Entre a máquina e a notícia: o papel humano na era da IA

De Giovani Gafforelli, para Coletiva.net

A tese é simples, quem trabalha com assessoria de imprensa e não aprender a usar IA vai perder relevância. Não porque a IA vai "tomar o lugar", mas porque ela já potencializa quem sabe o que está fazendo. Nos últimos meses, eu e a IA trabalhamos juntos em ritmo de redação, ela acelera análise e rascunho; eu garanto critério, checagem e voz. Essa combinação entrega velocidade sem abrir mão de responsabilidade. Para potencializar minhas tarefas diárias, estruturei três pilares fixos que mudaram meu fluxo de trabalho.

Primeiro, matéria jornalística, com título impactante, subtítulo informativo e cinco parágrafos objetivos, com a primeira fala em tom político no 2º parágrafo e a segunda fala em tom técnico no 4º parágrafo. O resultado é certeiro, o texto sai publicável, com equilíbrio entre notícia e posicionamento. O segundo pilar é o artigo de opinião com tese clara na primeira linha e desenvolvimento baseado em fatos, dados e contexto, nada de retórica vazia. Terceiro pilar, roteiro de falas para Reels, pensado para retenção, gancho em 3-5 segundos, ponto de virada e CTA. Isso me permite transformar pauta em vídeo sem perder densidade.

A IA ajuda onde o jornalista gasta mais tempo, varrer documentos, organizar ideias, propor ângulos, testar títulos, ajustar tom. Em assessoria, isso vale ouro, pois o cliente precisa de agilidade e coerência, e o relógio da redação não espera. Com a estrutura definida, eu peço e recebo no formato certo, ganhando tempo para o que só um humano faz bem, que é decidir o que é relevante, onde está o risco e qual é a narrativa possível.

Agora, a parte que muitos escondem e eu faço questão de registrar: a IA erra. Erra nomes, datas, números e às vezes "preenche" lacunas com segurança de quem não sabe. Já me trouxe informação imprecisa e, em raros casos, falsa. Por isso, tudo que sai da IA passa por revisão, checagem cruzada e edição final. É meu nome na linha fina. Sem esse filtro, a ferramenta vira risco reputacional.

Também tem a questão da ética, nem tudo que é rápido é publicável. Eu mantenho critérios de fonte, consistência e contexto. Se não há base, não vai. Se há dúvida, checo. A IA não substitui a apuração; no máximo, organiza o terreno. Quem entrega credibilidade sou eu, e isso não se terceiriza.

O ganho real está no método. Eu padronizei formatos, alinhei tom e estabeleci um funil de produção que vai da matéria ao carrossel, do parecer ao vídeo, sem perder coerência. A IA virou extensão do meu raciocínio editorial, não um atalho para preguiça. Quando o público percebe consistência entre o que escrevo, o que digo e o que publico, a marca se fortalece e esse é o ponto.

Concluo com a mesma franqueza com que trabalho, a IA não vai substituir o assessor de imprensa que domina técnica, ética e narrativa; ela vai substituir quem trabalha no improviso e quem não aprender a usar a ferramenta. Quem estrutura, checa e edita continuará indispensável. Falar é fácil. Fazer com método, responsabilidade e verdade é compromisso.

Giovani Gafforelli é jornalista e assessor de Comunicação da Bancada do NOVO na Câmara de Porto Alegre

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