IN FORMA
Por Marino Boeira
MAIS UMA SEMANA PERDIDA
Quem pretendeu formar uma opinião sobre o que aconteceu na politica brasileira durante a última semana lendo, vendo e ouvindo o que disseram os nossos principais veículos de comunicação, se decepcionou totalmente.
O que se publicou foi o anedótico, o superficial, o que mais pareceu um roteiro para uma novela da Globo, sempre com os mesmos personagens, ainda que com outros nomes.
O assunto dominante da semana foi se o Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, passou ou não passou a mão nas coxas da Ministra da Integração Racial, Anielle Franco? Se passou, por que a ministra não reclamou e foi se queixar para a Janja, a mulher do Presidente?
Lula resolveu o problema depois que a Janja deu uma nova versão do simbolismo cristão do beijo de Judas para indicar quem era, no caso, inocente, a Anielle e o culpado, Silvio Almeida.
A versão novelesca do fato mereceu a primeira página dos jornais e o horário mais nobre da televisão e do rádio. No lugar do apontado como assediador, o ex-queridinho da mídia, Sílvio Almeida, Lula se apressou a trazer de Minas uma quase desconhecida com o estranho nome de Macaé Evaristo para ser a nova ministra. Convenientemente é uma mulher negra e se não parecesse preconceito da minha parte, diria que também esteticamente feia.
Resolvido para a mídia a questão da demissão do ministro, ela passou a se dedicar aos seus assuntos prioritários: futebol, eleição em São Paulo , defesa da politica intervencionista dos Estados Unidos na Venezuela e a naturalização do genocídio sionista na Palestina.
Para quem vive no Rio Grande do Sul, dois outros temas interligados entre si, mereceram capas sucessivas do nosso principal jornal, Zero Hora: a Expointer, a grande festa do latifúndio regional e o início da chamada Semana Farroupilha, quando todo mundo fica autorizado a andar pela cidade de bombachas e chapéus de aba larga. Tudo para lembrar mais uma vez a figura de Bento Gonçalves que o historiador Tau Golin chamou de ladrão de cavalos. Para mostrar quanto Zero Hora está distante dos seus leitores ela chama de Parque Maurício Sirotsky Sobrinho - o fundador do grupo de comunicação do qual faz parte o jornal - o local das festanças dos gaúchos de fantasia, que todo mundo conhece como Parque da Harmonia.
Uma vez que o tema é a mídia, não custa relembrar mais uma vez que Zero Hora, essa semana, deu uma página inteira para que um rabino dirigente da CONIB, que vai viver nos Estados Unidos, falasse do seu trabalho em Porto Alegre e sem que o jornalista que assinou a matéria lembrasse, uma vez sequer, de pedir sua opinião sobre o genocídio que Israel pratica na Palestina.
Deixando de lado os regionalismos gaúchos, continua sendo destaque nos meios tradicionais de comunicação, as eleições de São Paulo com o fantasma do crescimento dos representantes da direita, especialmente Pablo Marçal e a ameaça de uma derrota do candidato do presidente Lula, Guilherme Boulos.
O perigo da volta da extrema-direita ao comando do País -(Bolsonaro colocou quase 50 mil pessoas na avenida Paulista no 7 de Setembro) - assusta a esquerda liberal representada pelo PT e seus aliados, mas que continua incapaz de propor uma alternativa democrática e popular para esse avanço.
Nessa hora, restam poucos espaços nos meios de comunicação onde se faça uma leitura racional da realidade brasileira e se proponham medidas concretas para enfrentar a profunda crise econômica, social e cultural em que vive o Brasil.
Um deles é a presença da Revolução Brasileira com as falas do professor de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina e presidente do Instituto de Estudos Latino Americanos, IELA, Nildo Domingues Ouriques, no YouTube. A apresentação dessa semana sobre o crescimento da direita no Brasil é a melhor análise da nossa realidade atual.
Fora isso só resta acompanhar as lutas identitárias dentro do governo Lula, os bate-bocas de nível cada mais baixo nas eleições de São Paulo e as propostas dos nossos marqueteiros nas campanhas de Melo, Rosário e Juliana nas eleições gaúchas.
Eu prefiro me concentrar na esperança de que o Inter finalmente assuma sua condição de grande time do futebol brasileiro e que o grêmio volte para a segunda divisão.
Sou um homem de ambições modestas.