Saiba como os gestores organizaram a cobertura jornalística do julgamento da Boate Kiss

Jornalistas em cargos de chefia, de diferentes veículos, conversaram com o portal Coletiva.net sobre os desafios de estar no comando deste trabalho

Trabalho de jornalistas no plenário do Foro Central, em julgamento da Boate Kiss - Crédito: Coletiva.net

Fazer a cobertura jornalística sobre o julgamento do caso da Boate Kiss, que começou ontem, 1º, no Foro Central de Porto Alegre exigiu que os gestores das redações montassem um grande quebra-cabeça. As peças que devem se encaixar vão desde as horas extras dos jornalistas, comuns em situações como essas, até a divisão da equipe por turnos, tempo despendido para estudos da pauta e, principalmente, o cuidado com a saúde emocional dos profissionais envolvidos. 

Para o editor regional do SBT-RS, Danilo Teixeira, que comanda uma equipe de 20 jornalistas envolvidos diretamente na cobertura, a organização para o julgamento começou em outubro. "Uma semana antes do júri começar, nós fizemos uma reunião com toda a equipe para passar as orientações. Cada um ganhou uma apostila que continha todas as informações do julgamento e um histórico do caso da boate Kiss", detalha o gestor. 

O plano de ação foi apresentado e aprovado pela direção nacional de Jornalismo da emissora. "Nosso time foi montado pensando não só no regional, programação nacional, redes sociais, o SBT News e atendendo as demandas das outras praças, que pedem informações ou entradas ao vivo", comenta Danilo explicando que precisou montar uma equipe externa e interna só para atender os demais Estados, como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Brasília. 

Para trazer ainda mais informação ao telespectador, a emissora gaúcha pensou em um conteúdo extra. "Projetamos uma live diária junto ao SBT News, com conteúdo mais didático e analítico sobre o julgamento. Ontem, nosso primeiro entrevistado foi o advogado Cláudio Britto", esclareceu o gestor. Ele afirma ainda que a parte emocional também é preocupação em uma cobertura deste porte, por isso, conversou com repórteres e apresentadores sobre o assunto. 

A tecnologia no comando

Na primeira mensagem trocada via Whatsapp com a coordenadora de Produção do Correio do Povo, Luciamem Wick, a equipe de Coletiva.net sentiu a emoção da jornalista com o início do julgamento: "O primeiro dia está tão agitado como na madrugada trágica que vitimou 242 pessoas". E para dar conta do giro de informações, a gestora criou dois grupos de WhatsApp achando que seria mais tranquilo. "Uma com todos os jornalistas (repórteres e fotógrafos) envolvidos diretamente com a cobertura e outro da edição. Ocorre que o da cobertura está agitado desde o início da manhã e não vai parar pelos próximos dias. A cada postagem a adrenalina sobe?", afirma, antecipando ao Coletiva.net a conquista do repórter André Malinoski, que conseguiu uma entrevista exclusiva, que será publicada na edição deste domingo, 5, na editoria Diálogos do jornal. 

Segundo a coordenadora, o grupo do Whatsapp aumentou com a chegada das equipes da rádio Guaíba e Record TV, visto que estão unidos na cobertura. Gerenciar os 16 jornalistas envolvidos não é fácil, mas no caso de Lu Winck, como é  conhecida, o mais difícil é administrar o lado emocional: "O editor de Polícia, Paulo Roberto Tavares (à época do incêndio, era repórter), envia mensagens que cortam o coração". Ela contou inclusive que o próprio Tavares pediu para voltar para rua, pois queria ter a oportunidade de acompanhar o desfecho do caso Kiss. 

"A cada depoimento eu choro um pouco lembrando de lá. Sorte que a lente é escura": é por receber mensagens como essas dos repórteres que a emoção invade até mesmo quem ficou na "retaguarda", ao atuar na redação do jornal. "Não sei se não vou sair do jornal e passar lá no Foro depois do expediente", finaliza Lu, a gestora que nunca deixou de ser repórter. 

O momento pede objetividade  

O gerente-executivo de Jornalismo do Grupo RBS, Nilson Vargas inicia a conversa com a equipe do portal afirmando que "com uma equipe de repórteres e editores como a que contamos em ZH, rádio Gaúcha, Diário Gaúcho e GZH, a missão fica bem menos complicada". A cobertura exige desafios e um deles, segundo o gestor, foi procurar focar na parte mais objetiva e relacionada com o processo de retratar os depoimentos das vítimas, por maior que seja a carga emocional dos relatos. 

"Estamos em uma maratona de vários dias e este começo requer nossa capacidade de narrar, relatar, cobrir o que está acontecendo hoje tendo a memória de todo o episódio desde 2013." Nilson acredita que dar este caráter mais objetivo à cobertura, sem desconsiderar a carga emocional que ela tem, é uma forma de cumprir o papel da imprensa de registrar o julgamento como um fato e também para a história. 



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