IN FORMA

Por Marino Boeira

Fake news

O projeto de lei número 2630-2020, que pretende punir as chamadas fake news, pode ser um tiro no pé dos segmentos de esquerda que estão defendendo a medida.

As redes sociais constituem uma verdadeira selva onde existe de tudo, mas controlá-la interessa mais ao status quo dominante do que aos que contestam o sistema. Ou seja, interessa mais à Direita do que à Esquerda.

Os excessos e as notícias falsas e tendenciosas, que são muitos, podem ser punidos pela legislação que já existe e para isso não se precisa de mais leis.

É a repetição daquele velho bordão: ao jogar fora a água suja do banho, vão jogar fora também a criança.

A Esquerda deve disputar todos os espaços disponíveis na mídia e não abrir mãos dos poucos aos quais ainda tem acesso.

A possibilidade de ter um espaço de Comunicação ressuscita aquela máxima de Andy Warhol, sobre os 15 minutos de fama que todos teriam direito no futuro.

Mesmo que não sejam 15 minutos, nem que deem fama a um desconhecido, é um contraponto à ditadura da mídia institucionalizada e um espaço para que se ouça um pouco a sua voz.

Os grandes meios de Comunicação, totalmente dominados pela burguesia capitalista, são hoje os principais sustentáculos de um sistema socioeconômico que há muito deveria ter sido expurgado do mundo.

Jornalistas, no geral alienados e de pouco cultura, sempre a serviço de seus patrões, são os instrumentos usados nos meios de Comunicação para a divulgação de uma verdade única sobre tudo que acontece no mundo, da guerra da Ucrânia aos planos de governo do Lula. Desse modo são criadas as unanimidades que garantem a "paz social" e a manutenção de um sistema social e econômico profundamente injusto.

É no mundo anárquico das redes sociais, onde denúncias verdadeiras e fake news delirantes convivem, que está o único espaço para se discutirem as verdadeiras questões que interessam ao povo.

Por isso, o Governo do Lula e o Congresso do Lira e do Pacheco, estão juntos nessa proposta de liquidar com esse espaço, que pode conter muitas impurezas, mas ainda assim é um dos únicos espaços onde o povo tem algum espaço.

A Esquerda precisa de sites alternativos e das redes sociais para fazer ouvir sua voz. Serão, eles, com a nova lei, os mais visados pela nova censura.

Uma ampla e irrestrita liberdade de opinião, mesmo com seus riscos, serve mais à Esquerda do que à Direita, no que o pessoal do PT gosta de chamar, com algum exagero, de Estado Democrático de Direito.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

Comentários