Olhar pra trás ou olhar pra frente?
De Iraguassu Farias, para o Coletiva.net
Sempre escrevo algo aqui no fim de cada ano. Como todo mundo, faz-se um balanço do ano que finda. Acima de tudo, faz-se as contas para saber se perdemos ou ganhamos. E, claro, louvamos sempre termos chegado ao fim de cada ciclo vivos e porque não dizer, resignados. Afinal, o tempo não volta. Desta vez pensei diferente e resolvi deixar para outros o balanço e as mensagens legais, motivacionais, esperançosas...
Pensei desta feita em fazer no outro ano. No que nasce. Obviamente cheio de expectativas e esperanças, como sempre. Mas, ao fazer isto, e lembrando das vezes em que isto foi o que aconteceu - em todas as viradas, óbvio, pensei em me perguntar se, mais uma vez, seria como sempre: ano novo, novas chances, novas motivações, novas esperanças. E muitas vezes, elas acabaram por nos frustrar. Não passavam no mais das vezes, do querer, do esperar, do torcer. Muitas vezes, era apenas isto. Com a pandemia, tivemos razões para encararmos o que vinha pela frente com mais sabor, à espera de um ano melhor. Poder-se-ia dizer o mesmo agora, aqui no RS, quando saímos do ano da maior enchente já vista.
Mas agora parece - pelo menos a mim - ser diferente. O calendário virou, este dia é como todos os outros e temos muito a fazer pela frente. Mas acho que será um ano diferente. Sabe porquê? Porque acho que mostramos "valor e constância", porque paramos de ficar lamentando a tragédia e rapidamente nos pusemos no "mãos-a-obra". Com ou sem governo federal, com ou sem políticos, a tragédia, espero, fique na lembrança do que se fez e nos comerciais de TV e rádio que ainda hão de louvar a recuperação, que, convenhamos, foi rápida. Sim, poderia ser muito mais lenta. Como poderia ser igual à figura dos caranguejos querendo sair da panela quente agarrando-se nos de cima.
O nosso estado anímico passa pelo lúdico - porque não? Mas passa essencialmente por vermos todos em situação melhor, especialmente os mais próximos, a começar pelo dono do armazém da esquina. Nosso estado de espírito passa, logicamente, pelo que vemos e percebemos em nós. Mas passa, também e muito, pelo que vemos ao nosso redor. E quer me parecer que o entorno está com uma cara melhor, mais aliviada.
Muitos prefeitos assinaram seus atos de posse, e com a mesma caneta tacaram aumento na tarifa dos ônibus em suas cidades. Ruim? Claro. Mas pensar que é ruim apenas porque aumentou não é igual a pensar que "agora posso pagar". Parece estranho concluir isto, mas em outros tempos, notícias como esta provocaram até instabilidade na República. Sabe porque soa menos ruim? Porque há muitas outras notícias boas. E a comparação do copo meio cheio, meio vazio nunca foi tão verdadeira. Há gente ainda vendo o copo vazio. Faz parte.
E mesmo que o mercado prefira ver riscos no aumento da renda ou na isenção de impostos dos mais pobres, eu prefiro ver, mais do que nunca, a praia lotada, o supermercado cheio, o cara do uber sem reclamar e tantos outros sintomas que dizem ser 2025 um ano melhor ainda. Quero ver é desemprego baixo. Sério! (Sabem a maior reclamação que ouço de empresários da comunicação ultimamente? Que tá difícil de contratar mão-de-obra, especialmente a qualificada). Quero também ver a renda per capita aumentar. Quero ver o PIB não baixar de 3% ao ano. Quero ver juro baixo facilitando investimentos da indústria. Quero ver a gasolina com preço estável. Claro que quero ver o dólar baixar, mas as variáveis que o determinam têm muito de especulação e menos de condições estruturantes. Quero que a indústria automotiva tenha novamente recorde de vendas, como em 2024. Quero que o varejo tenha seus melhores dias e que o agro siga sua senda de vitórias (sic).
Eu disse num artigo antigo de 2024, aqui mesmo neste espaço, que quatro decisões causariam um efeito lá na frente muito positivo, lembram? Falei que o aumento real do salário mínimo traria bons resultados (exemplifiquei que 18 reais de aumento real no início do ano jogaria muito dinheiro na economia). Falei que a isenção de 40 remédios de uso contínuo deixariam mais dinheiro no bolso, principalmente dos aposentados. Falei que aumentar a taxa de isenção até dois salários mínimos traria mais dinheiro pro bolso de quem ganha menos. Que 150 pilas por menor de idade no Bolsa Familia traria alívio pra quem vive de feijão com farinha. E acho que falei que a questão não era econômica - a minha inferência, mas matemática.
Acho que não errei. Aliás, tenho certeza que não errei.
Faltam ajustes? Claro. Mas até segurar a onda das emendas do Lira o país conseguiu. E por conta delas, até o déficit primário reduziu e as contas do governo fecharam melhores. Lamento, claro, pelas canchas de futebol society que não aconteceram em Alagoas. Mas são novos tempos.
Espero apenas que 25 seja como acabou 24. Inclusive, e especialmente no RS, apesar das águas e a falta de energia terem interrompido alguns atos de posse do nosso alcaide.
Que venham os problemas que vierem. Haveremos de vencê-los. Senão todos, a maioria.
Iraguassú Farias, diretor Comercial de Coletiva.net.
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