Coopítulo 84 - Olha a propaganda

Por José Vieira da Cunha

O Coojornal acompanhava também a movimentação na propaganda, como quando, em julho de 1976, anunciou a criação da Ampla, house agency criada pelo Supermercado Real, com a ambição também de trabalhar com outros clientes. "Vamos entrar no mercado para competir", anunciou o publicitário João Francisco de Pinedo Kasper, que dirigia o marketing do Real. Para a empresa, a iniciativa seria apenas mais uma ação de diversificação dos negócios.

O jornal registrou a redobrada surpresa do mercado publicitário quando soube do nome que fora contratado para dirigir a agência doméstica. Tratava-se de Jesus Iglesias, ninguém menos que o próprio presidente da Associação Riograndense de Propaganda, entidade que historicamente havia se manifestado em oposição às agências com controle acionário na mão de clientes. E, ironia multiplicada, para assumir a Ampla ele se demitira da Standard Propaganda, dirigida por Daltro Franchini, então presidente da Associação Brasileira das Agências de Propaganda, outra ferrenha opositora às house agencys.

Dias depois, o vice-presidente da ARP, Waldemar Friederich, renunciou ao cargo por não aceitar que o presidente fosse dirigir uma house. O descontentamento do setor era atiçado pelo temor de que a Ampla, como integrante do grupo Real, então a maior rede de supermercados do Rio Grande do Sul, forçosamente teria poder econômico para atrair as contas de seus grandes fornecedores, além de captar contas atendidas por outras agências. Daí ser vista como uma forma nociva de fazer propaganda. Entre tantas opiniões a respeito da novidade despontava a do publicitário Laerte Martins, diretor da Martins & Andrade. Foi de surpreendente sinceridade ao afirmar temer que Pinedo e Jesus fossem bem sucedidos, o que seria um mau exemplo a ser seguido por qualquer dono de armazém de secos e molhados.

Outro bom exemplo da atenção do Coojornal para com o mercado publicitário está no registro da preocupação da Lojas Renner em relação a sua imagem, após o incêndio destruir seu prédio no centro de Porto Alegre deixando 29 mortos e 65 feridos, em 27 de abril de 1976. Então gerente da MPM, José Antonio Moraes, colega colunista aqui no Coletiva, apontava que o cliente da agência não estava diante apenas de um simples incêndio, mas de um caso muito mais sério, um momento em que cada ação poderia ser interpretada mal, e dar efeitos inesperados, pois estava-se lidando com a emoção das pessoas. Daí a preocupação da empresa no sentido de não fugir de qualquer pergunta apresentada pela imprensa e as ações que tomou para resguardar a imagem, o que envolveu inclusive a suspensão da mídia publicitária. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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