Três novas escolhas: uma nova mulher

Por Tássia Jaeger, para Coletiva.net, em especial de Semana da Mulher

Até três anos atrás, eu poderia dizer que, além de jornalista, eu era uma mulher com outras três grandes paixões: atividades físicas, viagens e leituras. Quem me conhece faz tempo, sabe que o combo Jornalismo + Academia + Destinos + Livros me definia. E todos esses amores eram vivenciados ao máximo que eu podia. Trabalhava muito, treinava muito, viajava muito e lia muito. A ênfase é proposital no "muito" mesmo. Na maior parte da minha carreira profissional eu trabalhava em três empregos ao mesmo tempo; fazia, no mínimo, três atividades físicas diferentes semanais; investia em três viagens anuais; e tinha três livros na cabeceira todo mês. As paixões seguem, é claro, mas quanto à colocá-las em prática, já não posso dizer o mesmo. Foi aí que aprendi que nada que eu faça na vida me define para sempre. Atualmente, as três missões passaram a ser: maternidade, dedicação à vida em família e trabalhar pelo meu crescimento profissional. Mas porquê dessa mudança, Tássia? Eu explico!

Todo mundo sabe que a vida tem essa mania de se transformar, mudar inesperadamente (ou propositadamente). Eis então que me apaixonei, comecei a ficar, namorar, noivei, casei e, com isso, ganhei um enteado, adotamos um cachorro e, três anos depois, tivemos uma filha. Com tudo isso, uma nova vida se apresentou. Melhor em muitos aspectos, pior em outros - como acredito que pense meu marido também, e todos os demais casais, mães e pais. Como diz uma música famosa: "cada escolha, uma renúncia, isso é a vida". A liberdade para fazer o que quero e na hora que quero se foi com a vida de solteira. O que é normal, né? Trata-se de abrir mão de um modelo de vida para aderir a outro, porque a vida também é feita de trocas. Ninguém consegue só somar hobbies, responsabilidades, funções. É preciso ceder de um lado para ganhar de outro. 

Essas três escolhas: casar, ser madrasta e ser mãe, fizeram com que a Tássia combo de anos atrás tivesse que pisar no freio. Afinal, não tem como levar a mesma vida de antes e manter os mesmos hobbies com uma criança em casa - que dirá sendo uma criança autista, uma recém-nascida e um cachorro. Hoje, para eu conseguir treinar, minha filha precisa ter dormido fora do meu horário de trabalho, meu enteado não pode estar em casa, e os treinos duram no máximo 30 min de olho na bebê, na sala mesmo. Ou, dependo de uma folga na agenda do meu marido para conseguir dar um pulo na academia da frente de casa. Para quem treinava três horas por dia e fazia musculação, funcional, dança, muay thai, pilates e corrida - inclusive como forma de terapia, a redução é uma mudança radical. Viajar se tornou ainda mais raro, em ocasiões especiais e em períodos bem mais curtos. Se antes eu ficava 15 dias em outro país, hoje o período máximo é de três dias, e no Brasil. Os livros viraram meros objetos decorativos, uma vez, que quando sobra um tempo, a prioridade é arrumar a casa, fazer as aulas da pós e trabalhar. E quanto ao trabalho, madrastidade e maternidade me fizeram mudar o rumo da minha carreira. Da meta de seguir como líder em grandes empresas, quiçá fora do estado - caminho que eu estava trilhando naturalmente, a realidade passou a ser trabalhar 100% home office para poder gerenciar a rotina da família e a casa ao mesmo tempo. 

Por que estou contando tudo isso? Para dizer que dependendo da fase da nossa vida somos uma mulher X, e quando mudam as circunstâncias somos uma mulher Y, mas que, seja qual for a fase - deixando algumas paixões de lado para se adaptar a outras, o que importa é que nossa essência siga a mesma. E a minha essência é ser a pessoa que abraça o desafio que vier, sendo multitarefas, gerenciando múltiplas responsabilidades e resiliente diante das adversidades. Costumo brincar, inclusive, que eu poderia ter o cargo de gerente de BO.s. Brincadeiras à parte, peguei todo aquele gás juvenil de dedicação às minhas paixões e depositei nas novas missões da minha vida - que são infinitamente mais importantes. Por sinal, se tem algo que faço bem nessa vida é dar conta de (quase) tudo - às vezes nem eu sei como.

Sendo assim, hoje, além de toda correria que as profissões dona de casa e mãe demandam, tenho minha própria agência, especializada em Comunicação Corporativa - a W[Right] Conteúdo; o studio de atividades físicas do qual sou sócia do meu marido - a Fun Fit; e, é claro, a minha dedicação ao Coletiva.net, como coordenadora editorial das revistas do Selo Tendências e o recém-assumido cargo de gerente de Projetos. Acrescente a isso duas pós-graduações, que estou cursando. Como faço isso? Com um dom chamado gestão do tempo. Bebê dormiu? Bora trabalhar. Hora do meu banho? Partiu dar play nas aulas. Deitamos para dormir? Eu sigo acordada estudando ou trabalhando em algum dos meus projetos profissionais. Hora da janta? Eu e meu marido falamos da academia. Passeio com o cachorro? Momento de responder às várias mensagens de WhatsApp que estão na espera. E assim por diante.

E quanto às três paixões, essas entraram na lógica do "quando dá". Quando dá, faço as demais atividades físicas que tanto amo; quando dá, planejo uma viagem e vamos; quando dá, leio livros. Os três novos desafios da vida não me fizeram menor. Pelo contrário, me tornaram gigante. Se antes eu já me virava nos 30 e me admirava como mulher, imagina agora. Não preciso que reconheçam meu valor (aliás, nós, mulheres, não precisamos!), pois eu reconheço! As minhas definições como mulher foram atualizadas com sucesso. Que venha o próximo upgrade.

Tássia Jaeger é coordenadora Editorial das revistas do selo Tendências, gerente de Projetos de Coletiva.net e CEO da W[Right] Conteúdo

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