ATL Bands, o choro da guitarra e um #TBT de 30 anos atrás

De Letícia Baptista, para Coletiva.net

Recentemente, dia 11 de setembro de 2024, foi realizado o 2º ATL Bands, o concurso de bandas independentes da rádio Atlântida na ATL House, promovido em parceria com Tornak Holding, apoiado pela PUCRS e PUC Cultura, patrocinado por Ouro e Prata, Doces Boa Vista e Studio Soma. Fiz questão de manter todos os envolvidos aqui neste parágrafo para dimensionar a importância do resgate deste tipo de oferta de espaço para artistas do estado, destacando as marcas que se firmam no imaginário coletivo, reforçando vínculos duradouros e conexões genuínas. Nesta edição, foram quatro finalistas entre mais de 180 inscritos. Na Rede, Royal Six, Nati Tar e a vencedora, Varmane, deram show com ótimas escolhas no repertório autoral. Todas prontas para a estrada e para as grandes plateias, segundo afirmou o padrinho da edição, Jonathan Döer (Reação em Cadeia) - um bom representante da arte produzida aqui no sul que ganhou destaque nacional. Jonathan, aliás, é da geração que tocava guitarra na garagem de casa antes de ganhar o mundo e reconhece a importância desse tipo de iniciativa para lançar nomes no cenário fonográfico.

Sou da época em que os festivais de música mexiam com diversas tribos (ainda se usa o termo?) e os concursos de novas bandas não apenas eram disputadíssimos pelos músicos, como para as plateias ávidas por novidades dentro de suas preferências. Até parece que estou falando das décadas de 60 e 70, mas não. Resgato uma memória "recente", dos anos 90 e até início dos 2000, pré-Spotify e wi-fi, quando éramos adolescentes e jovens engajados na cultura musical que ampliava desejos românticos, ideologias sociais, humor e, acreditem, sobrava até uma sofrência no choro da guitarra. Sou contemporânea do FICA (Festival Interno da Canção Anchietana) e não sei tocar nenhum instrumento - nem o mais orgânico: cordas vocais, mas sabia reconhecer um hit ou uma boa banda de dois acordes.

Por que a guitarra chora?

Uns meses atrás, fui impactada por uma matéria antiga do Washington Post (2017) sobre o declínio da guitarra. Nem seria um assunto do meu interesse primário, mas como fã de Sister Rosetta, Buddy Guy, Keith Richards, Eric Clapton e Paul McCartney com sua mão trocada, parei de respirar por uns minutos, pois o conteúdo era alarmante: os jovens não estão interessados em aprender a tocar guitarra. Passado o choque, meus pensamentos começaram a buscar explicações para além das trazidas pelo periódico, pois ali não tinha comportamento das gerações Z e Alpha, responsáveis, literalmente, pelo futuro. Não que estejamos entregando um mundo fácil para eles, mas se por um lado criamos problemas com o meio ambiente, por outro, perpetuamos o prazer musical em ritmos, vozes e acordes imortais (pelo menos deveríamos). A tônica da matéria dá conta da falta de heróis contemporâneos da guitarra que inspire as novas gerações. Nirvana talvez tenha garantido a última safra de novos guitarristas. Será? O que vi no palco do ATL Bands me deu esperanças de que não é este o caminho. Mas também tentei buscar na memória recente algum expoente da guitarra com menos de 25 anos e não consegui achar.

Mas Letícia, que tanto fala de guitarra se nem pegar em uma tu sabe? Porque o comportamento das gerações Z e Alpha está mudando o mundo como o conhecemos, cultural, emocional, política e economicamente falando e isso me fascina. Não há certo e errado nessa minha reflexão, apenas uma constatação de que estes jovens hiperconectados, uniformizados pelas coreografias do TikTok e filtros de instagram nos empurram para um comportamento de consumo cada vez mais homogêneo, apesar das oportunidades de diversificação. E o curioso é que diversidade é uma das palavras do nosso momento histórico. Uma pesquisa realizada pela Dolby Laboratories com 2000 jovens da geração Z nos Estados Unidos revelou que 57% deles descobrem novas músicas pelas redes sociais, sendo o TikTok a principal fonte. E 44% se disseram obcecados por redescobrir nas mídias sociais gêneros que antes não gostavam. Uma prova de que o algoritmo é bem persuasivo lá e cá, mas que ainda há espaço para "experiências analógicas".

Novamente, este não é um juízo de valor se estamos indo para uma lugar certo ou errado, não arrisco apostar porque minha brincadeira de futurologia é sempre mais "esperança equilibrista" do que "Mr. Pessimist". Ou seja, sou uma otimista realista, como dizia Ariano Suassuna. São dados que me deparo e nem sempre tenho tempo, disposição ou maturidade intelectual para esmiuçar, mas o fato é que o ATL Bands me engatilhou um #TBT de 30 anos atrás, quando as bandas do colégio subiam ao palco e víamos nascer artistas que, ainda hoje, embalam a minha geração e a da minha filha adolescente. É muito bom ver a galera de 16 anos cantando Amigo Punk, Camila, Mesmo que Mude nas "resenhas" da minha casa. A música aqui no RS resiste ao algoritmo firme, forte e respirando bem. Sem citar nomes, mas celebrando tanta gente que se envolveu pessoal e profissionalmente para levantar o evento, gracias. Foi lindo de ver, ouvir e fazer parte. Que venham novas bandas, novos festivais e vida longa ao ATL Bands.

Sigam as bandas @narede_oficial @royalsix_band @sounatitar @varmaneofficial, elas vão dar o que falar.

Quem se interessar pela matéria do WP, aqui o link.
E quem quiser ver mais da pesquisa Dolby, aqui o link.

Letícia Baptista de Castro é gerente de Negócios na Tornak Holding.

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