Jornalistas falam sobre a preparação para a cobertura do julgamento da Boate Kiss

Repórteres revelam ter visto documentários do caso, ler obra sobre a tragédia e entrevistar os réus e sobreviventes

Eduardo Matos, Gabriela Lerina e Ieda Risco conversaram com o Coletiva.net - Divulgação/Coletiva.net

O julgamento do caso da Boate Kiss, iniciado no dia 1º, envolve depoimentos nos três turnos, manhã, tarde e noite. Para os 200 profissionais que acompanham o caso diretamente do Foro Central I de Porto Alegre, são dezenas de entradas ao vivo e participações nos telejornais, reportagens e programas de rádio. Na matéria especial de hoje, a equipe de Coletiva.net e Coletiva.rádio perguntou aos jornalistas como eles se preparam para esta grande cobertura. Todos afirmaram ter revisto reportagens da época do incêndio e realizar entrevistas com sobreviventes e os réus. 

Repórter da RDC TV, Ieda Risco é categórica: "o mais difícil é a preparação emocional", comenta a jornalista que se comove ao lembrar que a filha tinha a mesma idade das vítimas do incêndio em 2013. "A cobertura de TV, ao vivo, é muito instantânea. Temos que estar atentos ao que acontece na sala do júri para repassar aos telespectadores o que de mais relevante ocorreu no dia. Na verdade, é uma preparação diária", exemplificou ela, que leu reportagens da época da tragédia e conversou com colegas que cobrem o assunto desde 2013. 

A jornalista, que ficou um período afastada dos veículos de Comunicação, não esquece o que viveu quando ancorava o programa 'Guaíba Cidades', ao lado do ex-colega Felipe Vieira. "Estava no ar quando a lista com o nome dos mortos foi divulgada. Lemos nome por nome, e parecia que a tragédia ganhava ar de realidade", fazendo referência ao fato de ter ficado em Porto Alegre e não ter se deslocado a Santa Maria. 

Estudo e material exclusivo 

O dia em que a Boate Kiss pegou fogo também está registrado nas lembranças do repórter da rádio Gaúcha, Eduardo Matos. Ele estava de plantão naquele final de semana, ao acordar soube do ocorrido e fez a ancoragem no estúdio sobre a tragédia. Ele cobriu nos primeiros dias o estado de saúde dos sobreviventes que foram transferidos para hospitais de Porto Alegre. "Acompanhei todo o caso, desde 2013, a investigação e a tramitação processual", revelou o jornalista, que tem o 'push', aviso no avanço de processos judiciais. 

Além de visitar a Boate Kiss em novembro, Matos entrevistou três dos quatro réus. "Só não consegui ouvir o Mauro Hoffmann, mas falei muito com os advogados de defesa dele", contou o repórter. Em reportagens preparatórias sobre o caso, ele conversou também com alguns pais que perderam seus filhos, bombeiros, membros do Ministério Público, sobreviventes e até testemunhas que participarão do julgamento. 

Em uma destas pautas, ele teve acesso exclusivo aos itens apreendidos, como comandas e objetos queimados. "Como jornalista eu me sinto bem preparado para este júri, pois conheço bastante o processo. Não posso dizer que li tudo, pois são 19.100 páginas, mas vi os principais pontos, li todo o inquérito, a denúncia e as decisões mais importantes", comentou. 

"Como jornalistas, se você não tiver informações sobre o caso, você se torna repetitivo e a pior coisa numa cobertura de rádio é quando o repórter de rádio começa a se repetir porque é fato que ele não tem mais informações", afirmou Matos, sobre a importância do estudo para coberturas deste porte. Para o repórter, independentemente do resultado, o julgamento é importante, pois trará um desfecho.

Anotações pessoais de 2013 

A repórter do SBT RS, Gabriela Lerina, foi a fundo no estudo. Além de rever as reportagens  desde 2013 e se debruçar sobre a apostila, que a emissora distribuiu aos jornalistas, e que tem 50 páginas, ela contou que recorreu também às anotações no "famoso" bloco de notas que todo jornalista tem. Assim como Ieda Risco, ela também citou o preparo emocional com o mais difícil. "Por ser mãe hoje, a empatia é ainda maior com as mães e pais das vítimas", comentou a jornalista, que passou horas sentada ao lado das mães, sem gravar nada, no segundo dia da audiência.

"Antes do julgamento, passei muitas noites assistindo lives, revendo matérias e buscando informações sobre as testemunhas do júri. Fazia isso depois de colocar minha filha para dormir", revelou Gabi, como é chamada pelos colegas. Ela contou que só não conseguiu ainda terminar a leitura do livro 'Todo Dia a Mesma Noite', da jornalista mineira, Daniela Arbex. 

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