Quando a casca de banana é inevitável (ou poderia ser "menos Peninha, bem menos")
Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Peninha é um boquirroto. Fala pelos cotovelos. Transporta a verborragia com que narra fatos históricos - que tanto encanta aos que gostam de entender a História por ângulos diversos, para opiniões, digamos, "sociológicas", com tanta intensidade, que em não raras vezes se atrapalha. E muito. A busca por ser polêmico às vezes transcende a sagacidade, seja porque muitos podem não entender a mensagem, seja porque talvez muitos não queriam saber sua opinião sobre tudo.
Poderia ficar nas narrativas históricas, e tudo estaria bem. Mas acha que tem liberdade de expressão. E não tem. Não na forma como se imagina. Quem detém audiência, prestígio, admiração, deve por óbvio ter cuidado com o que fala. É visível nele a busca pelo impacto de suas palavras, como quem quer mesmo chamar a atenção para si. E quanto mais exótico, polêmico, independente e autêntico quer parecer, mais se expõe. A palavra emitida não volta. É definitiva. E quando pouco se está preocupado com consequência delas, o revés é inevitável e, neste caso, estrondoso.
Dá, em certa medida, a dimensão do tamanho que Peninha atingiu. Odiado por muitos, mas admirado por quantidade talvez maior, pela construção de sua figura e marca. Resta saber se o bem que construiu na trajetória será suficiente para aplacar o mal difundido recentemente, e se conseguirá se manter relevante.
Exatamente por esta história de si próprio construída, eu achava que não faria autocrítica. Mas fez e me parece ser muito mais para aplacar a ira dos que o atacam - e não são poucos, do que propriamente por se achar errado. O custo desta ousadia pode ser alto. Já há os que, justificadamente, afastam-se, senão por discordarem intensamente, pelo menos pelo receio de perda de patrocínios. Vai virar uma espécie de "leproso"? Toda sua construção vai por água abaixo? O tempo dirá. Quiçá ouça mais as necessárias vozes da prudência, tão menor em idade de juventude rebelde, mas óbvia em tempos de maturidade. E Peninha não é mais guri.
Particularmente, consigo ver o que desastradamente ele quis dizer e não soube. Mas nestes tempos não pode ser assim. Por mais liberdade de expressão que se queira ter, à esquerda e à direita, não se pode esquecer que é exatamente esta liberdade que traz embutida a noção de responsabilidade, seja com o coletivo, seja com o individual. E não importa se em alguns lugares do mundo, neste exato momento, festejam-se mortes em guerras genocidas. Lá é errado, e aqui também.
O mais incrível, contudo, é saber de um caso que movimenta o noticiário tenha ocorrido tão distante de nós, que já lidamos diariamente com mortes e tragédias. Eu nunca tinha ouvido falar do sujeito assassinado, de verdade. Nem estou relevando o fato. Mas que este caso seja elucidado pela polícia do seu país. Aqui, temos nossas urgências. Não menos graves que fentanil na Filadélfia e balas zunindo por todos os lados de um povo armado até os dentes, e, parece-me, de gente maluca por todos os lados em busca de escolas como alvo.
Enfim, uma página triste esta que passamos, com ampla repercussão nacional, mas que poderia ficar restrita aos seus próprios limites. Nada justifica a Feira do Livro de Canoas boicotar e excluir Paula, esposa do Peninha, profissional com sólida trajetória, da programação do evento depois de tudo confirmado sob a alegação de "corte de despesas". Sabemos que não foi por isto. Nojenta a decisão, na minha opinião.
Que Peninha e outros façam o que sabem de melhor. Já será suficiente.