Longe dos holofotes

Por Flávio Dutra

Como sofrem os vaidosos longe dos holofotes. Tenho feito essa constatação cada vez a que assisto as muitas participações de Galvão Bueno em programas da Globo, ou entrevistas do ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello, só para citar dois exemplos. Parece que precisam recuperar o tempo perdido e viram verborrágicos, opiniáticos e plenos de recordações de feitos em que foram protagonistas. Sem as necessidades de se policiar, fazem revelações até então zelosamente guardadas em sigilo e não poupam os desafetos. Agora o Galvão, que devia estar sofrendo pra caramba, anuncia que terá um quadro tipo "tem gente que vai chorar" na programação de sábados pela manhã na Globo. Não me surpreenderei se a próxima etapa for a participação dele no BBB.

Fico imaginando também aqueles personagens da política que tiveram grande exposição midiática e, de repente, somem do noticiário porque perderam poder e suas opiniões não interessam mais. Assim, de pronto, lembro do ex-presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, apelidado jocosamente de Nhonho (personagem da série Chaves) e aquele senador do Paraná que ficou com a cara do Coringa dos filmes do Batman, ambos presenças constantes no Jornal Nacional tempos atrás. Onde andam esses ex-notáveis?  

Nem vou registrar os ministros de Estado que deitaram falação em tempos idos ou recentes. É tanta troca que fica difícil nomear todos os casos, mesmo os mais folclóricos como o Weintraub e a Damares, que ganhou uma sobrevida da visibilidade no Senado. Alguns foram para o limbo, prontos para retornar ao primeiro clamado do poderoso de plantão. Outros, a maioria, vivem o inferno do esquecimento. Tem também os casos dos que eventualmente ressurgem na mídia pelas operações da PF, mas isso merece outra abordagem. Imortal mesmo só a Marta Suplicy, que para se manter na onda, troca tanto de partido como de marido.

No meio artístico isso é mais terrível ainda. O pessoal vive da sua exposição, que alimenta seus egos e seus ganhos. O que seria da Ivete Sangalo sem a permanente presença na programação da Globo? Certamente abriria uma bem sucedida banca de acarajés no Pelourinho. Idem o Padre Fábio de Melo, que precisaria voltar a uma paróquia, reaprender a rezar missa e ministrar sacramentos. As figurinhas carimbadas têm prazo de validade, porque logo surgem novos aspirantes ao estrelato e à voracidade da mídia. Os brothers e sisters dos BBBs que o digam.

Já os artistas da teledramaturgia, especialmente no naipe feminino, sofrem cruelmente com a passagem do tempo: a então mocinha da novela, mais adiante vira mãe de outras mocinhas e logo em seguida tem que se contentar com papéis de vovozinha amorosa ou perversa. É preciso muito talento para suportar essas inevitáveis adversidades na carreira, mas pelo menos não perdem a exposição na telinha. Mas pra quem não fez o pé de meia, a etapa seguinte é o Retiro dos Artistas e o ostracismo.

A essa altura vocês imaginam que fico agourando tanto os famosos como as subcelebridades, que sou um invejoso da fama alheia. Nada disso. No máximo, sou um rabugento do bem, aquele que apenas sugere aos produtores e editores da mídia para diversificarem suas atrações nos programas e noticiários. Os mesmos de sempre vão aguentar ficar longe dos holofotes um pouco mais.

(E continuo sem saber porque a goiaba é associada a caduquices em geral, assunto da coluna da semana passada)

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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