IN FORMA

Por Marino Boeira

O INGÊNUO POLÍTICO

Num texto hoje clássico, Bertolt Brecht (1898/1956) descreveu o Analfabeto Político: 'Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

Precisaríamos contar com o talento daquele dramaturgo alemão para descrever um novo tipo de analfabeto político que viceja hoje no Brasil, que poderíamos chamar de "Ingênuo Político". Ele detesta as contradições, abomina a complexidade da atividade política e está sempre atrás das certezas consoladoras. Nessa busca, ele transforma toda a questão política na procura de um personagem que possa sintetizar suas idéias.

No amplo espectro político da nossa sociedade, ele escolhe determinados personagens que de alguma maneira consigam representar o que pensa sobre como deve ser a organização política, social e econômica do país onde vive.

Se ele é de direita e acredita naquela velha falácia de que o importante é "Deus, pátria, família" ele se tornará um bolsonarista radical, defensor de "verdades" definitivas, como por exemplo: " O empreendedorismo é a solução", "O Agro é Pop, o Agro é Tec", um punitivista que diz que "bandido bom é bandido morto". Enfim, um tipo precário intelectualmente e inimigo da cultura.

Seu exemplo de político é Jair Bolsonaro.

Quem se considera de esquerda, faz um tipo mais sofisticado. Diz acreditar na democracia, nos direitos humanos, na liberdade de expressão, mas trocou a luta de classes, pelas lutas identitárias. Expulsou dos seus objetivos de vida a conquista revolucionária do socialismo. O que era uma utopia virou uma impossibilidade definitiva. Em vez do confronto de idéias, prefere a conciliação de interesses.

Seu exemplo político é Luís Inácio Lula da Silva.

Os que não aceitam esse maniqueísmo e criticam a ingenuidade política da visão com tendências fascistas da direita bolsonarista , tanto quanto a ingenuidade política da visão liberal da esquerda lulista, tem hoje um caminho a seguir: lutar pela Revolução Brasileira contra a burguesia e pelo socialismo.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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