Diversidade e Comunicação: Alexandre Rodrigues resiste

Autor de artigo publicado nesta sexta-feira em Coletiva.net, jornalista conversou com Luan Pires

Luan Pires teve um papo sobre diversidade com Alexandre Rodrigues - Crédito: Arquivo pessoal

Quando encontrei o Alexandre pessoalmente, éramos os únicos no local. Antes de iniciar as entrevistas, como dois adultos gays, falamos das nossas vivências semelhantes. O Alexandre é jornalista e atua como editor auxiliar de cultura e lazer em GZH, mas tem uma visão macro sobre ambientes bem distintos. E foi isso que me chamou atenção. Quando falamos dos nossos antigos e atuais ambientes de trabalho, percebemos ali um ponto que merecia que a gravação fosse iniciada: como é ser um jornalista gay e negro na atual sociedade?

Olha, eu sou muito de me impor. Eu acho que é isso. A gente precisa ocupar espaços. A gente precisa mostrar que está ali porque merece. Mesmo ouvindo coisas desagradáveis...

Falaram diretamente pra ti?

Um colega me contou que em uma rodinha de conversa, em tom de brincadeira, me chamaram de criolo "afetável". Doeu. Não vou mentir. Mas levantei minha cabeça e me impus. Ninguém vai me desmerecer por ser quem eu sou.

As pessoas não entendem como a diversidade pode ser uma coisa ampla. Eu, como um gay branco, posso chegar em um ambiente, em regra geral, sem que essa mensagem chegue às outras pessoas. 

Exatamente. É importante a gente ter essa visão para gerar empatia dentro da comunidade. Eu sinto olhares diferentes quando vou a lugares de alta sociedade, por exemplo, para cobrir alguma pauta. Tu entra e as pessoas já olham como se tu não fosse pertencente a esse ambiente. A pessoa branca não sente esses olhares. É por isso que quanto mais pessoas negras se colocarem em espaços, ocuparem, enfrentarem, mais normalizado vai ser. Claro que dói, mas é necessário. Agora lembrei: teve uma vez que meu pai, quando eu era pequeno, estacionou o carro do lado de uma igreja e a mulher chegou pra ele e perguntou: quanto é pra estacionar? Como se meu pai ali pudesse ser um manobrista... Acho que ali começou a minha noção inicial dessa coisa de estar ocupando um espaço que as pessoas não me enxergam como igual.

Quando chegou essa noção mais consolidada do "eu diverso"?

Quando eu comecei na faculdade, eu tinha poucos colegas negros e não era assumido gay. Mas, ao mesmo tempo, os que tinham eram engajados, falavam do assunto, debatiam, e aí eu conheci mesmo o que é diversidade e o que ela iria acarretar na minha vida. Depois eu entrei na Defensoria Pública do Estado e eles tinham alguns movimentos, então, minha visão estava mais consolidada. Mas quando eu entrei na redação, foi diferente. Não se via gays na redação, negros muito menos. Fora que sempre tem aquele esteriótipo: o gay feliz vai trabalhar com fofoca, entretenimento, celebridade, mas se tu vai pra política, noto que existem gays com uma necessidade de ter uma persona mais heteronormativa. E quem sou pra julgar? Mas percebo isso.

Onde tu achou tua base para se empoderar em uma situação que te incomoda?

Minha base foi feita no dia a dia. Na escola não falavam nada. Quando a gente recebe alunos na redação, sempre tento passar a impressão de que todos podem estar lá independente de quem são. Se é de uma minoria, é mais difícil. Não dá pra fingir. Mas tem chance. E quanto mais cargos e espaços ocuparmos, mais referências criamos e chances oportunizamos.

A importância das referências se fala muito por aqui nas entrevistas...

E é muito. O que me incomoda é que quando tu chega numa empresa e vai lidar com pessoas superiores tu sente essa diferença de olhares porque tu negro e/ou gay.

E por que o Jornalismo?

Dá pra mudar o mundo com o Jornalismo. Quando fazia pauta em ocupação, comunidade, periferia, pelo Diário Gaúcho, me sentia completo em trabalhar com pessoas que não eram ouvidas por outros veículos. Eu vi ali que a gente pode mudar coisas, nem que seja incentivar uma doação para uma instituição. Porque o Jornalismo mostra, faz as pessoas existirem pra maioria e isso gera empatia. 

Alguma coisa mais a acrescentar?

Acho que só dizer que as pessoas precisam ter consciência do preconceito que às vezes elas nem sabem que têm. O branco por mais que se esforce, não vai ver o que o negro enxerga. O hetero não vai ver o que o gay vê. O homem o que a mulher vê. Por isso diversidade pra mim é empatia.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as sextas-feiras, o jornalista publicará uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Alexandre Rodrigues, clique aqui.

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