'Detetive'. Ou seja, ele é uma grande personalidade do entretenimento gaúcho.

Silvia Dinelli foi apontada como uma figura carismática na área de produção. Ela, que chegou na mesma época do colega, relata que as mudanças foram muitas em todo esse tempo. Na sua opinião, antigamente as dificuldades eram equipamentos, ainda que os que existiam já eram adequados para a época. Ela traça um paralelo entre a emissora e o Brasil. "Isso aqui é nossa vida, é um microcosmos do País. Quer saber o que está acontecendo no Brasil? Vem aqui dentro. Tem gente pra tudo que é lado, só muda a bandeira, pois todos são iguais. Uns botam mais equipamentos, outros têm diretores mais queridos. Posso dizer que, hoje, temos os dois", elogia.

O último, mas não menos importante, está no backstage da emissora. Trata-se de Sapinho. Sim: Sapinho, esse é o apelido de Jorge Irai Bogado Rocha, técnico de manutenção. De pronto, ele já começa justificando a alcunha: "Sapinho é apelido que vem desde pequeno por eu gostar de brincar na chuva". Ele também acumula quatro décadas de dedicação à empresa. Faz questão de lembrar e mostrar o vídeo de uma homenagem que recebeu do então governador José Ivo Sartori, pelo tempo de contribuição à mesma, recebendo uma placa. Um fato curioso, e que vale ser destacado, sobre ele é que iniciou e concluiu sua graduação já mais velho. Com 64 anos, graduou-se em Marketing, pela Fadergs.

Sobre o que lhe fez permanecer todo esse tempo, explica que sempre adorou eletrônica, e que, portanto, adora o que faz. "Acho que o que mantém a gente aqui não é ter a estabilidade. É, sim, o serviço que tu faz com boa-fé e na melhor qualidade possível. A coisa mais triste é quando arrumamos um equipamento e ele volta com problema", lamenta ele. Cinco minutos de conversa com Sapinho dão a garantia de que toda evolução tecnológica vivenciada pela emissora, de certa forma, passou por suas mãos.

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