Apadrinhando: jornalistas relatam sobre desafio de assessorar a AVTSM

Pedro Pereira e Tatiana Py Dutra, da Padrinho, falam sobre serem voluntários da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria

Pedro Pereira e Tatiana Py Dutra, jornalistas da Padrinho - Divulgação/Coletiva.net

Com a proximidade do julgamento, a demanda de jornalistas por conteúdos relacionados à Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) aumentou. Por isso, para protegê-los, organizar esse processo e atender à imprensa da melhor forma possível, os voluntários chamaram a Padrinho Conteúdo e Assessoria para cuidar desses relacionamento. "Um dos integrantes do grupo, o diretor de cinema Luiz Alberto Cassol, tem relação profissional bastante próxima conosco há algum tempo e é um amigo da casa. Isso facilitou nossa chegada e a definição da linha de ação", disse o coordenador da empresa, Pedro Pereira ao Coletiva.net

Conforme o jornalista, o maior desafio é mostrar para os familiares e sobreviventes a importância do trabalho da imprensa e, à imprensa, o quão fragilizadas estão essas pessoas. "Naturalmente, em função do tamanho da tragédia, textos, vídeos, áudios e fotos por vezes carregam informações e sensações que batem forte na dor dos envolvidos", destacou. Por isso, salientou que é imprescindível contar com a sensibilidade dos colegas jornalistas nesta abordagem e, ao mesmo tempo, com a compreensão das famílias de que esse é o trabalho dos profissionais.

Laço santamariense

Os integrantes da equipe ainda têm uma ligação com Santa Maria, visto que Alexandra Zanela, Carlos Guilherme Ferreira, Tatiana Py Dutra e Pedro Pereira viveram na cidade - enquanto os três primeiros trabalharam em veículos de lá. Santamariense, Tatiana trabalhava na cidade quando a tragédia aconteceu e lembra bem dos dias, além de ter conhecido alguns dos familiares e sobreviventes, o que facilitou um pouco o trabalho.

Enquanto a liderança do trabalho é de Pedro, a jornalista Tatiana acompanha o julgamento e as ações da AVTSM e, ao final de cada dia, distribui textos, fotos e vídeos para a imprensa. 

Foco e estratégia

Tatiana relatou que, como começaram a assessorar a AVTSM às vésperas do júri, o trabalho foi muito mais de escolha e preparação das fontes para cada assunto que pudesse ser abordado pela imprensa. Além disso, assumiram o agendamento das entrevistas para atender ao maior número possível de veículos.

Enquanto isso, para os dias do julgamento, foram definidos porta-vozes, com o intuito de que estivessem preparados para falar ao fim de cada dia. "Assim, conseguimos distribuir atualizações com aspas relevantes para a imprensa - especialmente aos veículos menores, que não puderam enviar nenhum profissional para acompanhar in loco", abordou Tatiana. 

Uma solução que se mostrou bastante eficaz, conforme Pedro, foi o atendimento à imprensa no dia do deslocamento das famílias de Santa Maria para Porto Alegre, na véspera do começo do júri. "Com limitação para preparar uma coletiva de imprensa - e o cuidado para não fazer algo que inibisse os familiares -, informamos aos veículos que o presidente da AVTSM estaria à disposição para atendê-los em determinado horário na concentração do grupo, ainda em Santa Maria, e no horário da chegada a Porto Alegre", relatou, ao destacar que isso evitou que os líderes da Associação passassem o dia inteiro dando entrevistas, que corriam o risco de serem repetitivas e cansativas, pois já estavam muito próximos de um esgotamento mental e físico.

Trabalho emocional

Tatiana contou que nem sempre dá para separar as questões profissionais e pessoais diante de um caso com tanto apelo emocional. "Por mais que entenda o interesse público sobre as histórias e vivências de cada pai, mãe, sobrevivente, às vezes, coloco-me um pouco no papel de guardiã, preocupada com a saúde física e emocional das famílias, bastante fragilizadas", abordou. Para ela, que os conhece há quase nove anos, eles são mais que clientes, visto que desenvolveram um relacionamento de carinho e confiança.

Por outro lado, apontou que isso também dá liberdade para que ela explique a eles o quão importante é ocupar os espaços que a imprensa tem ofertado. "Não apenas para conquistar a opinião pública, mas para que manifestem sua dor e sua verdade, para exigir a justiça pelos mortos e pelos que convivem com as sequelas daquele 27 de janeiro. Eles estão lutando por uma cidade inteira, e isso precisa ser divulgado", expôs. 

Por fim, citou que, aos colegas da imprensa, que têm a vida tão corrida e o tempo tão escasso, gosta de lembrá-los que quem está acompanhando o júri trouxe consigo a sua dor. "São pessoas que estão muito sensíveis e que hoje podem não atender ao telefone, mas que amanhã se sentirão melhor e estarão prontos para falar com sinceridade sobre o que for perguntado", declarou, ao alegar que lamentou muito "derrubar" ou retardar algumas pautas que os repórteres e produtores traziam. Entretanto, ela acredita que, com fim do processo, todos cumpriram o papel de informar.

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