O que é uma linguagem inclusiva?

Por Amanda Abreu, para Coletiva.net, em especial de Diversidade e Comunicação

"Linguagem neutra? ou neutre? Isso não funciona. Agora qualquer pessoa acha que pode mudar a língua portuguesa como bem entende. Ei, mulher! Ah, não te preocupes, eu chamo todo mundo de 'mulher'. Menos homens é claro, se não seria estranho, mas não tem nada a ver com teu gênero, não, eu nem ligo pra isso. Não sei o porquê de brigarem por essas coisas aí de pronome. São só letras, só aceita, sabe?"

Tá bem, eu admito: a não binariedade é um assunto bem recente em evidência. O problema é que a popularização do tema veio em forma de piada e ódio gratuito quanto a linguagem própria. Se tem uma coisa que a internet gosta é de piada e até tudo bem se ela fizer sentido, mas vamos pensar um pouco no porquê da palavra "todos" ser considerada neutra e plural. Já pararam pra pensar? Havia uma época em que era mais comum ainda usar a palavra "homens" no lugar de "pessoas".

Uma coisa que aprendi nesses meus anos de comunicação foi a linguagem simples, antes mesmo de conhecer a tal linguagem neutra. Essa linguagem simples sempre foi aplicada por mim nos meus trabalhos como redatora sem eu perceber a tamanha importância que ela tem pra pessoas não binárias, ou melhor, qualquer pessoa que não se identifique como homem, já que antes o "neutro" era o masculino. Essa linguagem, nada mais é que escrever sem usar flexão de gênero. Inclusive, é muito binário esse pensamento de que precisamos indicar gênero em tudo o que falamos. Quando estamos em um contexto que não é tão impactado por discussão de gênero, por exemplo, e comunicamos para todas as pessoas acaba sendo muito mais simples e inclusivo do que comunicar para todos, todas e todes.

A linguagem é adaptável por contexto, e é isso que eu acho incrível na língua portuguesa. A gente não está estragando a nossa língua quando pensamos em alternativas de se comunicar, estamos apenas tentando transformar o dia a dia de pessoas que, normalmente, não são contempladas, nem mesmo no que deveria ser mais inclusivo possível, a comunicação.

Amanda Abreu é uma pessoa não binária e atua como Community Manager na W3haus.

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