Diversidade e Comunicação: Layla Alves pela pluralidade

Luan Pires entrevistou a diretora de Contas da Eyxo, que assinou artigo nesta sexta-feira em Coletiva.net

Layla Moura Alves é a articulista do dia em Coletiva.net - Arquivo Pessoal

Layla Moura Alves, 23 anos, publicitária e diretora de contas na Eyxo. Passou por agências como Global, HappyHouse e MOOC.

Para ti, qual é a importância do assunto diversidade estar sendo abordado?

É essencial. Porque ele é pauta, sendo oficializado ou não. Sabe, na minha trajetória como pessoa sempre vivenciei lugares em que eu era a única pessoa negra ou uma das únicas. A gente sente isso, mas demora até a gente processar e compreender o significado.  Eu fiz um trabalho na faculdade falando sobre como é difícil na publicidade furar essas bolhas de oportunidades e assim criar mais espaços diversos. Querendo ou não, ainda que o assunto não estivesse totalmente maduro em mim, eu já entendia a necessidade de pensar seriamente sobre isso. Quando entrei na Eyxo, tempos depois, e vivenciei um núcleo de pessoas pretas, entendi que é uma luta a longo prazo. O assunto precisa ser levantado onde quer que a gente esteja. 

Como tu vê os movimentos das agências nesse sentido?

Eu acho importante e me complementando, mais do que levantar essas pautas, esses grupos de diversidade em agências têm um papel de acolhimento. Até para ajudar a ter saúde mental e trocas produtivas. Nada se compara à vivência de ouvir pessoas que passam pela mesma coisa. Isso possibilita que todos percam medo de falar sobre suas dores. A gente faz uma série de ações de todos os tipos e tamanhos lá na agência, por exemplo. Desde montar uma playlist só de pessoas pretas, fazer leitura de livros e repassar o conhecimento sobre a pauta, até isso que estou falando do acolhimento. Acho que é papel dos núcleos também entender como ajudar a empresa e as pessoas pretas, cada empresa é uma empresa e cada uma pode achar um jeito de informar e acolher.  

Como tu se relacionou com a diversidade pela primeira vez?

Sempre passei a vida toda ouvindo muitas coisas porque era a única ou quase a única pessoa preta nos ambientes. E eu não sabia como me portar ou como responder e tu não tem muitas pessoas a recorrer: teus amigos brancos de 15 anos também não vão saber o que falar. Lembro que, uma vez, minha mãe que é professora de História precisou me defender. Ela sempre foi muito de se impor. Eu estava no mercado e segurei um abacaxi para esperar minha mãe comprar e acharam que eu ia roubar. Do nada, muita gente começou a me cercar, me acusar...  O segurança foi chamado e tudo. Quando minha mãe chegou ela fez um barulho enorme. Por mais que o assunto tenha ficado mais claro para mim na faculdade, desde esse dia, comecei a entender que as coisas iam ser diferentes para mim.  

E como encara essa constatação olhando para o mercado?

Na faculdade, fiz uma análise da presença de profissionais negros nas agências de publicidade de Porto Alegre para entender alguns desafios e empecilhos. Peguei muitos relatos e foi massa para ouvir coisas que eu não tinha presenciado até aquele momento. Acho que o que mais me impressionou desses relatos é que muitos colegas brancos vivencias situações de racismo e não sabem nem como agir e por isso se calam. Não fazem nada. É preciso que todos estejam atentos aos seus privilégios para poder evitar que situações assim aconteçam nos ambientes. 

E como é ser uma liderança feminina e negra?

É desafiador porque tenho essas intersecções. Mas é um desafio que vem junto com o apoio de pessoas que acreditam no meu trabalho e me dão suporte. Além disso, tem muito de eu ser inspiração para outras pessoas pretas. Tem pessoas que me dizem que nunca tiveram uma liderança negra, então, é um papel de mostrar que é possível. Precisamos dar mais oportunidades de crescimento. Eu mesma fui contratada sem saber muita coisa com experiência de estagiária. Mas eu tinha vontade. Aprendi muito, errei muito, mas nunca deixaram de acreditar em mim e esse esforço fez eu chegar onde cheguei. 

Por fim, o que é diversidade para ti?

É pluralidade. É entender a intersecção das coisas. Ser plural também fala de ter negros de Porto Alegre, mas de outros lugares também que tenha outras vivências e bebam de outras referências. Tem empresas que têm como diretriz interna que não pode ser "todos de um só lugar''. Trazer essa pluralidade faz a criatividade ser diferente. Faz surgir ideias que realmente fujam da caixinha que estamos acostumados, nos formatos que estamos acostumados e do jeito que estamos acostumados.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Layla Moura Alves, clique aqui.

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