Sobrevivemos às enchentes: um relato do Grupo A Hora, de Lajeado

Coordenador da Central de Jornalismo, Felipe Neitzke conta como a empresa se virou para manter as operações em funcionamento e não deixar a população desinformada

Não é novidade que o Vale do Taquari enfrente situações de transbordamentos dos rios ao longo de sua história. No entanto, o coordenador da Central de Jornalismo do Grupo A Hora, o conjunto de mídias e serviços multiplataforma mais antigo da região, Felipe Neitzke, afirma: não existem precedentes para o que aconteceu entre setembro de 2023 e maio de 2024. "Já considerávamos cheias grandes quando o rio alcançava 24, 25 metros. Em setembro chegou aos 30 e, em maio, quase 34. Fora isso, tivemos um fator novo: deslizamentos de terra. Dar a notícia de que pessoas morreram soterradas foi muito além de tudo que já tínhamos acompanhado", relata ele, que fica sediado em Lajeado.

Quando pensavam estar se recuperando das tragédias registradas em setembro e novembro do ano passado, a natureza voltou com força pedindo socorro e deixando, mais uma vez, as pessoas em estado de alto perigo. No final de abril de 2024, Neitzke estava em um evento da Defesa Civil, onde discutiam sistemas de alerta e monitoramento das mudanças climáticas. Como "em um piscar de olhos", dois dias depois, a cidade estava inundada outra vez. 

"Foram dias muito intensos, era um cenário de guerra. Ao mesmo tempo que a gente levava para o público o que acontecia nas ruas, tínhamos que lidar com os impactos em nossa equipe, colegas que perderam tudo. A exaustão começou a bater e não enxergamos uma perspectiva de quando aquilo iria acabar", recorda.

O foco da atuação dos veículos do Grupo - Jornal A Hora de Lajeado; Jornal A Hora do Sul, de Pelotas; Rádio A Hora 102.9; portais grupoahora.net e ahoradosul.com.br; e a join venture Circuito dos Vales - estava na prestação de serviços à comunidade. Durante o pico das enchentes, a maior inovação para seguir funcionando não foi encontrada nos revolucionários aparatos tecnológicos e sim no bom e velho rádio. Pelas ondas sonoras, sem precisar de internet para fazer chegar a voz a quem precisava ouvir, os jornalistas transmitiam as principais informações de auxílio à população: condições climáticas e avanços do rio, rotas alternativas diante do colapso de pontes, como pedir resgate, etc. 

Com o parque gráfico submerso, ficaram impossibilitados de imprimir os jornais por mais de uma semana. Quando havia sinal de internet, os portais e redes sociais eram abastecidos com matérias. Sem energia elétrica em dado momento, mantiveram a base da empresa e a torre de transmissão ligadas através de geradores. Para suprir a queda de sinal de internet via fibra óptica, o Grupo A Hora chegou a utilizar uma das mais modernas conexões de internet, a Starlink, criada pela SpaceX, de Elon Musk, que opera via satélite com alta velocidade em locais remotos, como áreas rurais, deserto e alto-mar. 

"Passadas as inundações, lançamos a campanha Vale Vivo, com conteúdos de retomada. Pautas propositivas para fazer a economia voltar a girar na região. Muitas reportagens focadas nas empresas que anunciavam a reabertura, investimentos, aportes de recursos para recuperar as unidades. Em paralelo, todo o trabalho de cobrança aos governos para que o apoio financeiro prometido realmente chegasse até aqui", detalha Neitzke. 

Disponibilidade, precisão e agilidade das informações também estão entre os apontamentos do jornalista para o que precisa melhorar pensando no futuro da Comunicação diante das mudanças climáticas. Em maio de 2024, ele acredita que a imprensa da região já estava mais preparada, pois havia pouco tinha passado por situação de calamidade semelhante. Contudo, a falta ou a demora para obtenção de dados sobre o nível do rio, metros cúbicos de vazão da água e risco de deslizamento de terra ainda dificultou um pouco o trabalho das equipes.

O aprimoramento no conhecimento das condições meteorológicas também foi ponto de atenção entre os profissionais do Grupo A Hora. A eficiência da entrega para as audiências também foi elevada quando a engenheira ambiental e professora da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Sofia Moraes, juntou-se ao time jornalístico para informar, por meio de um WhatsApp criado especificamente para esse fim, a cota de inundação para cada localidade. A solução funcionava para Lajeado e bastava a pessoa enviar sua localização e a especialista retornava com o dado e alerta. 

"Considero que aprendemos e amadurecemos muito com essas tragédias, não somente enquanto imprensa, mas a região como um todo, os órgãos diretamente envolvidos, como Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, os governos, as empresas e a própria comunidade, que começou a olhar com mais prudência para a situação e agir pensando no bem coletivo", enfatiza.

 Educame

Uma das iniciativas nascidas pós-enchentes foi o projeto Educame Educação Ambiental nas Escolas, criado pelo Grupo A Hora para tratar das mudanças climáticas nas escolas. 

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 Pensar o Vale Pós-Enchentes

Outra ação promovida pelo Grupo foi uma série de seminários sobre a temática, com o objetivo de discutir estratégias para reduzir os impactos das enchentes e demais episódios climáticos extremos. Prevenção, resposta, recuperação, aprendizados, reestruturação e novos projetos nortearam as palestras e os debates no Vale do Taquari. 

 

 

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