Aluno da Tempestade: Daniel Scola recorda o início da carreira no Jornalismo até o diagnóstico que mudou tudo

Jornalista e escritor emocionou o público com a história da trajetória: "Estou tendo que me reinventar."

"Eu pensava que era um super-homem, que nada me atingiria. Mas me atingiu", disse Daniel Scola, na palestra de encerramento do evento. - Crédito: Coletiva.net

Daniel Scola é jornalista, empreendedor, escritor, pai e sobrevivente. Após um violento câncer e a saída do Grupo RBS depois de 20 anos de casa, o comunicador é recebido ao palco do Summit 'Empreender 40+' com uma onda de aplausos fervorosos, para recontar a própria trajetória e os planos para o futuro. "Vou contar a minha história. A história de um cara que estava no auge da sua profissão, aos 46 anos, e descobriu um câncer. Quase morreu e sobreviveu com muitas sequelas. Então agora, aos 49, estou tendo que me reinventar", introduz. 

A narrativa da fala de Daniel não é linear. Ele começou abordando a principal sequela que atingiu a vida do jornalista após o câncer: a voz. "Vocês já viram alguém com inveja de si mesmo? Sou eu", perguntou, sempre mantendo a leveza, ao mostrar um vídeo de si próprio, antes da doença. "Que voz, hein?", brincou, ao assistir o próprio boletim, gravado em 2020. 

Início de carreira

O palestrante então voltou no tempo para 1994, ano que prestou o vestibular. "Entrei no jornalismo muito por acaso. Nunca tive o sonho de ser jornalista", relembrou. Aos 17 anos, ainda indeciso sobre a escolha da profissão, encontrou um amigo que prestaria para Jornalismo na fila da inscrição do vestibular da Universidade de Caxias do Sul. E foi assim que Daniel Scola entrou no meio da Comunicação, totalmente ao acaso. 

Relembrando seus momentos de timidez na faculdade, contou que não tinha vontade alguma de fazer rádio, e muito menos TV. Até que conseguiu um estágio de seis meses na Rádio Caxias. Daniel recorda a afinidade que passou a sentir pela rádio a partir de então, e que, ao fim da experiência na Rádio Caxias, foi oferecido um estágio no Pioneiro, o jornal de RBS em Caxias, desde que fizesse aulas de locução. "Fiz aula de locução e fui contratado. Aí, gostei tanto, que virei repórter de política", apontou. 

Reiterando temas de outras palestras, o jornalista aborda seus sonhos. "Liguei para o André Machado, que era o então chefe de reportagem da Gaúcha. Disse: 'André, eu tenho um sonho: trabalhar na rádio Gaúcha'", contou, relembrando a ligação. Após uma entrevista feita por fita cassete, Daniel Scola tirou um mês de férias e foi trabalhar na Rádio Gaúcha. Na última semana do período de estágio, foi oferecido uma vaga permanente. Assim, ainda morando em Caxias do Sul e disposto a enfrentar a rotina intensa, antes de eventualmente fazer transferência para a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), tornou-se, oficialmente, repórter da Gaúcha. 

Daniel Scola, repórter internacional 

Ainda na Rádio Gaúcha, o comunicador recordou sua primeira cobertura internacional, em Buenos Aires, na Argentina, onde se destacou por sua desenvoltura em inglês e espanhol. Em 2004, Daniel recapitulou a ida aos Estados Unidos, para a primeira eleição presidencial após o atentado de 11 de setembro de 2001, e a primeira vez que a Gaúcha cobria uma eleição norte-americana. "Ali, comecei a me destacar mesmo. Quatro anos depois, em 2008, houve a eleição do Obama, e também fui para lá." 

Um ano depois, o jornalista morava em São Paulo e fazia estágio na Rede Globo, dessa vez na TV. Recordou, em 2011, o terremoto no Japão. "Pensei: 'coitado do jornalista que vai para lá. O cara vai chegar em dois dias para contar o que nós estamos vendo agora, ao vivo. E aí, toca meu telefone'", brincou. 

Mesmo com barreiras linguísticas, rasgou elogios ao povo japonês: "Não tem igual", disse. Entre as inúmeras coberturas internacionais, no entanto, Daniel afirmou que a mais impactante da carreira foi o Conclave de 2013, que elegeu o Papa Francisco. "Não tem provocação pior para um brasiliero, do que ver um argentino eleito", riu. 

Aluno da Tempestade

Em 2021, após uma cobertura de debate político, Scola se recorda da tontura que sentiu. Em outro momento, no mesmo ano, quase caiu no chão ao tentar pegar a filha pequena no colo. Com resistências atreladas à pandemia e à dedicação extrema ao trabalho, demorou a ir ao médico. "Ignorava a minha saúde, desdenhava a minha saúde", confessou. 

Ao receber os resultados dos exames, o diagnóstico chegou, violento: um tumor no cérebro. O jornalista relembrou, quase incrédulo, que a primeira pergunta que fez ao médico foi: "Quanto tempo vou ficar fora do trabalho?". O que ele pensava que seriam 30 dias, se transformaram em oito meses. 

Depois de quimioterapia, cirurgias e uma hidrocefalia quase fatal que comprometeu a voz e a mobilidade, Daniel pensou: vou escrever um livro para contar a minha história. Assim, surgiu 'Aluno da Tempestade'. "Mas eu não quero que seja uma história triste, de um cara com câncer. Eu coloquei em papel as histórias, as lições, que eu aprendi nesse tratamento."

Esperança e cuidado 

O comunicador fechou a fala celebrando o Sistema Único de Saúde (SUS) e o plano de saúde. Porém, também advertiu à plateia: "Hoje, eu penso em mim. E as pessoas têm que pensar em si. Eu pensava que era um super-homem, que nada me antigiria. Mas me atingiu." O jornalista também informou que está lançando um segundo livro, 'Antes da Tempestade'. 

A palestra se encerrou com aplausos entusiasmados do público, que estava inteiro de pé. Daniel Scola deu, em 25 minutos, uma aula de dedicação, superação, força de vontade e de Jornalismo, em sua mais pura forma. A fala do comunicador fechou a programação do Summit 'Empreender 40+'. 


A equipe de Coletiva net está presente no no Summit Empreender 40+, realizado em 29 de outubro, no Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre. e Comunicação, realizado em Canela, na Serra Gaúcha. Durante a cobertura, participam a gerente de Conteúdo Patrícia Lapuente, a repórter especial e social media Márcia Dihl e as assistentes de Redação Ronise Garcia e Ana Rosa Scheibe, que produzem matérias, entrevistas e bastidores diretamente do local. O público pode acompanhar a cobertura completa no portal Coletiva.net, com repercussões nas redes sociais - incluindo Facebook e Threads - e conteúdos exclusivos no Instagram e drops na Coletiva rádio./

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