Repórteres contam como foi entrar na boate Kiss dias antes do julgamento

Jornalistas receberam autorização para a visita da AVTSM, a qual pertence o prédio

Imprensa visitou e registrou como está a Boate Kiss após oito anos da tragédia - Crédito: Lauro Alves - Agência RBS

"A realidade é que a experiência de ingressar na boate (ou seria sepulcro?) onde morreram 242 pessoas é sinistra, para dizer o mínimo. Sufocante. Até o silêncio é impactante. A vontade é de sair correndo. Ver o céu. Buscar luz. Algo que muitos jovens frequentadores da fatídica madrugada de 27 de janeiro de 2013 tentaram - e não conseguiram", essa é frase que o repórter de GZH e rádio Gaúcha Eduardo Matos usou para encerrar a matéria, ao visitar o palco da maior tragédia do Rio Grande do Sul. A visita ao interior da boate Kiss, em Santa Maria, aconteceu em 10 de novembro. O ingresso na boate foi possível mediante autorização da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), atual proprietária do imóvel. 

Na tarde de quarta-feira, 1º, entre uma entrada e outra para a rádio Gaúcha, o repórter relembrou a sensação "estranha" de estar dentro da boate. Foi a primeira vez que ele ingressou no prédio. "Nunca tinha entrado lá. Achei o ambiente até razoavelmente preservado, mas claro que tem danos em razão do incêndio", relatou Matos à equipe de Coletiva.net, que desde o incêndio mergulhou fundo na investigação do caso. 

Também pela primeira vez

O repórter da TV Record Jônatha Bittencourt, que acompanha os desdobramentos do caso desde o dia do incêndio, quando trabalhava como produtor da rádio Bandeirantes, entrou pela primeira vez na boate. "Nada se compara a estar no palco da tragédia. A carga emocional em torno daquele lugar é bastante pesada. Não teria como ser diferente diante de tantas vidas perdidas". E logo na entrada do prédio o que chamou atenção do repórter foi o tamanho do espaço: "Sempre que vi imagens na televisão e na internet imaginei algo maior. Ainda não consigo visualizar mais de 800 pessoas dentro daquele espaço - a não ser num cenário de aglomeração extrema".

Ele relata ainda que depois da visita à Kiss é como se as reportagens tivessem "ganhado vida". "Foi como se eu estivesse vendo a tragédia se desenrolar diante dos meus próprios olhos", finaliza o repórter. 

Por dentro da Kiss em dois tempos

Experiência diferente da vivida pelo jornalista santa-mariense Lorenzo Franchi, que esteve na casa noturna em duas oportunidades. Em 2017, quando o então presidente da OAB, Ricardo Breier, "comprou a briga", segundo ele, para preservar o local até o julgamento e há três semanas quando produziu uma reportagem especial, antes de ser contratado pela NDTV/ Record TV. "Se em 2017 não se ouvia barulho externo, nem luz, nessa última entrada na boate era possível ouvir barulhos da rua e os raios de sol em alguns pontos da boate", explica o repórter, fazendo referência aos buracos que abriram no teto quando a espuma cedeu. Para ele, que esteve no banheiro, local em que muitas das vítimas foram localizadas, o cenário de guerra traduz o que foi a madrugada de 27 de janeiro de 2013.

Em uma iniciativa entre Coletiva.net e Coletiva.rádio conteúdos especiais são gerados durante todo o julgamento - e a ação conta com o apoio institucional da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). O objetivo da cobertura especial é mostrar ao público a atuação da imprensa, com matérias, fotos, entrevistas exclusivas e a visão dos jornalistas credenciados para acompanhar o que deverá ser o maior julgamento da história do judiciário gaúcho.

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