O desafio de comunicar quando se é parte da notícia
De Vitória Ferreira, para o Coletiva.net

Em abril, estive em Roma com a equipe da Minha Biblioteca Católica em uma missão especial: produzir conteúdos e acompanhar de perto as celebrações da Semana Santa e a canonização de Carlo Acutis, o primeiro beato da "geração digital", prevista para o dia 27. A viagem foi cuidadosamente planejada ainda no Brasil, com cronogramas, pautas, equipamentos e diretrizes visuais bem definidas.
No entanto, nenhuma organização prévia foi capaz de antecipar o que vivenciaríamos: a morte do Papa Francisco. Havíamos estado na Praça São Pedro menos de 24 horas antes, testemunhando sua última aparição pública. O impacto foi imediato. Enquanto o mundo reagia à notícia, um turbilhão de sentimentos tomou conta da equipe. Como comunicadora e católica, vivi ali um dos momentos mais desafiadores da minha trajetória: como encontrar o tom certo para comunicar algo tão grande e simbólico, enquanto lidava pessoalmente com a emoção desse acontecimento?
A resposta para esse dilema não estava em manuais ou em fórmulas. Estava na coerência com os valores que defendemos como marca. Optamos pela escuta antes da fala, pela responsabilidade em vez da pressa. Escolhemos o tempo oportuno - aquele que respeita a profundidade do momento - em vez da velocidade de fazer a primeira publicação. E isso fez toda a diferença.
Foi nesse contexto que compreendi uma lição essencial: comunicar, especialmente quando se está envolvido emocionalmente, é atravessar uma fronteira sutil entre a técnica e o coração. A objetividade precisa coexistir com o cuidado; a entrega precisa vir acompanhada de sentido. E quando o fato que se comunica também nos afeta, o trabalho se torna ainda mais complexo - e, justamente por isso, mais autêntico.
Não foi fácil. Exigiu escuta ativa, discernimento e atenção constante ao tom das mensagens. Em cada texto e vídeo publicado, buscávamos não apenas audiência, mas fidelidade à nossa identidade. Compreendi, com mais clareza, que comunicar valores não é fazer marketing deles, mas sustentá-los com integridade em cada detalhe. Comunicar a fé é também um exercício de posicionamento.
Voltei de Roma com mais convicção, ainda, de que o papel do comunicador vai além da entrega técnica. Nosso trabalho tem um impacto direto na forma como as pessoas compreendem e sentem os fatos. Somos, de certa forma, tradutores do tempo presente.
E quando esse tempo é atravessado por questões profundas - como fé, morte, esperança - precisamos estar ainda mais atentos, não apenas ao que comunicamos, mas ao modo como fazemos isso. Afinal, não entregamos apenas conteúdo - entregamos sentido.
Vitória Ferreira é relações-públicas da Minha Biblioteca Católica.